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SLS está pronto, mas senador dos EUA quer mais testes

Emenda na Lei da Fronteira Sem Fim pode forçar NASA a continuar testando o SLS, para manter empregos no estado do Mississippi

3 anos atrás

O SLS (Space Launch System), o super foguete de US$ 2 bilhões por lançamento da NASA, é um monstrengo desenvolvido como o substituto oficial do programa dos ônibus espaciais, e por mais que a agência hoje conte com opções terceirizadas de exploração, algumas muito mais baratas, o tanto de grana gasta nele impedem que o projeto seja descartado. Até 2020 ele estava orçado em US$ 18,6 bilhões, e esse valor deve aumentar ainda mais.

Após mais de 15 meses de testes, realizados no Centro Espacial John C. Stennis (incluindo a detonação controlada do tanque de combustível, que só cedeu com 260% da pressão originalmente certificada), a NASA considera que o SLS está pronto para ser usado, mas senadores dos EUA discordam disso. E não necessariamente por questões de segurança.

Lançamento do NASA SLS no Stennis Space Center (Crédito: Nathan Koga/NASASpaceFlight.com)

Lançamento do NASA SLS no Stennis Space Center (Crédito: Nathan Koga/NASASpaceFlight.com)

O Centro Espacial John C. Stennis fica localizado no condado de Hancock, no estado do Mississippi, e é o maior e mais bem equipado centro de testes e pesquisa da NASA. Todos os principais testes de propulsão dos foguetes são realizados  lá, que conta com uma infraestrutura bem estabelecida, e uma cadeia ciliar muito bem azeitada, que compreende desde prestadoras de serviços terceirizadas, a equipes próprias da NASA.

Em resumo, o centro é um dos maiores geradores de empregos do estado, em diversos setores. Testes de larga escala, como o do SLS, dependem de suprimentos e manutenção que a NASA contrata por fora, além de seu próprio pessoal. No entanto, com o fim da fase, o estágio principal do foguete foi movido do Mississippi para a Flórida. Na melhor das estimativas, o primeiro lançamento deverá ser realizado em algum momento de 2022.

O SLS foi um típico caso de "obra de igreja", derivado do finado programa Constellation. Ele atrasou horrores e consumiu uma soma de dinheiro inacreditável, e a Boeing tem uma boa parcela de culpa nisso. O estágio principal foi originalmente orçado em pouco mais de US$ 4 bilhões, mas conforme auditoria da NASA revelou em 2018, esse valor escalou para US$ 8,9 bilhões, sendo que o contrato tinha um teto de US$ 6,2 bilhões. A Boeing listou uma série de dificuldades, que iam atrasando e encarecendo o SLS cada vez mais.

Hoje, a NASA tem a Starship da SpaceX como opção mais viável, um projeto completamente fora da caixa e muito mais barato, mas a grana gasta no SLS exigiu que ele fosse terminado e certificado para uso, e assim será feito. O problema, como sempre, é a burocracia.

A agência espacial está tendo que se virar com o Senado dos EUA, que incluiu emendas no Projeto Artemis para abarcar não só a Spaceship, mas também o ILV da Blue Origin. Oficialmente a NASA pode escolher entre ele e o HLS da Dynetics, mas convenhamos, quem reclamou por ter perdido a concorrência foi Jeff Bezos.

O aporte de US$ 10,03 bilhões, criticado por opositores (entre eles o senador independente Bernie Sanders) e incluído na Lei da Fronteira Sem Fim, foi aprovado e segue agora para a Câmara de Representantes. Tudo indica que passará também, para a alegria do careca, significando que a NASA terá que se virar em acomodar o SLS, a Starship e o ILV em seus planos.

Mesmo o SLS não está livre de problemas burocráticos. Como dito antes, os testes no Centro Espacial John C. Stennis geram muitos empregos no Mississippi, algo que o senador republicano Roger Wicker, que representa o estado no Senado, pretende que seja mantido da maneira como está.

Como? Forçando a NASA a continuar testando o SLS, mesmo ele estando categoricamente pronto.

SLS na plataforma de testes (Crédito: Divulgação/NASA)

SLS na plataforma de testes (Crédito: Divulgação/NASA)

Além de incluir o financiamento extra para a Blue Origin, a versão aprovada pelo Senado da Lei da Fronteira Sem Fim inclui uma série de outras emendas, entre elas uma sugerida por Wicker, qw  que discorre sobre o desenvolvimento de um "módulo de testes" do sistema de propulsão integrado ao estágio principal do SLS, "consistente com restrições de custo e cronograma, exclusivamente para equipamentos de propulsão de longo curso, necessários para voos espaciais".

De acordo com um especialista ouvido pelo site Ars Technica, o tal módulo seria apenas uma câmara de testes não projetada para voar, mas apenas para abarcar testes a perder de vista, muito provavelmente por tempo indeterminado. De certa forma, a proposta do senador Wicker visa a construção de um "puxadinho" para segurar empregos no seu estado.

A desculpa seria de que "usar os módulos reais para testes seria uma prática perigosa", principalmente no caso de usá-lo para experiências e testes extremos com astronautas. Do ponto de vista prático, o tal "puxadinho" não tem razão de existir, e o SLS está pronto, selado, carimbado e registrado para voar. Ainda assim, a emenda foi aprovada.

Projetos do tipo não são inéditos, a Rockwell construiu um simulacro dos ônibus espaciais no fim dos anos 1970, mas o desativou em janeiro de 1981, antes do primeiro voo real do programa. A proposta aqui visaria continuar testando um programa em pleno uso real, com o argumento de não prejudicar a força de trabalho do Mississippi, em todas as cadeias ciliares do centro de testes.

Considerando que a Lei da Fronteira Sem Fim passe com as emendas inclusas, a NASA terá que lidar outra vez com os problemas da Boeing, de atrasos intermináveis a custos estratosféricos, já que o módulo de testes obviamente não sairá de graça. Tanto é que o Senado não estabeleceu prazos nem valor para o "puxadinho", que terá que ser entregue à revelia de três estágios reais até 2026.

O pior de tudo é que a emenda proposta pelo senador Wicker nem saia do papel. Na melhor das hipóteses, o módulo de testes ficaria pronto em 2027 e ativado em 2028, tempo mais do que o suficiente para a NASA usar o SLS e matar o projeto. Isso claro, se a Boeing cumprir os prazos.

Fonte: Ars Technica

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