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9 dos mais bizarros tratamentos médicos do passado

Os tratamentos médicos do passado nem sempre eram eficientes, mas alguns eram especialmente cruéis, selvagens ou bizarros. Vamos conhecê-los!

3 anos atrás

Tratamentos médicos vem sempre evoluindo, a medicina aproveita os constantes avanços da física, química, biologia ou no caso da Ortopedia, da marcenaria, mas muitas idéias são abandonadas, e com o tempo consideradas absurdas.

Medieval. (Crédito: Paramount Pictures)

Neste texto vamos conhecer alguns desses tratamentos médicos que farão você rir, se indignar e ter calafrios, mas não perca a perspectiva, em 100 anos um artigo semelhante provavelmente vai falar a mesma coisa de vários tratamentos que hoje achamos modernos e eficientes.

Como sempre, as regrinhas: Não incluí tratamentos médicos da antiguidade, como estrume de crocodilo como anticoncepcional, nem pseudociências que funcionam com efeito placebo. Também não entram picaretagens explícitas como elixires, óleo de cobra e outras coisas vendidas por mascates, sem nenhum envolvimento de médicos.

A graça é justamente esses tratamentos médicos serem considerado oficiais e aprovados. Então, vamos a eles!

1 – Supositórios de Rádio

O final do Século XIX foi frenético no campo da Ciência; em 1986 Henri Becquerel descobriu a Radioatividade, em 1898 Marie e Pierre Curie conseguiram isolar dois novos elementos, Polônio e Rádio. Polônio é bem útil até hoje, principalmente para Vladmir Putin. Já Rádio era extremamente radioativo, o que não era problema pro pessoal da época.

Rádio era usado para tudo, inclusive em medicina. Na década de 1920 ele era fundamental para a criação de Radônio, um gás usado em tratamentos médicos para doenças como câncer. Popularmente vários remédios e tônicos eram vendidos, prometendo de clareamento dental à cura da impotência.

Como virar um vagalume... (Crédito: Domínio Público)

As pessoas compravam pasta de dente, sabão, até manteiga impregnadas com Rádio, um dos mais populares produtos eram os supositórios, que prometiam recuperar o vigor sexual em homens, tratar hemorróidas e resolver problemas femininos em suas partes íntimas.

Na prática na melhor das hipóteses uso constante de supositórios radioativos te transformaria no Incrível Culk, na pior das hipóteses, você ganharia um belo câncer. Felizmente a maioria dos produtos era pura picaretagem, e não continham rádio.

Pasta de dente. Radioativa. (Crédito: Domínio Público)

Infelizmente um monte de gente trabalhando com Rádio de verdade teve mortes horríveis, como as Meninas do Rádio, um grupo de funcionárias de uma empresa que pintavam mostradores de relógio com tinta radioativa, e tinham o hábito de lamber o pincel.

2 – Mercúrio para Sífilis

Sífilis é uma doença sexualmente transmissível que pode ser fatal, e por milênios afetou a Humanidade. Todo tipo de cura foi tentada, e no Século XI surgiu uma que se tornou popular; Mercúrio.

Os vários tratamentos médicos para Sífilis envolviam ungüentos usando Mercúrio, aplicações diretas nas feridas e até uma espécie de sauna aonde o paciente ficava numa caixa exposto a vapor de Mercúrio.

A prática persistiu até o começo do Século XX, com pílulas de Mercúrio e até injeções diretas do metal nas veias dos pacientes.

Caixa para fumigação com vapor de Mercúrio (crédito: Domínio Público)

Obviamente os que não morriam desenvolviam problemas neurológicos, já que Mercúrio é um metal pesado neurotóxico. O primeiro remédio realmente eficiente contra Sífilis, Salvarsan só surgiu em 1910, e não era muito melhor em termos de efeitos colaterais, Salvarsan era derivado de Arsênico, essencialmente veneno de rato.

Aí na década de 1940 surgiu a Penicilina e tudo mudou, hoje uma dose de Penicilina ou Benzetacil é suficiente para curar Sífilis em fase inicial. Caso mais avançado? Três injeções, uma por semana.

3 – Cocaína e Heroína para a mamãe e o bebê!

Coca já era usada séculos atrás por tribos sulamericanas como anestésico e estimulante. Até hoje chá de folha de coca é uma bebida popular no Peru, e isso atraiu a atenção dos cientistas, que descobriram na Cocaína um excelente anestésico e vasoconstrictor, a substância é usada em cirurgias oftalmológicas e de ouvidos, nariz ou garganta até hoje.

Melhor que Altoids, e provavelmente mais barato. (Crédito: Domínio Público)

Claro, fora os tratamentos médicos oficiais, no final do Século XIX a Cocaína virou uma febre, parecia os anos 1980. Servia para tudo. Havia xampus com cocaína para curar caspa e dar brilho ao cabelo, era vendida para clareamento dental e como estimulante. A substância era tão popular que fez parte da primeira formulação de um famoso refrigerante que vinha em uma garrafa de cinturinha fina.

Cocaína servia inclusive para aliviar dores de gengiva em crianças com os dentes nascendo. Funcionava? Provavelmente, mas hoje a gente sabe que de um modo geral não é uma boa idéia dar cocaína para bebês. Eles ficam hiperativos...

Imagina como os moleques eram encapetados nessa época. (Crédito: Domínio Público)

E a Heroína? Bem, Ópio já era conhecido desde a antiguidade, e no Século XIX os cientistas aprenderam a refinar a partir dele drogas como Morfina e Codeína, que acabaram se tornando drogas recreativas.

Em 1874, em Londres um químico chamado C. R. Alder Wright sintetizou uma variação da morfina chamada Diamorfina, mas depois de experimentos iniciais o composto foi abandonado até que 23 anos depois, de forma independente cientistas da Bayer sintetizaram de novo a Diamorfina.

O objetivo era produzir uma versão mais fraca e menos viciante da Morfina. Eles fracassaram de forma retumbante, a Diamorfina era duas vezes mais potente e bem mais viciante. A Bayer fez o que qualquer empresa honesta faria: Batizou o produto de Heroína, e vendeu como uma versão não-viciante de Morfina.

"Mãe, eu quero meu xarope de Heroína!" (Crédito: Domínio Público)

Heroína era um dos tratamentos médicos indicados para tosse, cansaço e outras doenças, mas era consumida em quantidades industrial (literalmente) como estimulante e droga recreativa mesmo.

4 – Lobotomias

Qual o melhor tratamento para depressão? Eu recomendo álcool, pessoas sensatas recomendam terapia e medicação. Nos anos 30/40 a recomendação era a Lobotomia, um procedimento cirúrgico considerado bárbaro mesmo pela maioria dos médicos na época, o que não impediu seu criador, o neurologista português António Egas Moniz de ganhar um Prêmio Nobel.

Popularizada nos EUA por Walter Freeman, que mesmo sem ser neurocirurgião (era só neurologista) praticou mais de 4000 cirurgias, a Lobotomia consistia em abrir um buraco na cabeça do infeliz, digo, paciente, e com o uso de um instrumento chamado Leucótomo, destruir áreas específicas do cérebro.

Como Freeman não tinha muita paciência, aperfeiçoou a técnica usando um martelo e um picador de gelo, introduzindo o instrumento pelo canto do olho do paciente, atingindo o córtex pré-frontal. Ele então girava o picador para destruir a região.

Isso valeu um Nobel (Crédito: Reprodução Internet)

Essa prática selvagem era usada em pacientes com depressão, esquizofrenia, distúrbio bipolar e psicoses em geral. O resultado era em alguns casos morte, em outros catatonia e em geral uma espécie de zumbificação, com o paciente ficando sem personalidade, perdendo boa parte de suas capacidades mentais.

Rosemary Kennedy, antes da lobotomia (Crédito: Arquivo familiar)

Rosemary Kennedy, irmã de JKF era uma jovem de 23 anos com alguns problemas, era predispostas a convulsões e variações de humor. Ela foi recomendada como paciente do Dr Freeman. Depois da cirurgia ela “perdeu suas habilidades verbais, sua capacidade mental era a de uma criança de dois anos, ela sofria de incontinência e fraqueza nos membros, Rosemary também não podia mais andar.” Rosemary morreu aos 86 anos, internada desde os 23 em uma clínica de repouso.

Neste artigo aqui eu detalho mais sobre a barbaridade das lobotomias.

5 – Trepanação

Ao contrário da Lobotomia, a trepanação é uma técnica cirúrgica que é o tratamento médico em si. Foram encontrados crânios do período Neolítico com marcas de trepanação, e a prática aparece na Europa, China, África, em todo lugar.

Trepanação consiste em abrir um buraco na cabeça de um vivente, remover a placa óssea e deixar o cérebro exposto ao ar.

Crânio de uma mulher, circa 3500AC, com cicatriz de trepanação, indicando que ela sobreviveu ao procedimento. (Crédito: Wikimedia Commons / Rama)

Sim, existe um bom motivo para termos evoluído uma excelente proteção óssea, nenhum órgão é tão protegido quando o cérebro, romper essa proteção não é muito inteligente.

Existem razões legítimas para praticar uma trepanação, como aliviar a pressão de um hematoma epidural, mas a maior motivação da trepanação era expelir espíritos malignos ou algo assim. E se você acha que é uma prática extinta, lamento informar mas há todo um grupo de pessoas que ainda praticam trepanação (Por tudo que é sagrado, não clique), com o objetivo de alinhar os chacras, ampliar a consciência, abrir o terceiro olho (no bom sentido) ou outras dessas bobagens new age.

6 – Fumo no Furico

Esse é um dos tratamentos médicos mais esquisitos, e que quando funcionava provavelmente era por causa do susto. Assim como as queimadas, é outra idéia não exatamente inteligente que aprendemos com os índios, no caso americanos.

É uma técnica de ressuscitação e estimulação da respiração que consiste em... soprar fumaça de tabaco no ânus do paciente. Através de um tubo, calma.

Okey... (Crédito: Domínio Público)

Quando o tabaco foi introduzido (calma!) na Europa, o uso “medicinal” dos índios veio junto. Os médicos europeus abraçaram a nova substância e começaram a recomendar o uso de enemas de fumo para um monte de doenças.

Com o tempo foi observado que nicotina não é uma boa substância e causava mais envenenamento do que qualquer efeito positivo, e a prática foi entrando em declínio, mas mesmo no final do Século XIX há relatos de fazendeiros dinamarqueses aplicando enemas de tabaco em cavalos.

Ah sim, fumo de forma mais tradicional também era considerado tratamento para diversas doenças, com empresas lançando... cigarros para asma.

Prefiro minha bombinha. (Crédito: Domínio Público)

7 – Chazinho de Múmia

Mais uma daquelas manias que começou bem cedo e só acabou no fim da Inglaterra Vitoriana: Milhares de múmias foram importadas do Egito para a Europa, aonde eram maceradas e transformadas em pastas e elixires.

As múmias tinham várias procedências, quando as legítimas começaram a escassear os vendedores egípcios saquearam tumbas árabes, tumbas egípcias mais recentes, que ainda usavam betume como agente mumificador, e em último caso eles compravam corpos de escravos, os recheavam de betume e deixavam secar no deserto.

Um vendedor de múmias, Egito, 1870 (Crédito: Harvard Art Museums/Fogg Museum)

As múmias eram usadas para tudo, tratavam de epilepsia a menstruação atrasada. Depois de alguns séculos descobriu-se que era tudo um erro de tradução. Os médicos da antiguidade usavam betume como base de seus remédios. Betume é um derivado de petróleo bem viscoso, em árabe betume se chama mūmiyā. Pegou?

Pois é. Os idiotas passaram séculos achando que mūmiyā era múmia e fazendo chazinho com humanos ressecados triturados à toa.

Múmias também eram usadas para fazer... tinta. O nome oficial é Marrom-Múmia (Crédito: Reprodução Internet)

8 – Insulina para esquizofrenia

Em 1922 Leonard Thompson se tornou a primeira pessoa a receber insulina. Até então diabetes era uma sentença de morte. Hoje milhões de pessoas vivem vidas felizes e produtivas, regulando sua glicose com doses de insulina sintética, mas a substância teve usos bem menos nobres, graças ao psiquiatra austro-americano Manfred Sakel.

Leonard Thompson e um dos primeiros frascos de Insulina. (Crédito: Universidade de Massachusetts)

Ele estava procurando uma forma de tratar esquizofrenia, que pode ser uma doença bem debilitante, e na época com tratamentos médicos bem mais limitados do que hoje.

Sakel desenvolveu um protocolo no qual pacientes recebiam doses de insulina progressivamente maiores, até entrarem em hipoglicemia seguida de coma. A insulina era cortada e esperavam o coitado sair do coma. Um tratamento podia durar meses, com algo entre 40 e 60 comas.

Na prática ele estava estressando o organismo dos pacientes, gerando quadros de extrema obesidade e causando dano cerebral, que Sakel enxergava como “melhoras” nos pacientes. Tal qual a Cloroquina hoje em dia, somente Sakel e seus seguidores conseguiam enxergar resultados positivos. Em 1957 o Lancet publicou um artigo revelando o “mito da Insulina”, mas a prática prosseguiu até os anos 1970.

9 – Cortando gengivas de bebês

Uma das origens do mito de que na Idade Média as pessoas viviam muito pouco é a mortalidade infantil, que arrastava para baixo as médias de expectativa de vida. Bebês morriam feito moscas, quando todo mundo era hippie e fazia parto em casa, sem assepsia ou acompanhamento médico.

As mortes nos primeiros anos de vida também eram enormes, dada a ausência de coisas como vacinas.

O período com maior incidência de mortes entre bebês coincidia com o aparecimento da primeira dentição, então era conhecimento comum e ancestral, desde a Grécia Antiga, mais uma prova de que sabedoria antiga pode ser uma grande bobagem. Correlação não implica causalidade, mas os médicos não queriam saber.

Um crânio de criança com os dentes-de-leite e os adultos. Bons pesadelos. (Crédito: Reprodução Internet)

Como para eles o surgimento dos dentes causava problemas, era preciso acelerar o processo. A solução veio no Século XVI, com um cirurgião francês chamado Ambroise Paré. Ele desenvolveu uma técnica na qual assim que um inchaço aparecesse na gengiva do bebê, indicando um dente de leite a caminho, ele usava o bisturi para remover toda a gengiva e deixar o dente exposto.

Isso mesmo. O sujeito dissecava a gengiva saudável de um bebê com alguns meses de idade até chegar no dente. Na seca, antes de terem inventado a anestesia, sem nem mesmo a Cocaína lá de cima.

A prática continuou comum por muito tempo. Embora hoje ninguém mais faça isso, um livro de odontologia de 1938 ainda recomendada a cirurgia.

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