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Jeff Bezos vai ao espaço mas ninguém quer segurá-lo

Jeff Bezos vai ao espaço, mas ninguém quer segurar ele. Nem ele nem ninguém. É uma área nova e complicada, com riscos demais

3 anos atrás

Jeff Bezos está prestes a iniciar o mercado de turismo (sub)espacial, com o vôo do New Shepard planejado para 20 de Julho de 2021, com o delicioso risco (pra quem gosta de rinha de bilionários) de ter o olho furado por Richard Branson, que recebeu autorização do FAA e está planejando um vôo tripulado da VSS Unity no dia 4 do mesmo mês. Mas não é esse o problema.

Dita Von Teese o Branson segura de boa. Já o Jeff Bezos não. (Crédito: Virgin Galactic)

Desde a antiguidade existe o conceito de apólices de seguro para carga e embarcações. Isso está estabelecido no Código de Hamurabi, e até as vítimas do Titanic (ou melhor, seus parentes) receberam indenizações da seguradora. A Prudential, que existe até hoje. Isso foi possível por um motivo simples: Navios eram bem entendidos e era possível calcular riscos.

Com foguetes isso também existe. Satélites comerciais podem ser segurados em várias fases de sua vida, desde antes do lançamento, durante o lançamento, na vida útil projetada e depois disso. Segurar um satélite durante sua construção é inclusive muito importante, que o diga a Lockheed-Martin.

Em 2003 eles estavam alegremente construindo o NOAA-19, um satélite meteorológico para o Governo dos EUA. Um funcionário removeu 24 parafusos de fixação e esqueceu e avisar. Foram rotacionar o satélite, e ele se espatifou no chão.

Os custos dos reparos foram de US$135 milhões. A Lockheed abriu mão dos lucros do projeto, botou mais US$30 milhões e o Governo arcou com o resto dos custos pra consertar a hagada.

Como era projeto do Governo não havia a possibilidade de segurarem o satélite.

Ops. (Crédito: Bill Ingalls / NASA)

Hoje quase todo mundo que lança satélites caros paga alegremente pelo seguro, mas com a entrada das missões tripuladas, sejam as de mentirinha como da Blue Origin e Virgin Galactic, ou as de verdade como as da Axiom Space e SpaceX, abre-se uma nova e complicada caixa de problemas.

Espaço é perigoso e complicado. Até hoje 562 pessoas foram ao espaço. 18 morreram. Isso dá uma taxa de mortalidade de 3.2%. Se a aviação comercial tivesse essa taxa de mortalidade, com 4.3 bilhões de passageiros em 2018, deveríamos ter 137.6 milhões de pessoas mortas em desastres aéreos. Temos um total de 561 mortos. O que é ridiculamente pequeno, 12 horas de Covid no Brasil, mas mesmo assim é anormalmente alto, em 2017 foram 59 mortes e 2019, 289(fonte:Aviation Safety Network).

Com esses números, fica complicado calcular o custo de uma apólice, ainda mais se o seguro de vida for de um VVIP. Por isso astronautas nunca tiveram seguro de vida, exceto as pensões normais do Governo. E Jeff Bezos está no mesmo barco.

NENHUMA apólice de seguro de vida que eles porventura tenham vai cobrir algo precário como um lançamento espacial, e nenhum corretor vai arriscar uma apólice onde o sujeito tem mais de 3% de chance de morrer, a não ser que o custo seja... wait for it... astronômico.

Isso vai afetar a decisão de quem quer (e pode) pagar uma pequena fortuna para ir ao espaço, mesmo por alguns minutos? Muito provavelmente não, mas em algum momento essa questão vai precisar ser tratada, afinal a proposta da SpaceX é montar uma rede mundial de vôos sub-orbitais comerciais, transportando passageiros, não turistas.

E nenhum órgão oficial do planeta vai autorizar transporte comercial de passageiros sem regras de seguro de vida muito bem estabelecidas.

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