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Capacete especial usa magnetismo para reduzir tumor cerebral

Magnetismo já é usado para tratar câncer, mas estudo revela que equipamento com osciladores conseguiu pela 1ª vez reduzir um tumor cerebral

3 anos atrás

O uso de magnetismo para o tratamento de câncer não é exatamente uma novidade. A hipertermia magnética é uma técnica que usa nanopartículas de um composto de praseodímio-ferro-boro (Pr-Fe-B), que uma vez aplicadas e expostas a um campo magnético, atuam sobre células cancerosas matando-as com calor.

No entanto, uma nova técnica revelou resultados otimistas para um dos casos mais difíceis de tratamento: um paciente de 53 anos apresentou uma significativa redução de um tumor cerebral, ao ser submetido a um tratamento com um capacete especial, esquipado com osciladores magnéticos.

Imagem meramente ilustrativa (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

Imagem meramente ilustrativa (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

A novidade foi publicada por uma equipe de profissionais dos Departamentos de Neurocirurgia do Instituto Neurológico do Houston Methodist Hospital e do Weill Cornell Medical College, instituições de Houston e Nova Iorque respectivamente, ambas nos Estados Unidos. O equipamento é um capacete comum, como os usados por ciclistas, equipado com três osciladores que criam um campo magnético ao redor da cabeça.

O conjunto é ligado a um controlador e uma bateria, de modo a aplicar a rotação precisa a fim de criar um campo que possa afetar o desenvolvimento do glioblastoma, um tipo de tumor maligno crítico e de tratamento complicado, que costuma se manifestar no cérebro, causando pressão e desencadeando sintomas de sonolência a alterações de humor, além de consequências similares às de um acidente vascular cerebral (AVC), podendo evoluir para perda de funções motoras até o coma.

O paciente em questão foi submetido a sessões diárias durante 5 semanas, no hospital e em casa, com a ajuda da esposa, inicialmente por 2 horas diárias, depois expandido para seis. Ele acabou falecendo, devido a um ferimento não relacionado ao câncer ou ao tratamento com magnetismo, mas uma autópsia do cérebro revelou que o tumor havia sido reduzido para 2/3 do tamanho original, do início da pesquisa ao óbito.

Ao todo, o tecido comprometido perdeu 31% de sua massa.

Capacete magnético usado no tratamento (Crédito: Reprodução/Houston Methodist Neurological Institute) / magnetismo

Capacete magnético usado no tratamento (Crédito: Reprodução/Houston Methodist Neurological Institute)

Segundo o prof. Dr. David S. Baskin do Weill Cornell Medical College, que conduziu o estudo junto a outros pesquisadores, a eficácia do tratamento experimental que usa magnetismo só pôde ser comprovada graças à cooperação do paciente e de sua família, inclusive por terem permitido a realização da autópsia que de fato, identificou a redução do tumor em um curto espaço de tempo.

O glioblastoma multiforme (há uma variação que se manifesta na coluna vertebral) é um dos tipos de câncer mais devastadores que existem, junto com o de pâncreas, e quase sempre o diagnóstico é fatal.

O paciente (ele ocorre com mais frequência em adultos a partir dos 60 anos, em geral homens, mas pode aparecer também em mulheres e jovens) costuma ter uma expectativa de vida limitadíssima entre o diagnóstico e o óbito, variando entre 3 meses sem tratamento a até 3 anos, e poucos são os casos onde uma intervenção cirúrgica mostra bons resultados, por ser especialmente agressivo.

Em média, apenas de 3% a 5% dos pacientes diagnosticados conseguem ter uma sobrevida de até 5 anos, e a taxa de mortalidade é de quase 100%, independente de quanto tempo leve. Há casos muito isolados de pacientes que conseguem conviver com a doença por muito tempo, mas isso depende de quantos recursos tenham à disposição.

A cantora Marie Fredriksson (na foto com Per Gessle, com quem formou o Roxette) teve uma sobrevida de 17 anos (Crédito: Karin Törnblom) / magnetismo

A cantora Marie Fredriksson (na foto com Per Gessle, com quem formou o Roxette) teve uma sobrevida de 17 anos (Crédito: Karin Törnblom)

Um dos casos mais conhecidos foi o de Marie Fredriksson (1958-2019), vocalista da dupla Roxette. Entre o diagnóstico do tumor cerebral em 2002 e sua morte, a cantora combateu a doença por impressionantes 17 anos, uma sobrevida altíssima dada a típica agressividade do glioblastoma. Claro, é preciso apontar que ela tinha mais condições financeiras para custear os tratamentos que estenderam sua expectativa de vida.

A pesquisa do Dr. Baskin e de seus pares representa um avanço tanto para quem tem menos condições financeiras, quanto para quem apresenta quadros com tumores mais agressivos e/ou inoperáveis, com uma opção não-invasiva que pode ser usada em conjunto com tratamentos tradicionais, como rádio e quimioterapia. O profissional, no entanto, não descarta um cenário futuro onde estes podem não ser mais necessários, se o método do magnetismo via capacete especial se mostrar realmente eficiente no combate a tumores cerebrais.

O capacete magnético recebeu aprovação da FDA (Food and Drug Administration, órgão norte-americano equivalente à Anvisa) para uso compassivo (experimental e sem registro, voltado a pacientes de doenças crônicas debilitantes, como opção acessória) em tratamentos monitorados, de forma a determinar se o equipamento poderá no futuro ser autorizado como uma opção real no combate a tumores agressivos no cérebro.

Referências bibliográficas

BASKIN, D. S. et. al. Case Report: End-Stage Recurrent Glioblastoma Treated With a New Noninvasive Non-Contact Oncomagnetic Device. Frontiers in Oncology, Volume 11, Nº 708.017, 6 páginas, 22 de julho de 2021.

Fonte: Houston Methodist, Engadget

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