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Bernie Sanders é contra "prêmio de consolação" à Blue Origin

Jeff Bezos conseguiu (com ajuda) forçar NASA a financiar módulo lunar da Blue Origin, junto com Starship da SpaceX; Bernie Sanders não curtiu

3 anos atrás

Jeff Bezos não gostou nem um pouco de perder a disputa para a construção de um módulo lunar, em que a NASA fechou com a Starship da SpaceX, ao invés do Integrated Lander Vehicle (ILV) da Blue Origin, ao ponto de levar o Senado dos EUA a propor uma emenda na lei que permitiu o reinvestimento nos esforços de voltar à Lua.

Na prática a emenda direciona mais US$ 10 bilhões do orçamento à NASA, de modo a forçar a agência espacial a abarcar também o projeto da Blue Origin, mas nem todo mundo concorda com dar mais dinheiro a Bezos. Um deles, sem nenhuma surpresa, é Elon Musk. O outro é o senador Bernie Sanders.

Detalhe do Integrated Lander Vehicle da Blue Origin (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

Detalhe do Integrated Lander Vehicle da Blue Origin (Crédito: Divulgação/Blue Origin)

O Programa Artemis, lançado em 2019 faz parte de um boost iniciado no governo Trump em 2017 para a volta de missões espaciais de exploração tripuladas, mirando no retorno à Lua e no pouso do primeiro astronauta em Marte. A administração Biden vem mantendo um cronograma mais realista, longe das datas apertadas que o presidente anterior propôs originalmente, deixando a NASA tocar as coisas no seu próprio ritmo (lento). Em resumo, esqueçam 2024.

A diferença crucial do Programa Artemis para seus antecessores é que desta vez, a responsabilidade de construir e garantir o pouso ficará a cargo de empresas privadas, com a agência espacial se reservando a injetar grana na iniciativa privada, para um retorno de investimento em novas tecnologias, capacitação e geração de empregos. No fim, todos ganham.

Entre os vários projetos mbancados pela NASA, o mais crítico e importante é o HLS (de Humam Landing System), o sistema de pouso. A espaçonave partindo  da Terra deverá acoplar na Estação Espacial Gateway, que ficará em órbita da Lua quando pronta, e de lá, um módulo reutilizável partirá para o satélite, devendo pousar e decolar com os astronautas.

Dynetics, Blue Origin e SpaceX foram as três empresas selecionadas para apresentarem seus projetos de módulos. Enquanto as duas primeiras foram bem conservadoras, se baseando no que funcionou com o Programa Apollo, mas com algumas alterações pontuais, a companhia de Elon Musk chutou o balde e apresentou a Starship, uma nave que usa um sistema de pouso e decolagem igual aos de desenho animado.

Pior, diferente de seus concorrentes, a Starship já está funcionando e consegue decolar, manobrar e pousar sem explodir, possui uma capacidade de carga colossal (ela foi projetada para levar até 100 passageiros, reduza isso para 4 e ocupe o resto) e mais importante, foi o projeto mais barato dos três.

Colocando os três um do lado do outro e em escala, chega a ser covardia:

Starship, Dynetics HLS e ILV da Blue Origin em escala, com humano para referência (Crédito: John MacNeill)

Starship, Dynetics HLS e ILV da Blue Origin em escala, com humano para referência (Crédito: John MacNeill)

Como os números são favoráveis e a SpaceX já tem resultados concretos, a NASA fechou o contrato com Musk, que garantiu um investimento de US$ 10 2,9 bilhões através da nova Lei da Fronteira Sem Fim, que vai direcionar nos próximos 5 anos um total de US$ 110 bilhões para investimento pesado em IA, computação quântica, exploração espacial, bioengenharia, novas fontes energéticas e etc.

A NASA será obrigada a justificar o elefante branco chamado SLS (que segue todas as especificações, bem explicado) e a cápsula Orion, cujo custo médio de lançamento está orçado em US$ 2 bilhões, então este será usado em conjunto com o Starship, que segundo Musk custa apenas US$ 2 milhões por lançamento. Negócio fechado, todo mundo contente, certo?

Errado. Mais uma vez, assim como aconteceu com o Projeto JEDI do Pentágono, que pode ser cortado de vez devido ao litígio da Amazon Web Services com a Microsoft, que ganhou a concorrência, Jeff Bezos ficou fulo nas calças e não aceitou a derrota.

Desde a saída de Trump da Casa Branca, que efetivamente detestava Bezos, devido os editoriais críticos do The Washington Post e a briga Amazon vs. sistema americano de correios, e que  podava todas as tentativas de suas empresas fecharem acordos governamentais, o careca está tentando de todas as formas conseguir uma boquinha em projetos estatais, e não está aceitando ficar para trás de forma alguma.

Em 2004, Musk e Bezos jantavam juntos. Hoje, trocam farpas (Crédito: Trung Phan/Twitter)

Em 2004, Musk e Bezos jantavam juntos. Hoje, trocam farpas (Crédito: Trung Phan/Twitter)

Curiosamente, as reclamações de Bezos ressoaram junto a Maria Cantwell, senadora democrata do estado de Washington, coincidentemente o mesmo em que a Blue Origin é sediada (a SpaceX fica na Califórnia). Ela propôs uma emenda (cuidado, PDF) à Lei da Fronteira Sem Fim, alterando o orçamento do Programa Artemis e direcionando mais US$ 10,03 bilhões, a mesma quantia que Bezos estava coincidentemente exigindo que a NASA acrescentasse ao programa, sob a justificativa de "adicionar concorrência" ao Projeto Artemis, permitindo que mais de uma empresa produza módulos.

Caso a emenda seja aprovada, a agência espacial ficaria obrigada a financiar tanto a Starship da SpaceX quanto o ILV da Blue Origin, sem contar o SLS e a Orion, tendo que se virar para usar todos eles nos planos futuros para a Lua e/ou Marte. Basicamente, Bezos ganharia uma boquinha no grito, algo que Elon Musk criticou.

Sob sua ótica, a emenda seria um "prêmio de consolação" de US$ 10 bilhões a Bezos por perder a concorrência, e que atrasaria os planos de exploração, deixando o caminho livre para a China dominar o setor. A Blue Origin rebateu, dizendo que Musk está mentindo e tem medo da concorrência.

Outro que não gostou da emenda é Bernie Sanders, senador independente pelo estado de Vermont, visto que ele ODEIA Jeff Bezos, embora também não tenha nenhum apreço por Elon Musk e corporações em geral, como todo bom socialista.

Bernie Sanders na versão meme, que rendeu um bocado para a caridade (Crédito: Brendan Smialowsk/Getty Images)

Bernie Sanders na versão meme, que rendeu um bocado para a caridade (Crédito: Brendan Smialowsk/Getty Images)

Sanders, que foi duas vezes pré-candidato dos democratas à presidência dos EUA, já externou suas opiniões sobre a questão da exploração espacial, e é mais um adepto da filosofia "com tanta gente passando fome", afirmando que o dinheiro deve ser empregado para resolver os problemas em terra primeiro.

Por outro lado, ele também acha que na possibilidade do Projeto Artemis seguir em frente, o governo dos EUA não tem nada que gastar dinheiro além do planejado com quem perdeu a licitação.

Em uma nova emenda apresentada nesta semana à Lei da Fronteira Sem Fim, Sanders propõe remover completamente do texto todas as modificações incluídas pela alteração da senadora Cantwell, extirpando assim a necessidade de injetar os US$ 10 bilhões adicionais no Projeto Artemis.

O propósito da emenda foi definido oficialmente como "para eliminar o aporte multibilionário destinado a Bezos".

É importante lembrar que a NASA de fato tinha planos de fechar com mais de uma empresa produzindo módulos, mas decidiu apenas pela SpaceX, pela diferença gritante entre os projetos, tanto de escopo quanto de custo. A companhia de Musk teria consumido apenas US$ 2,9 bilhões, cerca de metade do gasto pela Dynetics e Blue Origin, e saiu com algo que não tem comparação, a Starship está em uma categoria completamente diferente.

Assim, desde que a companhia de Musk se comprometa a entregar a Starship da forma que a NASA especificar, não há necessidade de abrir uma brecha para Bezos na base do choro, como apontado por Musk e Sanders.

Pode ser que a emenda não dê em nada ou até mesmo seja aceita, mas de qualquer forma, a proposta de Cantwell ainda precisa ser aprovada pela Câmara de Representantes dos EUA, e caso não seja, nada muda para Bezos, que vai continuar a reclamar.

Fonte: Ars Technica

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