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O curioso plano para transformar Hitler em mulherzinha

Um dos muitos planos para acabar com Hitler envolvia transformá-lo em... mulher. Parar surpresa de ninguém, não deu certo

3 anos e meio atrás

Gostamos de imaginar, ou ao menos gostam de vender a Segunda Guerra Mundial como um monte de heróicos heróis lutando bravamente contra Hitler, americanos com sua tecnologia, russos com seus bravos soldados, ingleses com sua inventividade, mas na realidade guerra vence quem erra menos, quem comete menos besteiras, o que não quer dizer que não haja muita, muita besteira. Como esses dois planos “geniais”:

Hitler Menina (Crédito: Domínio Público / Carlos Cardoso - Eu sei, sou um ás no Photoshop)

A ideia de derrotar Hitler e Império Japonês por si só não é ruim, mas entre projetos vencedores como o barco Higgins e o Projeto Manhattan, os aliados criaram muita coisa esquisita, questionável mesmo.

A fonte da maioria das ideias mirabolantes para dar cabo de Hitler era o OSS – Office of Strategic Services, o departamento de inteligência que mais tarde daria origem à CIA.

Comandado por  William “Wild Bill” Donovan, o OSS foi responsável por missões de espionagem que ainda são secretas, infiltraram agentes nas profundezas do Terceiro Reich, descobriram e fomentaram focos da Resistência e tinham todo tipo de gadgets, incluindo bombas disfarçadas de ratos e pedras de carvão explosivas, usadas para sabotar caldeiras inimigas.

Agente do OSS em filme de treinamento. Sim, eles adoravam um melodrama. (Crédito: CIA)

Um dos principais inventores do OSS foi Stanley P. Lovell químico e cientista-chefe da organização, carinhosamente apelidado de Professor Moriarty.

Sua ideia mais estapafúrdia provavelmente envolveu algo que a gente não pensa muito (espero!): a sexualidade de Adolf Hitler.

Os psicólogos de Lovell criaram um perfil de Hitler aonde ele estaria mais na coluna do meio (no bom sentido) do que no extremo da masculinidade. Eles teorizaram que isso era causado por algum desequilíbrio hormonal, que pode ou não ter a ver com a velha lenda de que Hitler só tinha um testículo, ao invés dos três normais (3 é normal, certo?)

Com isso em vista, surgiu a ideia de dar um empurrãozinho pra ajudar o bom e velho Adolf a mudar de lado. Com doses de estrogênio adicionadas secretamente à sua comida, Hitler começaria a adquirir características femininas.

Ele começaria a ficar com voz fina, tal qual advogados da TELERJ, seus pelos faciais seriam afetados: O famoso bigode iria cair. Com sorte ele inclusive desenvolveria seios.

Seu temperamento se tornaria mais dócil, menos beligerante (os cientistas obviamente não conviviam muito com mulheres) e sua capacidade estratégica seria igualmente afetada.

O povo alemão e os altos-oficiais do Terceiro Reich perderiam o respeito por seu líder agora que ele virou uma mulher, a Alemanha de 1943 não estava pronta pra Angela Merkel.

Alguns perguntariam “Ah, mas se os Aliados conseguissem acesso ao almoço de Hitler, não era mais fácil envenenar o cara?” Não. Hitler não era burro, ele usava vários provadores para experimentar tudo que ele comia.

Sopão do Adolfo (Crédito: Heinrich Hoffmann - domínio público)

Mesmo que conseguissem subornar um assistente de cozinha para envenenar o croquete de Hitler, o plano seria descoberto antes. Já dosar saladas com hormônios femininos passaria despercebido, no máximo alguns provadores de comidas começariam a perceber diferença entre branco, branco-gelo e marfim, e demorariam três vezes mais tempo no Shopping.

NOTA: Uma persistente lenda urbana diz que Hitler era vegetariano. Por mais atitudes questionáveis que ele tenha tido em sua vida, não é justo esse tipo de calúnia. Hitler não comida muita carne, mas nunca advogou vegetarianismo.

Aqui a História diverge. Algumas fontes dizem que o plano nunca passou da fase teórica. Outras fontes dizem que o OSS chegou a subornar o jardineiro de Hitler para injetar nas cenouras fresquinhas colhidas da horta doses cavalares de hormônios femininos.

Como nada aconteceu, especulou-se que os provedores acharam algum gosto estranho nas cenouras ou, mais provável, o jardineiro embolsou a grana do OSS e jogou o hormônio fora.

Entram as raposinhas

Uma Firefox, que não tem nada a ver com raposas come memória pra caramba mas eu acho fofo. (Crédito: Flickr - domínio público)

Uma outra ideia de jerico do OSS envolve Japão, raposas e racismo, e foi tão fora do normal que até Bill Donovan achou demais e cancelou o projeto.

O conceito todo surgiu de perfis psicológicos da população japonesa, o que a princípio é uma boa estratégia, conhecer seu inimigo é fundamental, mas os perfis foram todos contaminados com a visão ocidental racista de que japoneses eram inferiores física e mentalmente. Há um texto famoso que descreve os soldados inimigos como baixinhos, com pernas tortas, dentes saltados, com visão ruim.

How to Spot a Jap (Crédito: United States Navy and Army)

O soldado que desembarcou no Pacífico acreditando nisso não voltou.

Nota: Não precisa se sentir mal, a propaganda de guerra Japonesa era igualmente racista, com um monte de estereótipos ofensivos sobre os soldados americanos. Guerra é guerra, afinal.

Só que os pesquisadores do OSS se deixaram contaminar pela propaganda, levando tudo que aprendiam sobre o Japão ao pé da letra. E então deram de cara com o conceito de Kitsune, que é “raposa” em japonês.

Culturalmente raposas são muito populares no Japão, apesar da falta de tentáculos. Elas são vistas como animais místicos, algumas lendas dizem que todas as raposas são mágicas e podem assumir forma humana. Em outras histórias raposas são entidades que praticam travessuras.

Também há Kitsunes do mal, que possuiriam o corpo de uma pessoa, exigindo uma cerimônia de exorcismo para se livrar do espírito maligno raposístico.

Xilografura doPríncipe Hanzoku aterrorizado por uma raposa de 9 caudas (Crédito: Utagawa Kuniyoshi - circa Século XIX)

O ponto em comum é que essas lendas todas são exatamente isso, lendas, folclore. As raposas místicas estão presentes em algumas religiões, mas são vistas como alegorias, coisa que o pessoal do OSS não entendeu.

Eles acharam que todo mundo no Japão acreditava nas Kitsunes, o que é o mesmo que achar que todo mundo nos EUA acredita na Arca de Noé. O que é um absurdo, só 60% dos americanos acredita nisso.

Ed Salinger, autor da ideia e “estrategista de guerra psicológica” imaginou que se um monte de japoneses começassem a avistar Kitsunes, isso causaria pânico na população, afetando a moral, a produtividade da indústria bélica, etc. Mas como fazer isso?

Primeiro eles pensaram em criar apitos que fizessem sons de raposas, que seriam usados de aviões e por soldados em terra. Junto, foi produzida uma essência que imitava o cheiro de uma raposa.

As duas ideias partiam do princípio (errado, claro) que o japonês médio sabia como uma raposa cheirava, e que barulho elas faziam. E sim é um barulho bem esquisito.

Agora chamado de Projeto Fantasia, a obsessão com raposas foi além; decidiram que iriam lançar no Japão milhares, ou pelo menos centenas de raposas, mas não das comuns, e sim raposas que brilham no escuro.

Hoje é fácil, é só ir pra Chernobyl com uma rede, mas na época ainda estavam dois anos antes da existência da primeira raposa japonesa radioativa. O jeito era improvisar.

Mais pesquisa e descobriram que a melhor forma de fazer raposas que brilham no escuro era mesmo com radiação, usado algo que em 1943 já era sabidamente ruim pra saúde: Tinta fosforescente com Rádio.

As garotas do rádio, trabalhando sem nenhuma proteção. Circa 1922 (Crédito: Domínio Público)

No começo do Século nos EUA centenas de moças tiveram mortes horríveis, desfiguradas por radiação. Elas trabalhavam na confecção de mostradores de relógios e outros instrumentos, com os algarismos pintados com tinta feita de Rádio, o elemento químico descoberto por Pierre e Marie Curie em 1898.

O próprio termo “radioatividade” vem do Rádio, embora o efeito tenha sido descoberto antes.

As tais moças usavam pincéis com a tinta radioativa. A médio prazo isso causaria lesões nas mãos, mas nada fatal; Rádio emite principalmente partículas Alfa e Beta que são núcleos de Hélio e elétrons. Uma folha de papel bloqueia partículas Alfa, mas o erro foi que as meninas foram instruídas a molhar os pincéis na boca, para afinar as pontas.

Dentro do organismo, o Rádio se espalha causando dano celular extenso.

Não lamba seu relógio. (Crédito: Arma95 - wikimedia)

Mesmo assim, o OSS insistiu, e contratou Harry Nimphius, do Zoológico do Central Park. Ele ajudou a testar várias fórmulas de tintas, mas como raposas não são muito cooperativas, usou um guaxinim, que foi pintado repetidas vezes com tinta radioativa, o que seria uma excelente história de origem para o Rocket.

Próximo passo: Fizeram um teste de campo soltando trinta raposas pintadas em um subúrbio de Washington. Os residentes ficaram assustados, vários ligaram para a polícia avisando do avistamento de “animais fantasmas”.

Como raposas são péssimas paraquedistas, o plano foi alterado para soltar as bichinhas de um submarino, mas ficou a dúvida: Raposas sabem nadar? O veterinário disse que sim, mas para comprovar o OSS soltou várias raposas pintadas de um barco, na costa de Washington.

Apesar do frio elas nadaram direitinho para a costa, revelando um problema: A tinta saiu quase toda com a água do mar e o que ficou, as raposas lamberam, o que foi péssimo pra elas, pois mesmo com advogados as moças do Rádio só conseguiram ser indenizadas em 1939, depois de oito julgamentos e uma decisão da Suprema Corte. Imagine um bando de raposas que provavelmente nem sindicalizadas eram.

Raposinha 3 (Crédito: Domínio Público)

O plano das raposas começou a fazer água, mas Salinger continuava suas “pesquisas”. Certa hora ele avisou que tinha descoberto uma raposa mais assustadora ainda no folclore japonês: Agora o OSS teria que criar uma raposa empalhada com um crânio humano na cabeça; um mecanismo faria a mandíbula abrir e fechar. A raposa-assombração flutuaria graças a um balão ou uma pipa, pendurada na frente de um pano preto e-ok já deu pra entender que o sujeito estava obcecado.

Uma última sugestão de Salinger foi recrutar agentes simpatizantes dos EUA para fingir que estavam possuídos por espíritos de raposas malignas.

Nesse ponto Stanley Lovell chamou uma reunião e recomendou, como cientista-chefe que o Projeto Fantasia fosse encerrado. Salinger conseguiu ir longe demais, criando uma ideia ridícula o bastante para ser condenada pelo sujeito que queria dar peitinhos a Hitler.

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