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O faroeste furtivo de Desperados III — Review

Funcionando como um grande quebra-cabeça disfarçado de RTS furtivo, Desperados III é uma bela surpresa e que agradará quem gosta de um bom desafio

4 anos atrás

É curioso, mas apesar de adorar faroestes, eu nunca consegui me interessar muito pela série Desperados. Acho que a explicação para isso era uma ideia preconcebida de que ela não passava de uma cópia sem muita personalidade da franquia Commandos. No entanto, mesmo após todos esses anos a ignorando, foi com grande expectativa que aguardei pelo o seu novo capítulo, o Desperados III.

Desperados III

Sendo uma das muitas franquias que a Nordic Games (hoje THQ Nordic) adquiriu nos últimos anos, coube à Mimimi Games a dura tarefa de tentar resgatar uma marca tão adorada por alguns e o que posso dizer sem cerimônias, é que o estúdio alemão conseguiu!

Com 14 anos tendo se passado desde o lançamento do Desperados 2: Cooper’s Revenge, o primeiro acerto dos novos responsáveis pela série foi fazer do Desperados III um prequel. Desta forma a desenvolvedora eliminou a necessidade de termos que conhecer o universo em que o jogo se passa, servindo como uma ótima porta de entrada para novos jogadores e explorando uma parte da história que os fãs não conheciam.

No jogo seremos John Cooper, um garoto que está acompanhando seu pai numa invasão a um esconderijos de bandidos. Ainda sem experiência, logo o homem decide que o jovem não está preparado para aquela missão e somos transportados para vários anos no futuro, com John agora tendo que impedir o assalto a um trem.

Valendo-se de vários clichês típicos do Velho Oeste, eu não posso dizer que a história do Desperados III conseguiu me prender. O destaque aqui fica para o relacionamento entre o protagonista e os quatros personagens que nos acompanharão durante a aventura, com os diálogos entre eles sendo interessantes e por vezes engraçados.

Por outro lado, algo que quebra um pouco a imersão é o fato das conversas acontecerem mesmo com eles estando a muitos metros distância, sem que exista um aparelho de comunicação para isso. Tudo bem, acho que podemos considerar essas “conversas telepáticas” como uma licença poética, uma maneira de incrementar o enredo, mas não deixa de ser um tanto estranho.

Xeque-mate, Mr. Cooper!

Mas não pense que esses personagens servirão apenas como meras companhias para bate-papo. Em Desperados III, cada membro da nossa gangue contará com qualidades e desvantagens específicas. Haverá por exemplo aqueles que conseguirão escalar, os que carregarão inimigos abatidos mais rapidamente ou os que não podem nadar. Contudo, é nas habilidades especiais que eles se destacarão.

De um sujeito capaz de acertar os inimigos a longas distância com seu rifle de precisão, a uma senhorita que consegue usar disfarces para passar despercebida ou outra com capacidade de usar magia negra para unir dois inimigos, explorar os recursos do grupo será essencial durante as missões, cabendo ao jogador experimentar e usar a criatividade.

Essa variação de habilidades se tornará ainda mais importante ao executarmos ataques sincronizados, o que é possível graças ao sistema do jogo conhecido como Showdown. Com ele seremos capazes de deixar o jogo suspenso para definirmos quais as próximas ações os personagens executarão. Desta forma poderemos, por exemplo, mandar um deles correr para um arbusto enquanto o outro esfaqueia alguém que poderia nos identificar.

Esta mecânica é muito interessante, porque apesar deste ser um jogo de estratégia em tempo real, o Showdown nos permite ter um tempo para pensar e disparar uma série de eventos em cadeia. O problema é que para serem bem executados, os planos terão que ser muito bem pensados, antevendo os movimentos dos inimigos e torcendo para que cada passo funcione como imaginado. É como se fosse um grande jogo de xadrez, onde as peças serão movidas no tabuleiro e mesmo achando que fizemos tudo como deveria, nem sempre veremos o desfecho que gostaríamos.

Viver e morrer no Oeste

Portanto, se você não gosta de fracassar enquanto joga, talvez o Desperados III não seja para você. Por se tratar de um jogo onde a furtividade é parte essencial da jogabilidade, saiba que a tentativa e erro te acompanharão durante toda a progressão. É comum nos depararmos com situações em que avançar sem sermos notados parece impossível, só para minutos depois buscarmos outra abordagem e percebermos como ela era muito mais simples.

Aliás, aqui o jogador sempre será incentivado a buscar alternativas, a “pensar fora da caixa”, com o brilhante design das fases oferecendo diversos caminhos e as mais variadas soluções. Isso fica claro ao termos um botão do controle dedicado à realização de um salvamento rápido, com um marcador aparecendo na tela sempre que passamos muito tempo sem gravarmos o nosso progresso.

Confesso que num primeiro momento me incomodou essa ideia de termos que repetir o mesmo trecho por diversas vezes, mas logo entendi que a proposta do jogo é justamente servir como um enorme quebra-cabeça, com seus estágios funcionando como dioramas onde a experimentação não só é bem-vinda, como fortemente incentivada.

Mas quando faço esta analogia com miniaturas de cenários, não digo isso de maneira pejorativa. Com as fases sendo muito bonitas e estando repletas de detalhes, a ambientação é muito boa e não se surpreenda se você demorar algumas horas para concluir um estágio. O jogo ainda aumenta o fator replay ao colocar uma série de desafios interessantes, como por exemplo fazer com que a morte de quatro figuras principais pareçam acidentes; cuidar para que todos os civis escapem ilesos ou não salvar durante a missão.

Uma confusão de comandos

Muitas pessoas defendem a opinião de que jogos de estratégia não funcionam com controles. Embora eu já tenha experimentado alguns títulos do gênero que foram muito bem adaptados para esse tipo de periférico, no caso do Desperados III eu não diria que esse objetivo foi alcançado. Com isso não estou afirmando que o jogo não funciona desta maneira, mas que a experiência como um todo não é tão agradável quanto poderia ser.

Já no início seremos bombardeados como uma grande quantidade de comandos que serão necessários para realizarmos tarefas simples e mesmo depois de várias horas dedicadas ao game, vez ou outra ainda acabo tendo que pensar por alguns segundos antes de realizar alguma ação.

Eu entendo a dificuldade em adaptar um jogo com tantos comandos para algo tão limitado quanto um gamepad, mas me incomoda a ideia de que apenas para mudar de personagem preciso entrar num menu radial e fazer a seleção. Muitas vezes a minha intenção era simplesmente saltar de um para o outro de maneira rápida e por isso acredito que este menu poderia ser ativado ao segurarmos o R1/RB, com o simples toque nele fazendo a troca instantaneamente.

É verdade que com o tempo esse problema diminui, mas ainda assim não posso dizer que o sistema de controles seja intuitivo. De qualquer forma, fico feliz por ter a oportunidade de jogar algo assim nos consoles, mesmo porque essas plataformas não costumam receber títulos de estratégia em tempo real.

A satisfação gerada pelo desafio

Uma das melhores coisas que um jogo pode fazer é nos surpreender e com o Desperados III foi justamente o que aconteceu comigo. Mesmo não sendo fã da franquia, estava curioso para ver como um jogo assim se sairia nos dias atuais e felizmente posso afirmar que a impressão deixada por ele foi a melhor possível.

Podemos dizer que este é um jogo sobre paciência, persistência e frustração, o que provavelmente afastará quem gosta de ação desenfreada. Porém, a satisfação que sentimos após concluir um desafio é algo difícil de descrever e mais difícil ainda de ver sendo bem aplicado nesta mídia. É a felicidade ao descobrir que a bebida de um inimigo poderia ser envenenada; é matar diversas ameaças usando uma parte do cenário; é perceber que um caminho alternativo poderia facilitar muito a nossa vida.

Tudo bem, o enredo de Desperados III é irrelevante, seus personagens são um conjunto de estereótipos e o sistema de controles (nos consoles) é pouco intuitivo. Ainda assim, com designs de fases tão fantásticos e um nível de dificuldade desafiador — embora longe de ser injustos — este é o tipo de jogo que deixa a sensação de querermos jogar só mais um pouco, passar só mais um trecho e querer dar um grito de alegria ao conseguirmos avançar.

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