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Governo da França abre precedente para soldados biônicos

Chega de bandeira branca: comitê de ética do Ministério de Defesa da França abre espaço para a pesquisa de soldados biônicos

3 anos atrás

A França pode ter se cansado de ser o país conhecido por só se render (o saco de pancadas da Europa é a Polônia), e está considerando opções curiosas: em um relatório de 32 páginas, o comitê de ética do Ministério da Defesa publicou uma avaliação sobre a pesquisa de técnicas invasivas para a criação de "soldados biônicos", que aumentariam o rendimento das tropas francesas.

Pode parecer coisa de filme (e é), mas a França não é o único país investindo em pesquisas para o desenvolvimento de combatentes aprimorados.

Cena do filme Soldado Universal (Créditos: Centropolis Entertainment/Vivendi/TriStar Pictures/Sony)

Cena do filme Soldado Universal (Créditos: Centropolis Entertainment/Vivendi/TriStar Pictures/Sony)

O parecer do comitê, publicado em aberto no dia 8 de dezembro de 2020, autoriza estudos para o desenvolvimento e utilização de tecnologias que garantam a "superioridade operacional" das Forças Armadas da França, incluindo o uso de técnicas invasivas para aumentar ou intensificar as habilidades naturais dos combatentes.

Não há nenhuma descrição do que seriam essas tecnologias, mas elas envolvem "aprimorar as capacidades físicas, cognitivas, sensoriais e psicológicas" dos soldados, bem como "tratamentos médicos se suprimam dor, estresse e fadiga, e substâncias que aumentem a resiliência mental de um soldado, no caso deste ser feito prisioneiro", provavelmente para resistir a torturas.

Há obviamente algumas limitações: as novas tecnologias não devem alterar a "humanidade fundamental", no que pode ser entendido como técnicas ou implantes que permaneçam como partes do corpo humano. Assim, nada de rodas, lagartas de tanque, garras metálicas, canhões de plasma acoplados ou outras maluquices.

Você não vai ver nada como os Carniceiros (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

Você não vai ver nada como os Carniceiros (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

O parecer também deixa claro que os soldados biônicos não poderão sofrer modificações que alterem seu livre arbítrio, e devem ser capazes de decidir por si próprios qual será o nível de agressão que eles poderão usar, em qualquer ocasião.

Funciona assim: braços biônicos deverão oferecer controle fino da pressão aplicada, assim como um braço comum, para que o soldado possa usar níveis diferentes que variem de um aperto de mão a esmagar um cano de ferro. Os implantes não poderão ser um equipamento que funciona a 100% da força o tempo todo, o que inviabilizaria seu uso fora de ações de combate, e poderia acarretar acidentes.

Assim, o soldado poderá escolher usar ou não de força letal de acordo com a situação, e os implantes e melhorias não podem transformar o combatente em uma máquina de matar de forma indiscriminada.

Soldado Invernal (Sebastian Stan) em cena de Capitão América: Guerra Civil (Crédito: Marvel Studios/Disney) / biônicos

Soldado Invernal (Sebastian Stan) em cena de Capitão América: Guerra Civil (Crédito: Marvel Studios/Disney)

A ministra da Defesa Florence Parly disse que não há planos atuais para o desenvolvimento de soldados biônicos, e muito provavelmente eles não serão postos em movimento tão cedo, mas ela aponta que a França precisa desde já considerar a possibilidade, de modo a não ficar para trás em um novo tipo de corrida armamentista.

E ela não está errada em pensar assim.

Os Estados Unidos estudam técnicas de aprimoramento para soldados a bem mais tempo, embora vise a princípio o uso de exoesqueletos ao invés de melhorias por técnicas invasivas. Até a ideia de uma armadura similar à do Homem de Ferro já foi aventada.

Ao mesmo tempo, o DARPA trabalha junto à Iniciativa BRAIN da Casa Branca, originalmente criado para mapear por completo o cérebro humano. A agência estuda a criação de dispositivos que possam ser controlados pela mente através de implantes minimamente invasivos, o que pode variar desde controlar membros biônicos à distância, até um drone de ataque.

Neste quadro, soldados que sofreram traumas severos, mas que contam com grande experiência poderiam ser reabilitados e continuarem combatendo, senão localmente, ao menos de forma remota.

Naomi Wu é a "Sexy Cyborg", mas ela entra na categoria transumanismo (Crédito: Reprodução/Naomi Wu-Sexy Cyborg channel/YouTube)

Naomi Wu é a "Sexy Cyborg", mas ela entra na categoria transumanismo (Crédito: Reprodução/Naomi Wu-Sexy Cyborg channel/YouTube)

A China, por sua vez, estaria menos preocupada com questões éticas. Segundo John Radcliffe, Diretor de Inteligência Nacional dos Estados Unidos, o governo local já estaria conduzindo experimentos em membros do Exército de Libertação Popular (o conjunto das Forças Armadas do país e do Partido Comunista da China), a fim de desenvolver "soldados com capacidades biológicas ampliadas", o que pode envolver manipulação genética.

Há de se levar em conta que o texto de Radcliffe é uma coluna de opinião, mas se EUA e França estão considerando o desenvolvimento de soldados melhorados, é natural pensar que a China esteja indo pelo mesmo caminho. A parte dos processos antiéticos e alteração a nível biológico, no entanto, pode ser mera especulação e/ou paranoia.

O que virá disso? Ninguém sabe ao certo, mas é bem provável que não veremos nenhuma implementação realmente significativa nas Forças Armadas pelos próximos anos, tanto pela dificuldade em criar novas tecnologias, quanto pelos impedimentos éticos.

A pergunta que fica é: considerando tudo isso, como seria um hipotético soldado ciborgue brasileiro? Ele teria partes de madeira? Traria uma máquina de escrever acoplada? Deixem suas sugestões nos comentários.

Fonte: CNN, Popular Mechanics.

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