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Facebook pode ter dado tiro no pé ao bloquear notícias na Austrália

Facebook bloqueia acesso a notícias de veículos australianos, em protesto a lei que visa forçar redes sociais a pagarem para veiculá-las

3 anos atrás

O Facebook agiu de maneira drástica ao lidar com um novo projeto de lei na Austrália, que se aprovado forçará empresas de tecnologia a pagarem por conteúdo jornalístico a agências de notícias locais. Na última quarta-feira (17) a empresa passou a restringir a visualização e compartilhamento de links noticiosos no país, e residentes fora de suas fronteiras também não podem mais acessar ou publicar links de veículos australianos na rede social.

A ação da companhia de Mark Zuckerberg foi entendida como um recado de que a mesma não pretende se sujeitar à Lei, como fez o Google, mas ele também vem sendo entendido como abuso de poder e negligência em um momento onde a informação precisa circular, em tempos de pandemia e teorias da conspiração.

App do Facebook no iPhone (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

App do Facebook no iPhone (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A queda de braço entre as empresas de tecnologia vem rolando desde agosto de 2020, quando um novo projeto de lei nos mesmos moldes do europeu foi introduzido, este aprovado em 2019. Entre outras coisas, ele também determina que companhias como Google, Facebook, Apple, Amazon e outras, que lucram com o redirecionamento de links de notícias publicados em seus serviços, passem a pagar às agências jornalísticas responsáveis por links e matérias que redirecionam por suas plataformas.

O entendimento é de que tais gigantes não criaram o conteúdo que veiculam e desta forma, não deveriam ser elegíveis a lucrar com o redirecionamento. Pelo contrário, elas deveriam ser forçadas a pagar de modo a ter o direito de fazê-lo. O mesmo já foi tentado antes, de forma isolada na Espanha e Alemanha, e em ambos os casos, o Google tomou medidas parecidas que se revelaram catastróficas para agências e jornais.

No entanto, o movimento de governos atualmente é centralizado, com a Comissão Europeia e o Congresso dos Estados Unidos concordando em alguns pontos, principalmente de que as gigantes tech detêm poder demais nas mãos. No Velho Continente, a aprovação do Artigo 17 foi uma vitória dos lobistas e donos das agências de nóticias, entre eles a News Corp. de Rupert Murdoch, e mesmo o Google já entendeu que esta é uma guerra perdida.

A gigante de Mountain Virw fechou contratos recentes com agências francesas e australianas, de modo a se adequar e negociar preços e condições aceitáveis entre ambas as partes, e é bem provável que o mesmo seja aplicado em toda a Europa, revendo as decisões locais já mencionadas. O projeto australiano (cujo nome oficial é "Código para Negociação Obrigatória Entre Plataformas Digitais e Agências de Notícias") menciona que se uma empresa de tecnologia não fechar um valor com uma agência, o mesmo será decidido na corte.

Já Zuck resolveu pagar para ver, o que é seu direito, embora não seja uma decisão muito esperta.

Mark Zuckerberg tem motivos para estar preocupado (Crédito: Chip Somodevilla/Getty Images)

Mark Zuckerberg tem motivos para estar preocupado (Crédito: Chip Somodevilla/Getty Images)

Desde a última quarta-feira (17), os australianos não podem acessar notícias através do Facebook, de nenhuma agência ou veículo ao redor do globo, enquanto que para todos os demais usuários, fica bloqueado o compartilhamento e visualização de links de agências do país. A ação vaporizou conteúdos de inúmeras páginas de sites, portais e jornais, embora haja reclamações de que o filtro foi muito mal implementado, tendo atingido agências governamentais e até a página oficial da rede social.

O grande problema para o Facebook, no entanto, reside no fato de estarmos no meio de uma pandemia global, onde inúmeros grupos e indivíduos mal intencionados compartilham Fake News e teorias da conspiração, em uma rede de desinformação global generalizada. O ato de bloquear notícias na Austrália foi interpretados por alguns especialistas como abuso de poder, numa declaração de que Zuck se vê acima das leis e pouco fará em consideração aos usuários.

Por outro lado, o projeto de lei australiano vem sendo criticado da mesma forma que o Artigo 17 na Europa, visto ser uma ferramenta que trará lucro fácil a lobistas e agências. Não é preciso dizer que a News Corp. é o principal grupo jornalístico da Austrália, e este já assegurou um contrato global multimilionário com o Google, para a felicidade de Murdoch. O Facebook entende que notícias representam um ganho mínimo (cerca de 4%, segundo a rede social), assim, não é sua intenção pagar.

Só que uma ação como a realizada na Austrália tem consequências. A principal é que os mais de 13 milhões de usuários locais estão fulos da vida com Zuck, mas ao mesmo tempo, estão tratando de buscar informação em outras fontes. Segundo Uma Patel, especialista do Financial Times, o app do grupo australiano ABC News se tornou o mais baixado da Apple App Store, nos momentos seguintes ao bloqueio.

É possível que o desfecho dessa história seja benéfico para ambas as partes: de um lado, a perda de credibilidade (e público) do Facebook pode levar a empresa a rever o bloqueio, enquanto que o primeiro-ministro australiano Scott Morrison já demonstrou ao menos interesse em discutir a situação com a companhia, mas nos seus termos, provavelmente endossando a exigência de pagar por notícias, o que Zuck não quer fazer.

Morrison inclusive adiantou que outros países poderão "seguir o exemplo" dos projetos australiano e europeu, e num futuro próximo, o Facebook fique sem ter o que fazer, entre bloquear tudo e ganhar a antipatia de todos, ou aceitar abrir a carteira.

Algo que até o Google já entendeu.

Fonte: Recode, The Next Web, The Verge

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