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SpaceX cobra 11x mais barato e Bezos ataca novamente

A SpaceX foi escolhida para um lançamento importante da NASA, que custará 11 vezes menos do que a alternativa. Ah, e tem Bezos apelando

3 anos atrás

A SpaceX e a Blue Origin andam disputando contratos da NASA, mas ambas enfrentam uma concorrência muito maior, mais poderosa e desleal: O Congresso dos EUA. Mais especificamente, o imenso elefante branco que é o SLS – Space Launch System.

Haja motor. (Crédito: SpaceX)

Já falamos (mal) do SLS várias vezes aqui no MeioBit, então para resumir, ele é um foguete ultrapassado e superfaturado criado para substituir o igualmente ultrapassado e superfaturado Constellation, que por sua vez seria o substituto do superfaturado e ultrapassado ônibus espacial.

Quando o Constellation falhou em apresentar qualquer resultado prático, com bilhões acima do orçamento e anos atrasado, a NASA fez um lançamento capenga em 2009, com um Ares I-X. Basicamente um motor de combustível sólido do Ônibus Espacial, o Ares I-X só tinha 4 dos cinco módulos de combustível preenchidos. Não havia segundo estágio nem cápsula, usaram um “simulador de massa”, que geralmente é um bloco de concreto.

O Ares I-X decolou, depois de 2 minutos o combustível se esgotou, o “segundo estágio” foi liberado e a missão acabou. O custo da brincadeira foi de US$450 milhões. Ah sim, o programa Constellation já estava cancelado antes do lançamento.

O Ares I-X atingiu um apogeu de 45Km, até a trosoba do Jeff Bezos conseguiu chegar mais alto. US$450 milhões pra nada.

O SLS tinha a proposta de aproveitar a tecnologia do Constellation, que por sua vez aproveitava a do Space Shuttle, mas muito mal. Um bom exemplo é o RS-25, um dos mais incríveis motores já criados pelo Homem. Projetado no começo da década de 1970, o  Aerojet Rocketdyne RS-25 não só era poderosíssimo, mas também reutilizável.

Tanto que o SLS vai utilizar motores construídos para o Ônibus Espacial, vários deles veteranos de dezenas de missões ao espaço. Foram construídos 46 deles, a um custo de US$40 milhões por unidade. Em valores de 1970. US$480 milhões em valores atuais.

Cada vôo do SLS vai usar 4 motores desses, que serão descartados e cairão no oceano.

Mal ou Bem o SLS ao menos existe, é mais do que se pode dizer do New Glenn (Crédito: NASA)

A NASA não gosta nada de ser forçada a engolir o SLS, e pra piorar o Congresso está tentando forçar a NASA a usar o foguete nas missões lunares. A estimativa é que um lançamento de uma cápsula Orion no SLS custe US$2 bilhões. Um lançamento normal do SLS, sairia por US$1,5 bilhões.

Agora, parece que rolou um refresco. Em 2024 se tudo der certo será lançado a Europa Clipper, uma sonda que estudará em detalhes Europa, o satélite de Júpiter que o Monolito proibiu a gente de pousar.

A sonda vai custar US$4.25 bilhões, o que é uma facada, mesmo pra países com programas espaciais de gente grande, e com a NASA tendo que apertar o cinto, perceberam que botar em cima disso o custo de US$2 bilhões para lançar usando o SLS rasparia o cofrinho da Agência.

Ainda há um problema extra: O SLS apresenta vibrações para as quais o Europa Clipper não foi projetado para lidar. Seria preciso projetar, construir e testar todo um novo sistema de conexão entre a sonda e o foguete. Esse sistema foi orçado em US$1 bilhão, e como dizia o Congressista Everett Dirksen, “Um bilhão aqui, um bilhão ali e logo a gente está falando de dinheiro de verdade”.

O Europa Clipper é da largura de uma quadra de basquete. (Crédito: NASA)

Agora o Congresso flexibilizou um pouco as opções, e permitiu à NASA orçar o lançamento com outros lançadores. A SpaceX foi selecionada, com o Falcon Heavy, um foguete que tem uma imensa vantagem sobre o SLS, o Vulcan da ULA e o New Glenn da Blue Origin: Ele não só existe como já voa comercialmente.

Ah sim: O custo do lançamento no Falcon Heavy foi fechado em US$178 milhões. Isso mesmo, 11.2 vezes mais barato que o SLS.

O único ponto negativo é que com o SLS, que é bem mais poderoso que o Falcon Heavy, a Europa Clipper entraria em uma trajetória direta e chegaria em Júpiter em menos de 3 anos. Com o Falcon Heavy, ela terá que fazer flybys, pegando empuxo gravitacional na Terra e em Marte, o que aumentará o tempo de viagem para cinco anos e meio.

E o Bezos?

Bem, a NASA foi meio que coagida a voltar à Lua, e tem que usar o SLS para levar astronautas. Em Novembro de 2021 um SLS decolará levando uma cápsula Orion (vazia) que entrará em órbita da Lua, testando várias das tecnologias e softwares necessários, e depois retornará para a Terra.

Em Setembro de 2023 está planejado um vôo com quatro astronautas, que seguirão uma trajetória de retorno livre, contornado a Lua e voltando para a Terra.

O Grande Momento mesmo será em Setembro de 2024, quando uma missão levando quatro astronautas entrará em órbita lunar, dois deles se transferirão para um módulo de pouso e pela primeira vez em 52 anos humanos do Planeta Terra colocarão os pés na Lua.

Só que a NASA não tem um módulo de pouso, e fazer um em quatro anos seria totalmente impossível, com a velocidade burocrática da agência. O jeito foi contratar um fretado, como a NASA fez com a Dragon.

Ao invés de especificar nos mínimos detalhes cada parafuso, e orçar a construção com empresas privadas, a NASA criou o Commercial Crew Program, onde eram especificados resultados. Basicamente a NASA disse “eu quero levar X astronautas para a ISS, respeitando X especificações de segurança, com X protocolos de comunicação, etc, etc. Vou pagar X e tem que estar pronto dia X. Dá teu jeito.”

Starship, Dynetics HLS e ILV da Blue Origin em escala, com humano para referência (Crédito: John MacNeill)

Com o Human Landing System, foi a mesma coisa. A NASA especificou as características que deseja em um módulo de pouso, e deixou as empresas concorrentes apresentarem propostas. Depois de muita papelada, a vencedora foi a SpaceX, que receberia US$2.89 bilhões nos próximos anos para desenvolver sua versão lunar da Starship.

Aliás nem é difícil entender como a SpaceX venceu os concorrentes.

O contrato é todo baseado em marcos, o dinheiro é liberado somente se a SpaceX entregar o prometido em cada fase do projeto, e no prazo.

Obviamente a concorrência não gostou, e Jeff Bezos acionou sua máquina de Lobby, primeiro entrando com uma reclamação junto ao Governo dos EUA, alegando que a escolha de uma única empresa iria contra os princípios de concorrência e redundância da NASA.

As empresas responsáveis pelos vários módulos do Saturno V (Crédito: NASA)

A NASA explicou que não tinha dinheiro pra bancar duas empresas. Bezos então sugeriu que a NASA deveria receber mais US$10 bilhões para o Programa Artemis. Por coincidência uma emenda do Congresso dos EUA está propondo US$10.03 bilhões a mais de orçamento pro Programa.

Só que a tal Emenda, apesar de aprovada não especifica que a Blue Origin vai receber dinheiro, e sim que a NASA tem 60 dias para escolher outra empresa. Bezos está com medo de ser deixado pra trás, de novo, e agora puxou uma nova carta.

No caso uma carta-aberta, onde propõe que a Blue Origin seja contratada para construir o Human Landing System, e em troca abrirá mão de todos os pagamentos no ano-fiscal corrente e nos dois próximos, até um total de US$2 bilhões.

O texto é explícito: Não é um empréstimo ou um adiamento, eles estão abrindo mão permanentemente do dinheiro, estão se propondo a literalmente trabalhar de graça.

Trabalho de graça é excelente, pergunte pros Faraós, mas o ato de desespero de Jeff Bezos não é vantajoso pra NASA, pois depois dos US$2 bilhões, ela terá que entrar com dinheiro, e estará pagando duas vezes pelo mesmo serviço.

Starship Lunar (Crédito: SpaceX)

Quando a NASA contratou empresas para o Programa Apollo, publicava propostas e abria concorrências, mas depois de escolhidas as empresas, apenas uma cuidava de cada parte do projeto. Não havia um Módulo de Comando projetado pela Boeing e outro pela Lockheed Martin.

Redundância não é isso, isso é desrespeito com o dinheiro do contribuinte. Nem o Departamento de Defesa, notório sumidouro de dinheiro, contrata a construção de dois caças de companhias diferentes, “para ter redundância”.

Jeff Bezos precisa entender que o mundo não gira em torno dele, e mesmo o Homem Mais Rico do Mundo às vezes perde. Acima de tudo, ele precisa baixar a bola, a Blue Origin está prometendo muito, prometendo demais para uma empresa que em 20 anos nunca colocou uma Bala Juquinha em órbita da Terra.

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