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Motorola volta aos tempos de pós-venda ruim no Android

Motorola volta a erguer os dois polegares: premium Moto G100 terá apenas uma atualização do Android e o Moto G10, nenhuma

3 anos atrás

A Motorola voltou às velhas práticas de pós-venda para usuários Android, usadas na época anterior à compra pelo Google. A companhia, hoje propriedade da Lenovo, lançou nesta quinta-feira (25) dois novos smartphones, Moto G10 e Moto G100, o primeiro a atualização periódica de seu aparelho mais vendido, e o segundo um modelo com especificações premium e acabamento externo de modelos intermediários.

Ambos chegam rodando Android 11, mas o Moto G100, mesmo sendo um dispositivo com capacidades de ponta, terá apenas uma atualização de sistema garantida. O Moto G10, por sua vez... nenhuma.

Moto G10 segue filosofia da linha Moto E: não terá atualizações de sistema (Crédito: Divulgação: Motorola)

Moto G10 segue filosofia da linha Moto E: não terá atualizações de sistema (Crédito: Divulgação: Motorola)

A informação sobre as atualizações do Moto G10 e do Moto G100 foi confirmada ao Tecnoblog pela Motorola. Segundo a empresa, o Moto G100 e o Moto G30, uma versão pouco melhor que o Moto G10, seguirão a política de updates reservada à linha Moto G, logo, receberão o Android 12 (quando a Motorola decidir lançar) e correções de segurança a cada três meses, por dois anos.

O Moto G10, por sua vez, receberá apenas os updates de segurança trimestrais, também por dois anos. De acordo com Thiago Masuchette, head de produtos da Motorola, a decisão de não atualizar o aparelho para o Android 12 poderá mudar, "se a gente (a Motorola) entender, lá na frente, que faz sentido liberar" o update.

Vale lembrar que casos de mudanças de decisão referentes à atualizações de seus aparelhos são frequentes na Motorola, mas geralmente são tomadas após pressão dos consumidores. A mais recente aconteceu com o Motorola Edge+, um dispositivo premium de R$ 8 mil que de forma inexplicável, receberia originalmente uma única nova versão do Android.

Quando o review da WIRED mencionou a política de apenas um update e uma chuva de críticas foram direcionadas à Motorola, pela decisão ridícula de colocar um aparelho high-end no mercado que ficaria defasado em apenas dois anos, a empresa voltou atrás e se comprometeu a lançar o Android 11 e 12 para o Moto Edge+ (ele saiu da caixa com o 10). Ele recebeu o Android 11 em março de 2021, enquanto que o Android 12 muito provavelmente só deve chegar em 2022.

As coisas ficam ainda mais ridículas para a Motorola se compararmos a empresa com a prática de atualizações que o Google impôs à divisão, nos tempos em que a gigante das buscas era sua controladora. O Moto X de 2ª geração e o Moto X Style foram atualizados apenas um mês depois do lançamento das respectivas versões posteriores do Android.

Mesmo que a política de duas atualizações para modelos de ponta (Moto X, Moto Maxx, Moto Z), uma para a linha Moto G e nenhuma para a linha Moto E já fosse vigente durante a gestão do Google, os cronogramas eram minimamente respeitados.

Mas com a saída do Google e a entrada da Lenovo, a política de levantar os dois polegares e não dar a mínima para o pós-venda voltou com força total.

Motorola voltou a adotar o "método Bob Kelso" (Crédito: Reprodução/ABC Television/Disney)

Motorola voltou a adotar o "método Bob Kelso" (Crédito: Reprodução/ABC Television/Disney)

Na era pré-Google, a Motorola chegou a fazer promessas de atualizações para apenas mudar de ideia e deixar muita gente a ver navios. O Motorola Milestone, um dos mais icônicos da empresa, foi lançado em outubro de 2009 com o Android 2.0 Eclair, e recebeu o 2.2 Froyo (de maio de 2010) em março de 2011, três meses depois da chegada do Android 2.3 Gingerbread. E ficou por isso mesmo.

O Dext, outro celular bem sucedido da Idade das Trevas da Motorola, também equipado com teclado QWERTY como o Milestone, foi lançado com o Android 1.5 Cupcake, e a empresa chegou a cogitar atualizá-lo para o 2.1 Eclair, o que nunca aconteceu. Na fase do Google, as más práticas de pós-venda e atualizações foram contidas, para serem retomadas com a Lenovo no comando.

Um exemplo recente foi o que aconteceu com a linha Motorola One. A linha de dispositivos originalmente rodava Android One, uma versão do sistema móvel do Google que admite custumizações mínimas, para garantir uma experiência pura do Android. Voltado inicialmente para gadgets de entrada, ele foi implementado até em celulares premium, como o LG G7 One.

O ponto crucial do programa era garantir ao consumidor atualizações de sistema por dois anos e de segurança por três, mas tudo mudou com a chegada do Motorola One Zoom: apesar do nome, a linha deixou de trazer dali por diante o Android One e passou a vir com o sistema customizado padrão da Motorola.

No pacote, o sistema de atualizações adotado passou a ser o mesmo da linha Moto G, com um único update de sistema e correções de segurança por dois anos. E como na época a linha Moto Z já havia sido descontinuada, não havia mais nenhum aparelho da empresa elegível para duas atualizações completas do Android.

O que nos leva ao rolo de apenas um update do Edge+, o que dá a entender que a Motorola não quer manter nenhum de seus aparelhos elegíveis às versões mais novas do sistema por mais de um ano. Embora ela não tenha conseguido fazer isso com seu atual dispositivo de ponta, ela deu um jeito na situação com o Moto G100.

Moto G100: hardware premium, mas apenas um update do Android (Crédito: Divulgação/Motorola)

Moto G100: hardware premium, mas apenas um update do Android (Crédito: Divulgação/Motorola)

Olhando de longe, o Moto G100 se parece com qualquer outro Moto G, mas por dentro ele oferece especificações que não devem nada ao Motorola Edge+, com processador Snapdragon 870, 12 GB de RAM e 256 GB de espaço interno, além de uma bateria generosa de 5.000 mAh.

Depõem contra ele o acabamento plástico na traseira, a tela plana apenas LCD de 1080p (o Edge+ tem uma OLED), a ausência de proteção IP contra água e poeira e câmeras mais simples. O preço de R$ 4 mil o posiciona como um aparelho "premium de entrada", visto que os valores de produtos de tecnologia no Brasil saíram do controle, graças à desvalorização catastrófica do real frente ao dólar.

Para todos os fins e efeitos legais, o Moto G100 é um produto high-end, mas por ser um celular da linha Moto G, a Motorola garantiu para ele apenas uma atualização de sistema, seguindo a política da linha à qual ele pertence.

Convenientemente o mesmo não vale para o Moto G10, que será tratado como um dispositivo da linha Moto E: ele nasceu e vai morrer com o Android 11, a menos que a Motorola mude de ideia (pouco provável).

Pós-venda de concorrentes supera Motorola

A Samsung, que por muito tempo praticou estratégias de pós-venda similares às da Motorola nos seus maus momentos, entendeu que fidelizar o público, mesmo os de dispositivos de entrada, é importante. Hoje, ela oferece três anos de atualizações de sistema para seus gadgets, mesmo os mais simples, e quatro anos de correções de segurança.

Claro que em se tratando de updates, ninguém ganha da Apple. Primeiro, as atualizações ignoram completamente quaisquer restrições impostas por operadoras, já que não existem fabricantes intermediários, como no caso do Google para o Android, e tão logo um update é anunciado, todo mundo pode baixar.

Segundo, os aparelhos são elegíveis para atualização de sistema por no mínimo 5 anos, e correções de segurança costumam ser liberadas mesmo para os gadgets mais antigos. Embora muitos usuários digam que os updates tendem a prejudicar a performance dos modelos mais velhos, o que é compreensível (hardware velho + novas exigências de sistema + convencer o consumidor a comprar outro iPhone), não dá para negar que apesar dos pesares, a maçã continua liberando updates e correções de segurança por muito tempo, mesmo para os iPhones mais cansados.

O iPhone ainda é o campeão do pós-venda (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

O iPhone ainda é o campeão do pós-venda (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

No fim das contas, fica difícil defender a Motorola, uma empresa que já foi referência em atualizações do Android, quando ela retoma suas velhas práticas de não dar bola para seus consumidores, que terão que se virar com forks como o LineageOS para manterem seus celulares em dia por mais tempo.

Isso ou preferir gadgets de concorrentes, como Apple e Samsung.

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