Meio Bit » Ciência » EmDrive, o "motor impossível", é realmente impossível

EmDrive, o "motor impossível", é realmente impossível

Artigos recentes da Universidade de Dresden apontam que o EmDrive, motor espacial que violaria todas as leis da Física, não funciona

3 anos atrás

O EmDrive foi uma tremenda pedra no sapato por anos. O proposto motor não-newtoniano, que geraria reação sem ação, ou propulsão sem a emissão de nenhum tipo de material, usando apenas eletromagnetismo, não podia ser de cara descartado como os tantos motores de moto perpétuo.

Seu criador, o engenheiro aeroespacial Roger J. Shawyer, é um profissional conhecido em seu meio e respeitado, e não estava procurando vender nada, apenas apresentou uma proposta de propulsão espacial aparentemente impossível. As coisas mudaram quando em 2014, a NASA testou a parada e... o EmDrive "funcionou".

Renderização do EmDrive (Crédito: luismmolina/Getty Images)

Renderização do EmDrive (Crédito: luismmolina/Getty Images)

O artigo original de Shawyer, publicado em 2000, elaborava a ideia de que ao usar um feixe de microondas em uma cavidade ressonante projetada de maneira específica, pressão de radiação em quantidades diferentes seriam geradas nas paredes da estrutura. Isso faria com que a estrutura fosse empurrada para a frente, e com ela, todo o motor. Em uma analogia que já usamos, seria o mesmo que você ser lançado para o espaço após puxar com força os cadarços do seu tênis.

A proposta era tão maluca que ninguém levou o EmDrive a sério, simplesmente por ela violar as leis de Newton, em especial a terceira, que diz que toda ação gera uma reação igual e contrária, no sentido oposto. O feixe de microondas estaria empurrando o motor para a frente, mas a fonte seria empurrada para trás.

A ideia do EmDrive ditava que a ação do feixe não geraria reação, o que é fisicamente impossível e contraria completamente a conservação de movimento angular. Shawyer, no entanto, por não se enquadrar no perfil de charlatão de moto perpétuo, conseguiu verbas ao longo de duas décadas para a construção de protótipos, cada vez gerando resultados promissores. Todas as pesquisas foram testadas e avaliadas, mas sempre havia uma detecção de alguns milinewtons por kilowatt. Um newton equivale à força exercida sobre um corpo com 1 kg de massa, em uma atmosfera de 1 G, induzindo uma aceleração de 1 m/s² na mesma direção.

O teste de 2014 executado por quatro pesquisadores do Johnson Space Center da NASA detectaram forças entre 30 e 50 mN em um equipamento similar. Em 2016, a agência realizou novos testes, desta vez através do Eagleworks Laboratorties, ou Advanced Propulsion Physics Laboratory, que pesquisa a sério novas formas de propulsão espacial. Na ocasião, foram novamente detectadas forças mínimas.

Era uma expectativa MUITO otimista, mas sonhar é de graça (Crédito: Reprodução/ViacomCBS)

Era uma expectativa MUITO otimista, mas sonhar é de graça (Crédito: Reprodução/ViacomCBS)

Caso o EmDrive se mostrasse funcional, mesmo a longo rpazo, poderia significar uma revolução na exploração espacial, com espaçonaves fazendo percursos que levariam meses em semanas, ou até menos. Hoje qualquer nave queima combustível para acelerar no lançamento e vai na banguela o resto da viagem, com um motor usando propulsão magnética, poderíamos acelerar até metade do trajeto.

Isso, claro, se o EmDrive se mostrasse funcional, o que segundo estudos recentes, não parece ser o caso. Embora o tema tenha sido tratado em mais de 1.000 artigos diferentes, de diversas instituições, os três recentemente apresentados durante a conferência Space Propulsion 2020+1 (este, este e este), por pesquisadores da Universidade de Dresden, estão minando todas as esperanças em torno do motor.

Segundo Martin Tamjar, co-autor dos estudos, foi usada uma nova estrutura para evitar distorções nas medições causadas pelo aquecimento, ao aplicar o feixe de microondas. No final, as novas medições não se repetiram, apontando que todos os registros anteriores se deram por má metodologia. Tamjar afirma que todas as publicações anteriores estavam erradas "em pelo menos 3 ordens de magnitude". Os testes em Dresden vêm sendo feitos desde 2016, seguindo modelos usados pela NASA.

Assim, segundo os dados levantados pelos pesquisadores, todos os registros de forças anteriores, foram de interferência térmica.

Isso não quer dizer que o EmDrive chegou ao fim da estrada. É evidente que mais instituições e pesquisadores buscarão confirmar ou confrontar os dados levantados pelos estudos recentes, pois é assim que a Ciência funciona. Mas até lá, é bom não nutrir maiores esperanças.

Referências bibliográficas

TAJMAR, M. et al. High-Accuracy Thrust Measurements of the EMDrive and Elimination of False-Positive Effects. Space Propulsion 2020+1, 14 páginas, 17-19 de março de 2021.

NEUNZIG, O. et al. Thrust Measurements and Evaluation of Asymmetric Infrared Laser Resonators for Space Propulsion. Space Propulsion 2020+1, 20 páginas, 17-19 de março de 2021.

MONETTE, M. et al. The SpaceDrive Project – Mach-Effect Thruster Experiments on High-Precision Balances in Vacuum. Space Propulsion 2020+1, 11 páginas, 17-19 de março de 2021.

Fonte: ExtremeTech

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários