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Crew Dragon pousa com astronautas na Flórida

A Crew Dragon, nave espacial tripulada da SpaceX voltou depois de mais de dois meses no espaço, encerrando com sucesso sua missão de certificação

3 anos e meio atrás

Parece que foi ontem, mas foi 30 de maio de 2020 que a Crew Dragon subiu para a Estação Espacial Internacional, levando Douglas G. Hurley e Robert L. Behnken, dois experientes astronautas da NASA.

Agora, depois de 63 dias 9 horas e 88 minutos acoplada à ISS, a Dragon voltou para a Terra, encerrando a missão DEMO-2, formalmente tornando operacional a cápsula da SpaceX.

Foi a primeira vez desde 21 de julho de 2011 que americanos pousam do espaço por meios próprios, e nada menos que quarenta e cinco anos desde o último pouso de uma cápsula espacial dos EUA, ao final da missão Apollo-Soyuz em 24 de julho de 1975.

A manobra começou com os astronautas fechando a escotilha frontal da Dragon. Em seguida são fechadas as escotilhas internas do módulo de acoplamento da ISS. Verificam se não há nenhum vazamento de ar.

Os ganchos que prendem a Dragon à comporta são recolhidos, e um gentil, delicado, tenro e criado por vó jato de manobra é acionado para afastar a nave leeeentamente da Estação. Isso é importante por dois motivos: Primeiro, para evitar qualquer tipo de contato não-desejado, i.e.  Colisão.

Segundo, os jatos de manobra usam Monometilhidrazina e Tetróxido de nitrogênio, você não quer essas coisas espalhadas na superfície de sua estação espacial. Por isso os jatos frontais não são usados, mas os laterais, a força aplicada não é tão eficiente, mas só precisa de um toquinho.

Os motores usados são os Draco, a Dragon tem 16 deles. Individualmente são bem fracos, 400 Newtons, isso equivale à força que você faria segurando a Sandy no colo na superfície da Terra.

Após se afastar algumas dezenas de metros, a Dragon executou outra manobra, uma com uma finalidade bem mais sinistra: Alterar a órbita pra caso algo dê errado e a Dragon fique sem controle, ela não se choque com a Estação. Assim os astronautas podem morrer de fome sede ou falta de Oxigênio, sem arriscar uma colisão.

Nessa órbita de segurança eles começam os preparativos para o retorno, que pode levar até dois dias dependendo das condições orbitais, mas em geral leva bem menos.

Espaço eles tinham, a Dragon leva fácil sete astronautas.

Como não estavam com pressa, eles desacoplaram às 23:35 de 1º de agosto e pousaram 19 horas e treze minutos depois, e aproveitaram que a Dragon é extremamente automatizada, chegaram a dormir enquanto a danada manobrava sozinha.

Claro, na hora da reentrada os dois estavam bem acordados, reduzir 28500Km/h para apenas 400Km/h exige que você drene muita energia na forma de calor, e para isso a Dragon depende de um escudo térmico, mas não um escudo comum, ela usa um escudo PICA, ou mais precisamente PICA-X, de Phenolic Impregnated Carbon Ablator, tecnologia da NASA aperfeiçoada pela SpaceX.

Elon Musk e um escudo PICA

Esse escudo é carbonizado pelo calor gerado pela pressão do ar durante a reentrada (e não fricção, o aumento de temperatura vem do ar comprimido, pelo exato mesmo motivo que uma bomba de bicicleta esquenta na nossa mão), a superfície carbonizada é um excelente isolante térmico. Ao mesmo tempo o ar em altíssima velocidade arranca pedaços dessa superfície, expondo a parte intacta do escudo, reiniciando o ciclo.

Isso drenou o excesso de velocidade, a Dragon está caindo a apenas 560Km/h. A mais ou menos uns 5Km de altitude os paraquedas auxiliares são abertos, garantindo que a cápsula está na orientação correta e estabilizada. Eles também diminuem -um pouco- a velocidade, mas pouca coisa. O grosso da desaceleração ainda é pela resistência do ar, e a 200Km/h e a 1,5Km de altitude, os quatro paraquedas principais são acionados.

Alô criançada a Dragon pousou

O pouso foi preciso, os barcos estavam a minutos de distância

Mais alguns minutos e a Endeavour -o nome da cápsula- amerissa com sucesso próxima à costa da Flórida, na altura de Pensacola. Infelizmente não havia somente embarcações da SpaceX à espera. Segundos depois que os dois botes com técnicos da SpaceX se aproximaram da cápsula, foram cercados por uma frota de curiosos em barcos de passeio.

Foi um festival de horrores, tinha até barco com bandeira do Trump. A Guarda Costeira se mostrou ausente como nunca. Quando o GO Navigator, um dos barcos de resgate da SpaceX guinchou a cápsula e começou a rumar para o porto, os barcos intrusos vieram atrás.

Dragon sendo recolhida, com os barcos enxeridos ao fundo.

Dragon sendo recolhida, com os barcos enxeridos ao fundo.

Uma contaminação de Tetróxido de Nitrogênio, mesmo pequena fez com que fosse preciso ventilar a nave, atrasando a saída dos astronautas, que enquanto esperavam aproveitaram que a Dragon é equipada com telefonia via celular da Iridium, e ficaram passando trotes pra todo mundo que conseguiam lembrar o número.

Fãs do homem laranja malvado aporrinhando a recuperação da Dragon.

Fãs do homem laranja malvado aporrinhando a recuperação da Dragon.

Depois de tudo checado conferido e certificado, foi dada a ordem e os técnicos abriram a escotilha, o que exige ferramentas especiais, pois é imperativo que aquela escotilha NÃO abra com a nave no espaço. Mas não se preocupe, depois do acidente da Apollo I essas escotilhas são equipadas com fechos explosivos, se algo der muito errado sempre dá pra explodir a danada e sair correndo.

Dentro da Dragon cabem sete com conforto.

Sim, a Dragon é tão grande que cabe um fotógrafo dentro.

No rádio uma operadora falou as palavras histórias: "Bem-vindos de volta e obrigado por voar pela SpaceX".  Foi inaugurada a era dos voos espaciais de empresas privadas, com a NASA contratando o carreto, e a SpaceX fazendo o resto, como já acontecia com os voos de carga.

Com isso a Agência pode se concentrar muito mais em ciência e pesquisa, deixando para as empresas o trabalho mais mundano.

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