Meio Bit » Engenharia » Manifestantes querem impedir que SpaceX lance o Türksat 5A

Manifestantes querem impedir que SpaceX lance o Türksat 5A

O Türksat 5A é o mais novo satélite de comunicações da Turquia, mas um pessoal não está feliz e quer que a SpaceX cancele o lançamento.

3 anos e meio atrás

Centenas de manifestantes se juntaram na frente da sede da SpaceX em Hawthorne, Califórnia, para protestar contra o lançamento do Türksat 5A, que como o nome dá a entender, é um satélite, da Turquia.

Turksat 5A (crédito: Turksat Corp)

A maioria são simpatizantes armênios, a alegação, claro, é totalmente emocional, com gente acusando diretamente a SpaceX de estar “matando” mulheres e crianças, e colaborando com o Genocídio Armênio, só há um problema: A Turquia não está em guerra com a Armênia.

A mini-guerra neste momento é entre Armênia e Azerbaijão, os dois países estão brigando por causa de território, mais especificamente a região de Nagorno-Karabakh, entre os dois brigões.

Os dois lados estão usando armamento russo obsoleto, mas o Azerbaijão está usando também muitas armas compradas da Turquia a preço camarada, pois se há um país que os turcos odeiem mais do que os gregos (eles nunca engoliram o lance do cavalo) é a Armênia.

Manifestantes em frente à SpaceX (Crédito: Reprodução Twitter)

Tanto que entre 1914 e 1923 os turcos promoveram um dos mais terríveis genocídios do Século XX, no qual 1,5 milhões de armênios foram sistematicamente exterminados, através de fuzilamentos, marchas forçadas e inanição. Até hoje a Turquia se recusa a reconhecer o Genocídio Armênio.

Como isso gerou uma imagem internacional ruim, com todo mundo, incluindo russos e americanos reconhecendo o Genocídio Armênio, os turcos culpam o país vizinho, e favorecem o Azerbaijão para assim baterem indiretamente na Armênia.

A acusação é que o Türksat 5A será usado para controlar drones, e a Turquia realmente tem essa tecnologia, mas o satélite é agnóstico, não é um satélite militar. É um satélite geoestacionário de comunicação que levará principalmente sinais de TV para uma região que vai da Inglaterra à China, cobrindo Oriente Médio, Europa Central e norte da África.

O contrato para lançamento do Türksat 5A foi assinado entre a Turquia e a SpaceX em 2017, e não há nenhum motivo legal para ser cancelado. Os manifestantes querem prejudicar literalmente milhões de usuários por causa de um hipotético futuro envolvimento da Turquia em uma briga de dois outros países.

A Turquia produz uns drones bem decentes. (Crédito: N13s013 - Wikimedia Commons)

Pior de tudo: Cancelar esse lançamento teria zero efeito sobre a capacidade da Turquia em controlar seus drones. Por um motivo muito simples: Eles têm no momento três outros satélites de comunicação em órbita geoestacionária, o Türksat 3A, o Türksat 4A e o Türksat 4B.

A reivindicação desses manifestantes é infantil, equivale a exigir que o Twitter bloqueie todo mundo que fale mal do seu político de estimação, mas onde fica o limite?

Parte da “eficiência” nazista vinha do fato deles documentarem tudo, e eram grandes fãs da tecnologia de cartões perfurados da IBM, que por sua vez não media esforços para agradar seus maiores clientes europeus.

Dehomag D11. (Crédito: Dr. Bernd Gross - Wikimedia Commons)

Inicialmente a tecnologia foi usada em áreas mais inocentes, como censo, que por sua vez foi usado para identificar individualmente cidadãos judeus, ciganos, testemunhas de jeová e outros indesejáveis. Mais tarde equipamentos IBM eram usados nos campos de concentração, e a IBM não pode dizer que não sabia, pois as máquinas eram em regime de leasing, com a IBM fornecendo insumos e manutenção.

As máquinas eram nacionalizadas pela Dehomag (Deutsche Hollerith-Maschinen Gesellschaft), subsidiária alemã da IBM. Era um processo muito eficiente, os prisioneiros tinham uma numeração tatuada nos braços, que era usada como chave primária, indo direto pros cartões perfurados.

No caso do Türksat 5A, a SpaceX está lançando um equipamento de telecomunicações, mas e se for um satélite com propósitos mais sinistros? Em verdade a SpaceX já faz isso, ela tem contratos com o Departamento de Defesa dos EUA, tendo lançado vários satélites espiões e militares.

Será razoável que pacifistas preocupados com as mortes na Armênia também protestem contra as mortes causadas em outros lugares, pelos satélites americanos? E quando esses satélites produzem dados que ajudam a evitar mortes, como nas ações da coalizão internacional que conseguiu caçar e neutralizar o ISIS?

A Internet adora um boicote, e adora também impor sua moralidade em cima dos outros, sem pensar nas consequências. Se a SpaceX se negar a lançar o Türksat 5A, além de uma multa substancial sinalizará que não é confiável. Pressão de meia-dúzia de insatisfeitos fez a empresa cancelar um contrato com um país aliado (A Turquia é membro da OTAN). Que garantia qualquer outro país teria que seus planos não seriam descarrilhados do dia para a noite?

Armênia e Azerbaijão dizem que tecnicamente não é guerra, mas parece guerra pra mim. (Crédito: Reprodução Aljazeera)

A SpaceX tem responsabilidades? Claro, ela inclusive está sujeita às regras do ITAR - International Traffic in Arms Regulations, um conjunto de normas extremamente draconianas que limita que tipo de tecnologia pode ser vendida, que tipo de serviços podem ser exportados, uma empresa americana não pode negociar com quem quiser, se estiver coberta pelo ITAR e lançamentos espaciais fazem parte.

Emblema da missão NROL-39, um satélite espião. E esses são os mocinhos! (Crédito: NRO)

Elon Musk não vai se deixar pressionar por gente barulhenta na sua porta, nem a SpaceX abrir mão de seus generosos contratos militares, que serão grandes clientes da rede Starlink, futuramente. Desse mato não sai cachorro, e se os manifestantes querem ser levados a sério -e a Turquia merece muita paulada na moleira- devem procurar alvos legítimos, ao invés da SpaceX.

Até porque nesse caso eles estão protestando contra a Amazon e batendo no entregador.

Leia mais sobre: , , , .

relacionados


Comentários