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Resenha: O Esquadrão Suicida – nom nom de primeira (com spoilers)

O Esquadrão Suicida de James Gunn reúne vários magníficos bastardos (e outros) em uma das mais divertidas aventuras do Universo Estendido da DC

2 anos e meio atrás

Fato: O Esquadrão Suicida só existe graças à Disney. Quando James Gunn foi demitido em 2018, em uma ação de controle de danos devido um bando de nerds desenterrando piadas antigas e controversas do diretor em redes sociais, algumas com mais de uma década, a Distinta Concorrência Warner Bros. não teve dúvidas: ofereceu a ele um caminhão de grana para dirigir e roteirizar o segundo filme estrelado pelo grupo de criminosos mantidos em rédeas curtas.

A casa do rato percebeu a hagada tarde demais e o recontratou, mas o fato é que hoje, James Gunn transita entre os dois principais estúdios de filmes de super-heróis, e concorrentes diretos, com carta branca, o que ele muito agradece. Ah, o filme? São duas horas de um festival de violência sem controle, personagens cretinos e sem escrúpulos, mas que você simpatiza e torce mesmo assim.

Ninguém vale nada, mas você torce por (quase todos) eles mesmo assim (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

Ninguém vale nada, mas você torce por (quase todos) eles mesmo assim (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

Confira nossa resenha com alguns spoilers a seguir.

Cretino, violento e divertido

O Esquadrão Suicida é uma espécie de sequência do filme de David Ayer, lançado em 2016, mas funciona completamente à parte e não depende do primeiro para funcionar. Há uma referência explícita à aventura anterior (e indiretamente à Aves de Rapina) em um diálogo, mas nada além.

As duas películas são bem diferentes, entretanto. O filme anterior foi produzido para ser sério, mas graças ao sucesso de Deadpool, a produção sofreu interferência pesada dos executivos da Warner, cenas foram regravadas e tudo, para que ele ficasse mais "engraçado". Ainda que ele tenha feito sucesso nas bilheterias, o resultado final foi uma colcha de retalhos bem esquisita.

Em O Esquadrão Suicida isso não acontece, Gunn foi deixado livre para escrever a história como quisesse e escalar os personagens que queria, tirando os obrigatórios Arlequina (Margot Robbie), Rick Flag (joel Kinnaman) e Amanda Waller (Viola Davis), ainda a chefe da cambada de buchas descartáveis.

Aliás, "descartável" dá o tom do filme. A experiência pela qual Gunn passou, ao ser chutado na bunda pela Disney, acabou por respingar no filme e define bem como será a história, em seus primeiros 10 minutos: ninguém será tratado como um "alecrim dourado", intocável e invencível. Até Waller entra na roda.

O mais improvável grupo de Freedom Fighters (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

O mais improvável grupo de Freedom Fighters (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

A trama segue mais um dia na vida da Força Tarefa X, a unidade black ops do governo dos EUA para missões críticas e de grandes chances de tudo dar errado, e exatamente por isso, é essencialmente formada por criminosos cumprindo pena, alguns com poderes, que têm duas escolhas apresentadas por Waller: ou trabalham para o Tio Sam, ou têm seus miolos explodidos.

Aqui, o papel de líder per se do grupo (Rick Flag ainda é o oficial, mas convenhamos...) ficou com Robert DuBois, aka Sanguinário (Idris Elba), um mercenário e assassino treinado desde o dia em que nasceu pelo pai, e que foi parar na prisão de Belle Reve depois de mandar o Superman para a UTI com uma bala de kryptonita, o que é canônico. Ainda assim, ele não é 100% podre.

Servindo como contraponto, temos o Pacificador (John Cena), uma espécie de Capitão América sem moral alguma. Ele é um sujeito que ama tanto a paz e os EUA, que está disposto a matar qualquer um para protegê-los. Este personagem serviu como base para o Comediante de Watchmen, e vai ganhar sua própria série no HBO Max.

Há também o Polka-Dot Man, ou Homem das Bolinhas (David Dastmalchian), um sujeito com um traje ridículo e sérios problemas psicológicos, mas um dos poucos com um poder minimamente decente, o de jogar bolinhas nos inimigos, que não funciona como na HQ, já vou avisando.

Enquanto a Arlequina está por ali e continua sendo a despirocada imprevisível de sempre, com direito a ter um dia de princesa da Disney, a presença feminina que mais chama a atenção é Cleo Cazo, aka Caça-Ratos II, interpretada pela atriz portuguesa Daniela Melchior. Embora tenha aparência frágil, ela é capaz de controlar ratos e faz muita diferença no final do filme, além de render cenas hilárias com o Sanguinário, que age quase como uma figura paterna.

Sim, é uma espécie de repeteco do relacionamento entre o Homem-Robô e Crazy Jane de Patrulha do Destino, mas funciona bem. Ah, o primeiro Caça-Ratos, pai da atual, aparece em flashbacks e é interpretado pelo diretor Taika Waititi.

Parabéns James Gunn por me fazer me importar por uma vilã ridícula como a Caça-Ratos II (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures) / esquadrão suicida

Parabéns James Gunn por me fazer me importar por uma vilã ridícula como a Caça-Ratos II (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

O alívio cômico do filme, obviamente é carregado principalmente pelo Tubarão-Rei, que conta no áudio original com a voz de ninguém menos que Sylvester Stallone, que dá um show nas expressões monossilábicas de Nanaue. Esqueça o personagem que aparece em Flash ou em Harley Quinn, a versão do DCEU é bem menos articulada.

É um Esquadrão Suicida, lembra? Não se apegue

Além desses, há personagens como Savant (Michael Rooker), Javelin (Flula Borg), T.D.K. (Nathan Fillion, e nesse Gunn foi fundo), Doninha (Sean Gunn) e Capitão Bumerangue (Jay Courtney), este mais um que volta do primeiro filme, mas continua valendo a máxima: todo mundo é descartável, alguns vão rodar de forma bem gratuita e gráfica, lembrando que este é um filme 18+.

A missão do esquadrão é "simples": se infiltrar em Corto Maltese, uma nação insular que é basicamente a Cuba do universo DC, e destruir toda e qualquer evidência sobre um projeto chamado "Estrela do Mar", depois que o país sofreu um golpe militar e passou a antagonizar os Estados Unidos. Sim, claro, há interesses escusos na história.

O projeto é tocado pelo enigmático Pensador (Peter Capaldi, o 12º doutor), e o tal projeto tem potencial para destruir um país inteiro, seja ele qual for. E todo mundo já sabe que o vilão final é o improvável Starro, uma criatura alienígena capaz de escravizar qualquer ser vivo com suas extensões orgânicas. E de novo, lembrando que este é um filme para adultos, quem for pego roda de vez, diferente do que acontece nas HQs.

Há também um grupo de resistência aos golpistas de Corto Maltese, liderado por Sol Soria (Alice Braga), que vê na chegada do esquadrão uma chance de retomar o país, apessar do primeiro contato entre eles não ser lá dos melhores.

Aproveitem a Arlequina enquanto podem, Margot Robbie não deve voltar ao papel tão cedo (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures) / esquadrão suicida

Aproveitem a Arlequina enquanto podem, Margot Robbie não deve voltar ao papel tão cedo (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

Tecnicamente o filme tem muito da linguagem dos dois Guardiões da Galáxia, seja na narrativa rápida e resoluções inesperadas e imbecis para os problemas, ou visualmente, com transições usando estética dos quadrinhos, algo que já havia no Esquadrão Suicida de 2016. Aqui, no entanto tudo é dosado de forma comedida e sem exageros, não há humor deslocado ou carnificina sem um mínimo de justificativa, embora continue gratuita.

Parte do elenco também está dando adeus neste filme. Margot Robbie, por exemplo, declarou recentemente que não sabe quando vai voltar a interpretar a Arlequina, até porque fazer todas as cenas de ação (ela não usa dublês) é bem cansativo.

Na parte musical, James Gunn mostra outra vez que tem bom gosto e sabe montar playlists de qualidade, e temos de Johnny Cash, Kansas e The Pixies a coisas bem menos óbvias, como a brasileira Céu, que marca presença com Samba na Sola.

Conclusão

O Esquadrão Suicida não é um filme para menores, ele tem até mesmo uma cena relâmpago de nudez frontal masculina como alívio cômico, mas ao mesmo tempo, ele não é um filme cabeça ou cheio de "estilo visionário" como as produções de Zack Snyder. Mesmo com ele e sua esposa Deborah, os arquitetos do DCEU, obrigatoriamente atuando como produtores executivos, fica evidente que James Gunn foi deixado livre para contar a história que queria, e usar os personagens que lhe desse na telha.

Hoje, é seguro dizer que Gunn, Patty Jenkins (Mulher-Maravilha) e James Wan (Aquaman) podem se dar ao luxo de decidir, com mais ou menos liberdade, dependendo de cada caso, como seus filmes serão conduzidos, sem (muita) interferência de gente de cima.

O Pacificador (John Cena) voltará em uma série do HBO Max (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures) / esquadrão suicida

O Pacificador (John Cena) voltará em uma série do HBO Max (Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

Você não vai encontrar discussões filosóficas sobre heróis (até porque não há nenhum aqui), O Esquadrão Suicida é um filme cretino, estrelado por um bando de cretinos, tentando salvar um mundo que os despreza e os querem ver mortos, na melhor das hipóteses, e exatamente por tudo isso, é um filme divertido a beça, e só não se equipara a Aquaman por conta da faixa etária.

No fim, você se verá simpatizando com a maioria dos personagens, seja pelo Sanguinário e seu ponto fraco inesperado, pelos mommy issues do Homem das Bolinhas, pelo passado sofrido da Caça-Ratos II, ou pelo conjunto da obra do Tubarão-Rei.

Menos o Pacificador, esse é só um cretino babaca mesmo.

Nota:

5/5 Sebastians.

(Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

(Crédito: Reprodução/DC Films/Atlas Entertainment/The Safran Company/Warner Bros. Pictures)

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