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Balan Wonderworld e a inconstante carreira de Yuji Naka

Balan Wonderworld poderia ter sido uma bela homenagem aos jogos do passado, mas peca por não inovar e confirma o declínio na carreira do seu criador

3 anos atrás

Ao longo dos anos a indústria de games conseguiu criar algumas celebridades, profissionais que sempre que anunciam estar trabalhando em um novo projeto, muitos passam a ficar de olho no que poderá nascer dali. Yuji Naka é uma dessas pessoas. Com uma vasta carreira e tendo trabalhado em alguns dos principais jogos da Sega, é natural criarmos expectativa pelos seus próximos lançamentos e eu fiz isso com o Balan Wonderworld.

Balan Wonderworld

Crédito: Divulgação/Square Enix

Primeiro trabalho do game designer após ele ter ido para a Square Enix, o título prometia ser um retorno às raízes, um jogo de plataforma que se passaria num universo bastante colorido e que estaria recheado de personagens exóticos. Assistir aos trailers de Balan Wonderworld era como olhar uma promissora mistura de Nights into Dreams, Sonic Adventure e Billy Hatcher and the Giant Egg, e mesmo não parecendo fazer parte do seu público alvo, fiquei empolgado.

Porém, bastaram alguns minutos para que eu conseguisse perceber que aquilo que poderia servir como uma homenagem ao passado, na verdade fez com que o novo jogo parecesse exageradamente datado.

O (não tão) maravilhoso mundo de Balan

No jogo conheceremos o Teatro de Balan, um lugar mágico que conecta o mundo real com o Wonderworld e que surge sempre que o coração de alguém perde o equilíbrio. É nele que residem as memórias das pessoas que enfrentam problemas, onde seus traumas se tornam enormes ameaças. Caberá então ao jogador escolher entre duas crianças, Leo Craig e Emma Cole, que além de terem que lidar com os seus próprios fantasmas, precisarão buscar forças para acabar com o misterioso ser que comanda o bizarro “espetáculo”.

A partir daí teremos 12 mundos pela frente, cada um dividido em dois estágios baseados nas aflições do seu hospedeiro, além de um chefe. Os temas abordam assuntos dos mais diversos tipos, como uma mergulhadora que sofreu um acidente e que por isso passa a ter medo da água ou um menino frustrado por não conseguir criar um veículo que o permitisse voar.

Os mundos são muito bonitos e variados, com suas direções artísticas se destacando e no geral apresentando bons designs, apesar de serem curtos. Já o principal destaque vai para a fantástica trilha sonora de Naoto Ohshima Ryo Yamazaki, com músicas que estão muito acima da média.

Mas aquilo que serve como um divisor de opiniões em Balan Wonderworld é a maneira como sua jogabilidade funciona. Nele todos os botões acionarão apenas uma ação e o grande diferencial do jogo está no seu sistema de roupas/personagens, já que elas contam com uma habilidade especial e que precisará ser utilizada para alcançarmos certos pontos das fases.

Crédito: Divulgação/Square Enix

Por exemplo, já nos primeiros minutos ganharemos acesso a uma roupa de lobo e ao apertarmos um botão, o nosso personagem dará um giro que nos permitirá quebrar alguns objetos. Ao todo poderemos desbloquear mais de 80 dessas fantasias, com alguns nos permitindo cuspir fogo, nadar, planar por alguns segundos, escalar teias de aranha e diversas outras habilidades.

Como poderemos utilizar num estágio a roupa encontrada em outros, saber qual delas vestir num determinado momento acaba se tornando a principal mecânica do jogo e para aqueles que gostam de descobrir tudo, querer explorar cada canto das fases logo se torna uma obsessão. O problema é que na maioria das vezes essa exploração não apresenta muito desafio ou quando o faz, é por decisões questionáveis de design.

Isso acontece porque só podemos carregar conosco três roupas ao mesmo tempo, sendo que perderemos aquela que estiver ativa ao sofrermos danos. Neste caso teremos que voltar ao local onde a encontramos, o que pode tornar o vai e vem um pouco frustrante. Outra opção seria utilizar um checkpoint, mas nele só estarão as roupas que temos em estoque e por isso é recomendável ter guardadas algumas unidades de cada uma.

Crédito: Divulgação/Square Enix

Mas o que realmente incomoda nessas personas é a maneira pouco criativa como elas foram criadas. Muitas são apenas pequenas variações de outras que encontramos anteriormente e há ainda algumas que inexplicavelmente contam com poderes intermitentes. Imagine ter que explorar uma área completamente escura, onde só enxergaremos onde podemos pisar graças a luz emitida por uma roupa, mas como ela ficará acendendo e apagando, sua utilização passa longe de ser divertida.

E essa tentativa de adicionar algum desafio ao jogo falha mesmo com os inimigos que encontramos pelo caminho, aqui conhecidos como Negatis. Eles pouco nos ameaçam, pois quase sempre atacam em bandos e de maneira descerebrada, sem se importarem muito em buscar proteção. A exceção fica para os chefes, pois apesar de seus ataques serem fáceis de decorar, o fato de termos que atingi-los com roupas diferentes para ganharmos o maior número de troféus adiciona uma interessante camada de desafio aos combates.

O novo insucesso de Yuji Naka

Funcionando quase como uma remasterização de algum jogo genérico de plataforma lançado na segunda metade da década de 90, Balan Wonderworld passa a sensação de ter sido lançado com pelo menos duas décadas de atraso. Eu consigo entender a intenção da equipe envolvida na sua criação de se manter fiel aos antigos jogos de aventura, mas de lá para cá muita coisa evoluiu no design do gênero e não faz muito sentido eles não terem adotado melhorias.

Da movimentação um tanto dura dos personagens a um sistema de câmera que muitas vezes mais atrapalha do que ajuda, durante toda a campanha é difícil deixar de lado a sensação de estarmos jogando um título do Sega Saturn ou do primeiro PlayStation. Contudo, esse apego ao passado por si só não seria necessariamente um problema, mas sim ele se comportar como um jogo que não é horrível, mas que também está longe de ser memorável.

Pois essa mediocridade já está sendo sentida mundo afora, com as vendas estando muito abaixo até do que os mais pessimistas poderiam imaginar. Segundo relatos, durante a semana de lançamento o Balan Wonderworld teria vendido apenas 2.100 cópias no Japão, fazendo com que ele não entrasse nem no top 30 do país. Tal desempenho também pôde ser visto no Reino Unido, onde o jogo falhou em ficar entre os 40 mais vendidos da semana.

Balan Wonderworld

Crédito: Divulgação/Square Enix

Muito dessa falta de interesse do público pode ser creditada às análises publicadas nos últimos dias, mas também a má impressão deixada pela demo que havia sido disponibilizada pouco antes do lançamento da versão final. Somando esses elementos ao fato de estamos falando de um título que está sendo vendido pelo valor cheio de um lançamento (US$ 60), o seu insucesso até podia ser esperado, mas nem por isso ele se torna menos lamentável.

Nos depararmos com um jogo que não atendeu às nossas expectativas é algo que estamos acostumados, mas o que torna a situação deste mais chata é ver mais um projeto de Yuji Naka não funcionar como poderia. É triste acompanhar um sujeito que nos deus títulos tão fantásticos como Phantasy Star, Sonic the Hedgehog, Nights into Dreams, Burning Rangers e alguns outros, empilhando jogos no máximo medianos, como um Sonic Heroes, Shadow the Hedgehog, Ivy the Kiwi?, Rodea the Sky Soldier e agora o Balan Wonderworld.

Eu admito que continuar acreditando que ele poderá voltar a nos surpreender positivamente está ficando cada vez mais difícil, mas por admirar tanto o seu passado, ainda torço para que este cenário mude um dia. Uma pena que não foi desta vez.

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