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Que escassez? Segundo analista, mercado será inundado por chips

Com EUA, China, União Europeia e Coreia do Sul investindo em semicondutores, analista acredita que oferta de chips se tornará maior que procura

2 anos e meio atrás

O mercado pode ter reagido à escassez de chips causada pela COVID-19 de forma um pouco agressiva demais. De acordo com a analista Lillian Li, vice-presidente e executiva sênior da divisão de classificação de crédito da Moody's, graças a um maior investimento doméstico em semicondutores de diversas nações, podemos acabar tendo uma oferta muito maior do que a procura em pouco tempo.

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

Detalhe de wafer de chips de silício (Crédito: Shutterstock)

O relatório publicado pela Moody's na última segunda-feira (2) aponta para uma crescente no desenvolvimento e produção de semicondutores, puxada principalmente pela China, movimento inicialmente motivado pelas sanções impostas pelos Estados Unidos, durante a administração de Donald Trump, mas que pegou tração por conta da pandemia.

Só em 2020, o país injetou US$ 35 bilhões no setor, um aumento de 407% em relação a 2019. Ao mesmo tempo, foram gastos US$ 350 bilhões com importações de componentes no mesmo período. A meta da China, independente do que desencadeou essa corrida, é não depender do mercado externo e desenvolver chips para o mercado interno por conta própria, para no futuro, seu setor se tornar competitivo globalmente.

As principais fabricantes, é bom lembrar, não são chinesas. Olhando primeiro para a arquitetura ARM, que alimenta dispositivos móveis, equipamentos de infraestrutura, dispositivos mais simples e/ou especializados, e agora, graças ao empurrão da Apple, também desktops, tempos a taiwanesa TSMC, fornecedora de chips da maçã que também atende uma miríade de outros clientes, e a sul-coreana Samsung. A britânica ARM (ainda que ela tenha sido comprada pela Nvidia), embora não fabrique chips, detém a arquitetura, enquanto que a norte-americana Qualcomm é uma companhia fabless, ou seja, não imprime seus próprios chips.

Por conta das sanções impostas pelo governo Trump em 2019, a Huawei, então uma das grandes companhias do mercado mobile global, se viu impedida de usar componentes e por um tempo, perdeu acesso à arquitetura da ARM, decisão revista após a conclusão de que a tecnologia não era americana. Ainda assim, o bloqueio comercial à empresa a fez perder competitividade.

Com base no histórico, é compreensível que a China invista mais em desenvolvimento local para suprir suas necessidades de semicondutores, mas a pandemia da COVID-19, que afetou todas as fabricantes com uma escassez generalizada de materiais e pouca mão-de-obra disponível, devido às medidas sanitárias de isolamento, quarentena e distanciamento social, acabou servindo como mais um catalisador, visto que as habituais fornecedoras mal conseguiam atender seus próprios mercados domésticos.

Para outros mercados há igualmente outros fatores além da COVID-19, e um deles é a atual dependência de poucas fornecedoras fabricantes de chips, como a TSMC e a Samsung para componentes ARM, e a Intel para processadores x86/64. A pandemia apenas acentuou algo que já estava patente, e muitos governos não querem se dar ao luxo de depender de componentes de fornecedoras externas.

Logo da TSMC na sede da empresa em Hsinchu, Taiwan (Crédito: Ann Wang/Reuters)

Logo da TSMC na sede da empresa em Hsinchu, Taiwan (Crédito: Ann Wang/Reuters)

Nos EUA, o presidente Joe Biden anunciou um investimento de US$ 52 bilhões para o fortalecimento na produção local de semicondutores, sejam de companhias locais (no que a Qualcomm poderia se enquadrar, caso decida imprimir seus chips), ou externas que venham a se instalar no país, como a TSMC, que promete entregar chips de 5 nanômetros Made in USA já em 2024; a matriz deverá introduzir a primeira linha ainda em 2021, com os próximos iPhones, iPads e Macs.

Ao mesmo tempo, a União Europeia vai investir US$ 160 bilhões em um fundo de recuperação para a indústria local, a fim de aumentar a participação no mercado global de semicondutores de 20% para 30% até 2030, também para depender menos de fabricantes externas, sejam americanas ou orientais.

No entanto, quem está gastando mais é a Coreia do Sul, principalmente para não ficar atrás da China, ao anunciar um investimento de US$ 451 bilhões pelos próximos 10 anos. Toda essa grana, segundo Lillian Li, está sendo mal alocada. Com tantos países investindo rios de dinheiro na produção de chips, quem vai conseguir consumir todos eles?

De acordo com a analista da Moody's, que não é a única a pensar dessa forma, a menos que haja um "boom" repentino que estimule a procura exacerbada por chips, a previsão é de que o mercado acabe saturado de componentes, com muita oferta e pouca procura. Especialistas apontam que o cenário atual, com atualizações anuais de produtos para o consumidor como celulares, a introdução dos novos consoles da Microsoft e Sony, e as necessidades dos setores automotivo e de infraestrutura, não são capazes de escoar tudo.

Li aponta que dentre os país investindo em mais chips, a China pode ser a primeira a sofrer com o revés da super oferta, exatamente por sua situação atual, com os embargos dos EUA. Ao mesmo tempo que se vê forçada a estimular o desenvolvimento interno, o país não terá para quem oferecer seus produtos fora de suas fronteira, devido as sanções.

A analista afirma que parte da culpa pela escassez se deu por uma reação de pânico do mercado, com montadoras indo loucamente às compras antes que as linhas de montagem parassem, mas uma vez que esse sentimento passe e o fornecimento seja normalizado, e os preços voltem a patamares aceitáveis, é possível que muito em breve as companhias estejam "se afogando" em componentes, sem ter para quem vender, o que pode implicar em perdas severas para o setor.

Ainda que estas sejam especulações e previsões, é um fato que temos agora vários países investindo pesado no desenvolvimento doméstico de chips, independente dos motivos. Assim, resta descobrir como o mercado irá reagir no futuro com esse aumento na oferta de chips, quando a COVID-19 estiver mais controlada e o fornecimento de componentes normalizado.

Fonte: Fortune

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