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Celebrando 80 anos do afundamento do Bismarck

80 anos atrás um esforço desesperado dos aliados conseguiu o impossível: Deter o Bismarck, o mais implacável encouraçado nazista.

3 anos atrás

Às 5:52AM do dia 24 de Maio de 1941 o Cruzador de Batalha HMS Hood e o encouraçado Prince of Wales dispararam contra o encouraçado Bismarck e Cruzado Pesado Prinz Eugen. Por Volta de 6AM projéteis dos oito canhões principais de 380mm do Bismarck atingiram em cheio o Hood. Seu depósito de munição explodiu. Em 3 minutos ele afundava. Dos 1418 homens a bordo, três sobreviveram.

O Bismarck era lindo como um Destróier imperial (Crédito: Domínio público)

Esse foi o início da Batalha do Estreito da Dinamarca, que terminaria com uma ação desesperada dos aliados e a improvável participação de aviões há muito obsoletos.

Bem antes do início da Segunda Guerra a Alemanha já vinha se rearmando, depois de ter tido sua frota naval afundada em Scapa Flow, depois de ter perdido a Primeira Guerra. Segundo o Tratado de Versalhes eles não poderiam construir navios de mais de 10 mil toneladas. Como contornar isso? Simples: Cruzadores como o Graf Spee, do Capitão Almirante Langsdorff eram no papel descritos como tendo 10 mil toneladas de deslocamento.

Depois de construídos, adicionavam as torres de armamentos, equipamentos, amuradas, etc, e o bicho ficava com 16 mil toneladas. Sim, a solução de Hitler era simplesmente mentir. Eu sempre disse que ele não era confiável.

Encouraçado de Bolso Almirante Graf Spee (Crédito: Domínio público

Em 1935 o Tratado Anglo-Germânico afrouxou as limitações, ampliando a tonelagem individual mas limitando a frota alemã a 35% da frota inglesa. Hitler então decidiu que se teria poucos navios teria poucos mas poderosos navios, aí surgiu a Classe Bismarck, um encouraçado com 241.6 metros de comprimento, 16430km de autonomia, 2065 tripulantes e 50000 toneladas de deslocamento, o dobro de um porta-aviões da época.

O Bismarck foi projetado para controle total do Atlântico Norte, com velocidade de 55.58Km/h ele era três vezes mais rápido que qualquer navio mercante e superava a maioria dos navios de guerra. Seus canhões podiam atingir alvos a quase 40Km de distância, sua blindagem de 320mm o tornava quase invulnerável a torpedos.

Com quatro aviões de observação ele podia manter uma esfera de segurança de centenas de Km, sem ser surpreendido.

Bismarck, colorizado (Crédito: Domínio Público)

A Operação Rheinübung era simples: o Bismarck e o Prinz Eugen iriam navegar para o Atlântico, enfrentando as forças aliadas no caminho, e tocariam o terror com os comboios, matando a Inglaterra de fome e falta de suprimentos e munições. Só que algum tripulante deve ter postado no Instagram que iriam pro mar, então os aliados tiveram tempo de se planejar, só não contavam com a precisão e brutalidade do Bismarck.

Quando encontraram o Bismarck, ao sul da Islândia, os ingleses tinham duas grandes desvantagens. Embora no papel o HMS Prince of Wales fosse formidável, ele era um projeto novo de encouraçado, não-testado. A tripulação era igualmente novata, com pouco treino. O armamento ainda estava sendo refinado, apresentando constantes problemas. Dezenas de funcionários do estaleiro estavam a bordo finalizando a construção do navio.

Os canhões de 380mm do Bismarck (Crédito: Domínio Público)

O HMS Hood por sua vez era um navio excelente, com um grande histórico, mas preparado para lutar em uma guerra do passado. Ele tinha mais de 20 anos e não foi preparado para enfrentar algo como o Bismarck.

Sabendo que o Hood era vulnerável a ataques verticais, pois a blindagem de seu convés não era adequada, o Comandante ordenou que ele rumasse em direção ao Bismarck, para forçar tiros diretos. Às 5:52 o Hood fez os primeiros disparos, mas confundiu o Prinz Eugen com o Bismarck. Junto com ele o Prince of Wales também atacou, acertando o Bismarck com três tiros, destruindo uma catapulta de hidroaviões e um gerador.

HMS Hood (Crédito: Domínio Público)

O Bismarck contra-atacou às 5:55, quando o Capitão Ernst Lindemann deu a esperada ordem. Às 6:00 mais uma salva de tiros do Bismarck atingia o Hood, dessa vez em cheio no mastro principal, entre outros pontos. Uma enorme coluna de fumaça se ergueu, seguida de uma enorme explosão. O HMS Hood, orgulho da marinha britânica havia se partido em dois e em três minutos, afundava. Três sobreviventes foram recolhidos algumas horas depois pelo destróier HMS Electra.

Com o fogo dos dois navios concentrados no HMS Prince of Wales, os danos se acumulavam, logo ele perdeu boa parte do armamento, homens eram mortos a cada tiro, quando seus compartimentos teoricamente blindados eram destroçados. Sem condições de continuar, o Prince of Wales realizou uma retirada estratégica.

O Bismarck não estava exatamente inteiro também. Com um tanque com 1000 toneladas de combustível na proa danificado, ele não só vazava óleo feito um Opala de oito canecos, como não tinha mais como cumprir sua missão. Foi decidido que ele alternaria para Saint-Nazaire, na França.

Mapa aproximado da batalha (Crédito: Wikimedia Commons)

Enquanto na Alemanha o povo celebrava o afundamento do HMS Hood, na Inglaterra a sensação era de incredulidade. Uma mistura de impotência com pânico. Se o navio mais poderoso (na percepção popular) havia sucumbido com minutos de combate, que chance o país teria?

O Almirantado Britânico não pensou duas vezes, provavelmente depois de um esporro histórico de Winston Churchill. Tudo que flutuasse fizesse bang e tivesse o Brasão Real seria mobilizado. A ordem era clara: Afundem o Bismarck!

No total o Bismarck e o Prinz Eugen estavam sendo perseguidos e caçados por seis encouraçados e cruzadores pesados, dois porta-aviões, treze cruzados e vinte e um destróiers.

Tirpitz, navio gêmeo do Bismarck, disparando sua bateria principal (Crédito: Domínio Público)

Atacado por aviões, o Bismarck deu a sorte de encontrar inimigos inexperientes, eles quase lançaram torpedos contra os próprios navios. Mais sorte ainda foi o Capitão Lindemann ser um mestre dos mares. Ele ordenou que as baterias principais do Bismarck atirassem no mar, na direção dos aviões. Eles lançavam os torpedos mas as explosões dos canhões criavam turbulência na água e os tiravam do curso. De nove lançados só um atingiu o Bismarck, matando um tripulante mas causando apenas danos menores.

Escapando dos aviões e saindo do alcance do radar inimigo, o Bismarck voltou a seu curso, mas nesse momento seu destino foi selado por esta velhinha aqui:

Jane Fawcett (Crédito: Telegraph)

Jane Fawcett, então com 19 anos trabalhava em Bletchley Park, decodificando mensagens das máquinas Enigma da Marinha Nazista. Ela recebeu o pacote de mensagens do dia, passou a seqüência de dados pela máquina e estudou o resultado pra ver se havia uma mensagem ali, em alemão, ou como era mais freqüente a Bomba (o nome do computador usado pra decodificar as mensagens) produzira apenas ruído aleatório.

Não, a mensagem era clara: A Luftwaffe estava sendo convocada para dar cobertura ao Bismarck, que rumava para Brest.

De posse disso, os ingleses montaram a armadilha.

Ordenado a partir de Gibraltar para a costa francesa, o Porta-Aviões Ark Royal rumou a todo vapor. Aviões de reconhecimento varriam o oceano, e o Bismarck foi localizado, apenas para mais um daqueles momentos de sorte e azar simultâneos.

Um Swordfish decolando do Ark Royal (Crédito: US Navy - Official U.S. Navy photo NH 79167 from the U.S. Navy Naval History and Heritage Command, Public Domain)

Ele estava sendo acompanhado pelo cruzador britânico Sheffield, mas os pilotos de aviões-torpedeiro Swordfish do Ark Royal não sabiam disso; confundiram os dois navios e encheram o Sheffield de torpedos.

Nenhum detonou.

Os torpedos usavam espoletas magnéticas que obviamente eram uma bela bosta. Enquanto a tripulação do Sheffield trocava de calças (exceto os que já estavam usando marrom) as espoletas nos torpedos do Ark Royal eram trocadas pelas boas e velhas espoletas de contato.

Aqui cabe um espaço para exaltar a coragem dos pilotos do Swordfish. Estamos falando do Fairey Swordfish, um biplano de madeira e lona, pesando menos de duas toneladas, três tripulantes e velocidade máxima de 230Km/h. Ele tem que voar lento, baixo e estável para lançar seu torpedo. É um alvo perfeito, enfrentar o Bismarck era basicamente suicídio.

Sim, vagabundo ia enfrentar um encouraçado com isso. Cojones, muitos cojones (Crédito: Tony Hisgett - Birmingham, UK )

Cercado de inimigos, o Bismarck impingia danos severos a quem chegasse perto. “dúzias” de torpedos foram lançados pelos destróiers, mas nenhum o atingiu. O Sheffield sofria danos horrendos.

Às 20:47 do dia 26 de Maio de 1941 15 Swordfishes atacaram o Bismarck, enquanto ele se ocupava com o HMS Sheffield. Um deles atingiu a couraça, causando alagamento, mas nada grave. O outro torpedo atingiu o leme do Bismarck, enquanto ele fazia uma manobra evasiva.

Com a explosão o leme ficou travado em uma posição de 12 graus. O Bismarck só podia navegar em círculos.

Durante o resto da noite os inimigos tentavam se aproximar, mas eram afastados pelo Bismarck, só que isso não durou. As condições do mar pioraram, sem poder manobrar ele não tinha mais como atirar com precisão. Os navios ingleses maiores conseguiram se aproximar e sentaram o dedo. Centenas de marinheiros morreram quando a estrutura principal foi atingida, incluindo o Capitão. Os canhões também foram atingidos.

Kapitän zur See Ernst Lindemann - 1894 - 1941 (Crédito: domínio público)

Sem contato com a ponte, o Primeiro Oficial, Comandante Hans Oels assumiu o comando, e às 09:30 do dia 27 de Maio de 1941 deu a ordem: Abandonar o navio e acionar as cargas de demolição.

A tripulação começou a abandonar o navio ainda sob fogo cerrado, sem oposição os ingleses se aproximavam e disparavam à queima-roupa. No total os quatro navios principais dispararam mais de 2800 tiros. E não conseguiram afundar o Bismarck. Quem fez o serviço foram as cargas de demolição e as válvulas de lastro.

Alguns destróiers se aproximaram para recolher sobreviventes, mas depois que 110 estavam a bordo do HMS Dorsetshire e do HMS Maori, o comandante da frota achou ter visto um U-Boat, e ordenou a retirada. Mais tarde uma traineira e um submarino recolheram mais cinco. No total, dos 2200 homens a bordo do Bismarck, 114 sobreviveram.

O Bismarck permaneceu perdido até 1989, quando foi descoberto, surpreendentemente intacto a 4791 metros de profundidade por Robert Ballard, mas de todos os envolvidos nessa saga de heroísmo, dedicação, insanidade e desespero ninguém é mais sortudo do que... Oskar.

Oskar, o gato inafundável (Crédito: domínio público)

Recolhido pelo HMS Cossack, Oskar era, presumivelmente um dos gatos de bordo do Bismarck, cuja função era caçar ratos, nenhuma referência a MAUS, por favor. Em Outubro do mesmo 1941 o Cossack foi torpedeado, e mesmo depois de várias tentativas de salvá-lo, acabou explodindo, matando 159 tripulantes. Oskar sobreviveu.

Visto como símbolo de boa sorte, Oskar foi transferido para o Porta-Aviões Ark Royal, que também foi torpedeado. Oskar foi achado flutuando em uma tábua (viu, Rose? Cabe mais de um) e foi recolhido, “irritado mas sem ferimentos”. Ele foi transferido para Gibraltar, de lá para o Reino Unido, e se aposentou em um lar para marinheiros em Belfast, aonde viveu em paz até morrer em 1955.

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