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Na trilha de Picard, CBS está preparando Star Trek: Sisko

Benjamin Sisko está de volta. Ao menos é o que a CBS quer, ao planejar uma série solo com o amado personagem de Deep Space Nine.

3 anos atrás

O pseudo-trekker que reclama hoje que Discovery não é Star Trek está errado em vários níveis, mas principalmente não tem idéia de como a franquia foi abalada com a chegada de Benjamin Sisko e Deep Space Nine.

Ezri Dax. Não se deixe enganar, por fora é um rostinho bonito, por dentro é um verme. (Crédito: Startrek.com)

Discovery tem problemas sérios com personagens e a Michael Burnham é insuportável, mas colocando no papel a série é muito mais alinhada aos ideais de Star Trek do se que imagina. Ao contrário, Deep Space Nine quando foi lançada foi renegada por muitos fãs, e vista como uma série maldita, que ignorou e renegou os Ideais de Roddenberry.

O fandom na época tinha um problema sério com cor, mas não estou falando do capitão negro, o problema é que Deep Space Nine introduziu o cinza em um mundo preto-e-branco aonde a Federação era boazinha em sua essência.

Esse dia foi louco (Crédito: Startrek.com)

Gene Roddenberry via Jornada nas Estrelas como uma utopia, a Humanidade deixando para trás toda a mesquinharia, racismo, ganância, cada um dando o máximo de si para se tornar uma pessoa melhor, pensando no coletivo. Esse socialismo espacial é ótimo na teoria mas sem conflito não temos dramaturgia, fora que conhecendo nossa raça, fica difícil acreditar que todo mundo no futuro seria um Picard.

Benjamin Sisko começa Deep Space Nine com um prêmio de consolação, ganhando o comando de uma estação espacial no Acre da Galáxia, depois de perder a esposa na batalha de Wolf 359 contra os Borg.

DS9 foge do normal ao mostrar um posto de fronteira, aonde a Federação tem que lidar com os cardassianos, um povo que por décadas oprimiu e barbarizou os bajorianos, uma espécie mais pacífica, religiosa e contemplativa, mas que manteve uma resistência feroz contra os invasores.

A Major Kira, a segunda em comando na DS9 foi uma líder rebelde, ou nas palavras dos cardassianos, uma terrorista, e fez muita coisa que a Federação não aprovaria.

Todos os ideais de nobreza, justiça, honestidade da Federação são lindos, mas na Deep Space Nine Sisko tem que lidar com espionagem, intrigas, líderes religiosos que querem proibir ensino de ciência nas escolas, e toda uma série de problemas que não aparecem nas séries anteriores.

Mantendo a tradição de Star Trek, Deep Space Nine aborda vários temas sociais, de forma muito melhor do que Discovery, devo reconhecer. Avery Brooks, que faz o Comandante Sisko, é um ávido militante, e deu o seu melhor em episódios como o magnífico Far Beyond The Stars, aonde em uma visão Sisko acorda como um escritor de ficção científica nos Anos 50, com todo o elenco assumindo papéis de escritores e editores famosos, e Sisko tem que lidar com o racismo explícito da época.

Mesmo assim Benjamin Sisko não é santo. Ele mais de uma vez colaborou com os cardassianos, já repassou informações “sem querer” para Garak, o espião oficial da DS9, e foi contra TUDO o que a Federação defende e acredita no episódio In The Pale Moonlight, quando organizou um plano para forjar um vídeo e convencer os romulanos a entrar na guerra contra o Dominion. Várias pessoas foram mortas para o plano dar certo.

Talvez a maior contribuição de Deep Space Nine para o lado cinza de Star Trek seja a Seção 31, uma organização secreta que em teoria não é parte da Frota Estelar. Eles agem por baixo dos panos manipulando, matando, chantageando e negociando para manter a Federação sendo o que é. Basicamente eles fazem o trabalho sujo para manter a Utopia funcionando.

A Seção 31 foi muito controversa na época, com ameaças de boicote e gente dizendo que não assistiria mais Deep Space Nine. Hoje, em tempos mais cínicos, ela vai ganhar uma série só dela, com a Michelle Yeoh.

Quark's bar. Eu já bebi lá. Longa história. (Crédito: Star Trek)

Benjamin Sisko terminou Deep Space Nine se unindo aos Profetas, o que quer dizer que pode ser trazido de volta a qualquer momento.

A CBS quer que esse momento seja agora, mas Avery Brooks ainda é meio uma incógnita. O ator não fez muita coisa depois da série, e não está no auge de suas faculdades mentais. Mesmo assim ele sinalizou que poderia aceitar, mas exigiu que contratassem também Cirroc Lofton, que fez seu filho na série, Jake Sisko.

Não há um desejo em tornar a série um revival de Deep Space Nine, e a série não seria a mesma sem Odo, mas René Auberjonois morreu em 2019. O planejado é algo na linha de Picard, talvez com eventuais participações especiais, mas uma história isolada, focada no personagem principal.

Brooks parece estar sendo seduzido pela idéia da série abordar temas sociais como racismo e preconceito, que ele tanto ama (discutir os temas, Avery Brooks não ama racismo e preconceito). Esses temas a rigor não existem no Século XXIV, ao menos não entre humanos, mas Star Trek já os abordou inúmeras vezes, quase sempre de forma excelente.

Alguns dizem que há um excesso de séries de Star Trek. São hereges, estamos vivendo a Era de Ouro de Star Trek na TV, quanto mais séries, melhor. Mesmo a que ninguém botava fé, como Lower Decks, se mostrou uma linda e deliciosa declaração de amor à Star Trek.

Que venha Star Trek: Sisko. Bem-vindo de volta, Benjamin, temos fé em você e nos Profetas!

Crédito: Startrek.com

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