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Camelot 3000 - O Clássico dos Quadrinhos que precisa virar série

Camelot 3000 é um clássico dos quadrinhos dos Anos 80, uma versão futurista e estranhamente adulta da Lenda do Rei Arthur, e merecia muito ser redescoberta

4 anos atrás

Camelot 3000 foi uma grande aposta da DC Comics, algo que fugia completamente da fórmula tradicional de gibis de super-heróis. Ousada para seu tempo, a maxi-série de 12 edições até hoje se sustenta, inclusive nos temas polêmicos, que ainda continuam polêmicos.

Escrita por Mike W. Barr, Camelot 3000 originalmente foi apresentada para a Marvel, que aprovou depois desaprovou a história, mas felizmente a DC estava atrás de histórias para sua nova linha de títulos em modelo de venda direta para as lojas de quadrinhos.

Como ainda não tinham inventado isso de apropriação cultural, ninguém reclamou de um americano de Ohio, Mike Barr, escrever uma história passada principalmente na Europa, e fortemente baseada na lenda do Rei Arthur.

A parte complicada mesmo era que Brian Bolland, o ilustrador, era inglês e morava na Inglaterra, e em 1982 a colaboração entre os dois era difícil, nessa época se bem me recordo a forma mais rápida de atravessar o Atlântico ainda era de caravela e trocar mensagens consistia em escrever uma carta, colocar dentro de uma garrafa e jogar no oceano.

Mesmo assim eles conseguiram. Com um certo atraso, Camelot 3000 foi publicada em 12 edições, entre dezembro de 1982 e abril de 1985. Atrasou um tiquinho, mas valeu a pena.

A História

Passada no ano 3000, o mundo está vivendo uma aparente utopia, com carros voadores, roupas futuristas segundo os Anos 80, o pacote todo, mas surge uma invasão alienígena de uma raça insectóide e misteriosa.

Tom Prentice, o jovem protagonista perde os pais durante um ataque, e vai parar em uma escavação em Glastonbury Tor, um morro que tem profundo significado místico, tendo sido apontado como a localização de Avalon.

Glastonbury Tor. Sim, existe.

Lendas dizem que em 1191 os caixões do Rei Arthur e da Rainha Guinevere foram encontrados lá. Também dizem que é o local aonde o Cálice Sagrado está escondido, o que é uma bobagem, todos sabemos que está em Alexandreta.

No interior do morro, Tom descobre uma tumba, tenta abrir o sarcófago em busca de algo pra se defender dos aliens, quando de dentro dele surge... Arthur Pendragon, que rapidamente despacha os insetosos invasores.

Junto com Tom eles seguem para Stoneheng, aonde Arthur invoca Merlin, aprisionado por uma súcubo. Ou súcuba? Sucuboa.

O Rei Arthur prossegue até uma usina nuclear, aonde a Dama do Lago devolve a ele Excalibur, que desaparece em seguida para surgir na sede da ONU, encravada em uma pedra. Diante de todas as delegações, Arthur remove a espada da pedra, demonstrando sua realeza.

Aqui uma curiosidade: Na imensa maioria das versões, Excalibur NÃO é a espada na pedra, que Arthur remove ainda criança. O autor recriou o momento por ser uma imagem muito forte e clássica, só isso.

Merlin usa seus poderes para reviver os outros membros da Távola Redonda, mas um feitiço misterioso o impede. Arthur tem que ir pessoalmente atrás deles, que agora estão reencarnados em habitantes do ano 3000.

Muito antes de ser moda, e antes mesmo de ser obrigatório, Camelot 3000 capricha na diversidade. A Rainha Guinevere é uma comandante militar das forças de defesa da Terra, longe de ser mocinha indefesa. Os cavaleiros estão espalhados pelo mundo.

Sir Lancelot é um bilionário francês, Sir Galahad é um guerreiro japonês meio samurai, Sir Percival é um homem comum que por ter cometido um crime é transformado em um monstro grotesco (falei que não era utopia), Sir Gawain é um negro sul-africano, mas a grande mudança é Sir Tristão.

Por alguma ironia do destino ele reencarna em uma mulher, e isso afeta profundamente a trama, com o personagem não aceitando seu corpo, os amigos estranhando a mudança e mesmo o Rei Arthur tratando-o de forma condescendente, por “ser mulher”.

Tristão é chamado por seu nome antigo, “Carmen” várias vezes e Tom Prentice insiste em que tenham um relacionamento romântico. Tristão por sua vez descobre que Isolda, sua antiga paixão está viva e continua sendo mulher, o que o deixa mais ainda transtornado, a ponto de fazer um pacto com as forças malignas para voltar a ter um corpo masculino.

No final Tristão aceita seu destino, Isolda mostra que não se importa com o corpo dele, e rola até uma cena de sexo do feliz casal, cena essa que foi devidamente censurada pela Editora Abril na edição brasileira.

A editora americana não reclamou, mas Mike Barr diz que recebeu várias cartas de meninos confusos com duas moças fazendo saliência sendo que uma era moço por dentro. Já as moças que eram moços por dentro adoraram a rara chance de ver alguém como elas sendo tratada como herói da história.

Ao mesmo tempo a lenda arthuriana era devidamente repetida, como boa lenda, e o triângulo amoroso entre Arthur Guinevere e Lancelot também se repetiu. Corno pela segunda vez, o Rei tem que se decidir se corta a cabeça do rival ou aceita o chapéu de touro e usa Lancelot para juntos derrotarem o inimigo.

Inimigo essa que é a poderosa feiticeira Morgana Le Fay, que de feia não tinha nada, e junto com Mordred, filho bastardo de Arthur, controlam a invasão.

Morgana Le Fay, a bruxinha que era boa.

O grupo acaba em Plutão, que no ano 3000 voltou a ser um planeta (fuck you Neil DeGrasse Tyson) e lá ocorre a batalha final, quando Arthur se sacrifica, mas não sem antes demonstrar todo o Poder de Excalibur.

Camelot 3000 foi uma rara oportunidade para num meio normalmente efêmero, termos desenvolvimento de personagens, em vários momentos não sabemos se Tristão irá ou não trair Arthur. As forças terrestres ficam relutantes em aceitar o comando do Rei, e isso é aproveitado por Morgana. Tom Prentice começa como um jovem meio abobado que entrou de gaiato na história, e termina como um legítimo cavaleiro, inclusive aceitando a condição de Lady Tristã.

Arthur Pendragon, Rei de toda a Inglaterra e também da Cornualha.

Sem a pretensão de mudar o mundo, Camelot 3000 foi uma lição e tanto de que a honra de um cavaleiro está em seu coração e seus atos, não em sua aparência, lição essa que não foi forçada, não foi ensinada com mão pesada, apenas fez parte de uma história maior, com cavaleiros, aliens, pewpewpew e tudo mais que meninos dos anos 80 gostavam de ler.

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