Ronaldo Gogoni 3 anos atrás
Quando o Google Chromecast foi lançado em 2013, ele ofereceu uma solução barata e acessível para "inteligentificar" TVs não-Smart, focando em produtos legados que não possuíam funcionalidades online. A solução em si não era nova, visto que set-top boxes como a Apple TV e consoles de videogame, como o PS3 e o Xbox 360, já cumpriam tal função, embora nenhum deles custasse apenas US$ 35.
Com o tempo, as fabricantes de televisores passaram a investir mais nos sistemas operacionais de seus produtos, que deixaram de ser engessados e nada práticos, e passaram a ser mais simples de usar e integráveis a outros aparelhos, apontando para uma redundância especialmente dos dongles e set-top boxes. O problema, no entanto, é que estes costumam receber atualizações de forma mais frequente.
Qualquer um que tenha usado uma ou mais Smart TVs da era pré-Chromecast, como as da LG que rodavam o sistema operacional NetCast (experiência própria), sabem que a experiência desses produtos não era lá muito inteligente em comparação a um sistema externo dedicado, mesmo quando colocadas ao lado de dispositivos que rodam apps de streaming de vídeo e música como função secundária, tal qual consoles.
O Chromecast acertou ao tornar o celular do usuário, fosse ele um Android um iPhone, em um terminal multimídia capaz de se comunicar de forma muito mais simples do que usando os protocolos que as TVs antigas já possuíam, desde os proprietários (que só conversavam com gadgets da mesma fabricante) ao Miracast. Assim, o dongle do Google foi uma bênção não apenas para quem possuía um televisor mais velho e sem funções web, mas também para as Smart com SOs legados, que perdiam funções conforme as atualizações deixavam de ser enviadas.
A razão é bem simples, uma TV é um produto com um ciclo de vida longo (o brasileiro costumava trocá-la a cada Copa do Mundo, mas isso foi antes da crise), e dependendo do modelo, um senhor investimento. As maiores e com tecnologias de ponta em telas, como OLED e QLED, custam alguns (ou muitos) milhares de reais, e nem todo mundo está disposto a trocar de aparelho todo ano.
Claro que boa parte dos consumidores troca de celular frequentemente, mas são gadgets de categorias diferentes e de formas de uso diferentes. A TV é por padrão um dos dispositivos de maior ciclo de vida útil, perdendo apenas para os consoles de videogame, o Yoda dos eletrônicos, com cada geração hoje mantendo um ciclo de 6 a 8 anos.
O grande problema é que alguns fabricantes de TVs acreditam que o SO em si é motivo mais do que o suficiente para que o consumidor troque de televisor todo ano, e apelam para uma depreciação intencional regular do sistema. A LG, por exemplo, renova o webOS anualmente, mas cada versão permanece ligada apenas à linha de aparelhos do mesmo ano em que foi introduzida.
Funciona assim: o webOS 5.0, lançado em 2020, só roda em modelos do ano passado e não foi liberado para as de 2019 e anteriores. Da mesma forma, estas não rodarão o webOS 6.0, que permanecerá restrito às TVs de 2021. Os aparelhos de anos anteriores continuarão recebendo atualizações pontuais e de segurança (mesmo o NetCast recebia updates até bem recentemente), mas não mudam de versão.
Embora tal informação não tenha sido confirmada, Tony Brown, líder do Departamento de Marketing para Entretenimento Doméstico da LG, alegou durante a CES 2021 ter "99% de certeza" de que o novo SO não será liberado para os modelos disponíveis hoje no mercado, mesmo as TVs mais poderosas e caras, até porque esse é o modus operandi da companhia todos os anos.
Nem todos os fabricantes agem da mesma forma, claro. Empresas como Sony e Xiaomi, por exemplo, adotaram o Android TV, que em tese é muito mais flexível quanto a atualizações, embora as mesmas sejam definidas pelos parceiros e não pelo Google. Da mesma forma dispositivos externos também envelhecem, vide a Apple TV, cujo modelo de 4ª geração, lançado em 2015, não recebe mais updates.
O Chromecast original e seus sucessores diretos continuam funcionando (o modelo de 3ª geração é o único disponível oficialmente no Brasil), com o mais recente modelo evoluindo para um set-top box independente rodando Google TV, uma versão aprimorada do Android TV. Tirando consoles de videogame e a Apple TV, as opções de gadgets com SOs externos mais caras, é possível adquirir um dongle que oferece streaming com resolução de 1080p por cerca de R$ 290, seja do Google, da Amazon ou de outras fabricantes.
Há alternativas ainda mais flexíveis. Quem possui um Raspberry Pi, por exemplo, pode rodar nele o Android TV graças a forks como o LineageOS, adaptado pela comunidade, e usar um controle remoto Bluetooth para controlar o gadget. Dependendo do modelo, é possível até rodar alguns jogos mais pesados, algo que a maioria dos set-top boxes e TVs com o sistema não suporta.
Independente do perfil do usuário, há várias alternativas (salvo as exceções já mencionadas) que implicam em um investimento muito menor do que comprar outra TV, ainda mais se tratando de um modelo relativamente recente, que ficou com um SO defasado por decisão da fabricante.
Ninguém em seu juízo perfeito (ou ao menos os que dão valor ao seu suado dinheiro) vai considerar a troca de TV por causa do SO, e nesse sentido, um dongle ou set-top box permanecerá a solução de baixo custo que manterá esses aparelhos viáveis e com acesso a apps e funções recentes, por mais tempo do que as fabricantes planejam prover aos dispositivos.
Claro que em um determinado momento uma TV nova pode ser muito interessante, mas de qualquer forma, é bom não se desfazer do seu Chromecast, Fire TV ou Mi Box S por enquanto, pois você poderá precisar deles no futuro.