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Café Robótico no Japão com um toque de inclusividade

O Japão já adora robôs, agora mais, quando um café incluiu garçons robóticos controlados remotamente por pessoas portadoras de deficiências

2 anos e meio atrás

Quando pensamos em Japão pensamos em Mechas, robôs, alta tecnologia, uma coisa meio Darling in the Franxx (pelamordedeus não google), mas embora o Japão esteja cheio de robôs industriais e robôs fofinhos, vemos pouquíssimos robôs de verdade no dia-a-dia.

OriHime-D é robô fofinho, né? (Crédito: Hollow are the Ory Labs)

A resposta desse mistério, é que criar um robô generalista é danado de difícil. Uma vez um roboticista respondeu, quando perguntado se os robôs um dia obedeceriam às Três Leis da Robótica, de Isaac Asimov. Ele respondeu que para isso os robôs teriam que saber distinguir um Homem de uma Pedra.

É muito fácil programar um robô para apertar um parafuso, mas é quase impossível fazer um robô entender a frase “vá no mercado comprar macarrão. Se tiver, traga parafuso”. As sutilezas lingüísticas e a imensa complexidade do mundo real o tornam extremamente hostis para robôs, andróides e humanos de poucas luzes.

Isso se torna um problema pra projetos que dependam de robôs realmente inteligentes, mas algumas empresas tiveram uma sacada inteligente, como a Kiwibot, que quer implantar robozinhos de entrega em várias cidades dos EUA.

O Kiwibot duraria uns 30s nas ruas do Rio de Janeiro. (Crédito: Kiwibot)

É complicado pra uma pequena Startup colombiana desenvolver robozinhos e achar parceiros pra colocá-los no mercado americano, já programar inteligência artificial para tornar esses robozinhos autônomos, é impossível, mas eles se saíram com a segunda melhor solução:

Os robôs têm alguma capacidade de manobra e detecção de obstáculos, mas o grosso da navegação é feita remotamente, com operadores na Colômbia. O Kiwibot assim como a Curiosity e a Perseverance é um carrinho de controle remoto glorificado.

O mesmo problema teve todo mundo no Japão que resolveu entrar no hype robótico e abrir cafés com garçons-robôs. A impressão é que se compra uma Alita em qualquer esquina de Akihabara, mas robôs de verdade mesmo com autonomia limitada são muito, muito caros.

Uma alternativa foi criada pelos Laboratórios Ory, fundados e comandados por Kentaro Yoshifuji. Eles abandonaram os robôs hardcore e desenvolveram o OriHime-D, um avatar robótico controlado à distância.

OriHime fazendo graça (Crédito: Ory Labs)

Eles fizeram uma demonstração em 2019 que foi tão bem-sucedida que levou à abertura do DAWN, uma cafeteria descolada com nada menos que 20 robôs atendendo ao público, mas a parte mais legal nem é essa.

O Japão tem um problema sério com pessoas portadoras de deficiências. Elas tendem a ser tratadas como invisíveis, a população se sente desconfortável perto delas, e mesmo com Leis de inclusão, é complicado arrumarem emprego.

Em muitos casos as pessoas sequer podem sair de casa, por incapacidade de locomoção. O Café DAWN e seus robôs foram pensados especialmente para esses casos.

Todos os robôs são operados de casa por deficientes, alguns idosos, outros jovens, alguns com casos severos de Esclerose Lateral Amiotrófica, que usam painéis especiais para controlar os robôs.

A surpresa é que os clientes do café adoram os robôs (que falam com voz fofinha, bem kawai), e são dotados de câmeras alto-falantes e microfones, permitindo comunicação bidirecional. Rapidamente os robôs deixam de existir, se tornam meros avatares e os clientes ficam batendo papo com o homem por trás da cortina.

O barman, apesar do título, é robô também (Crédito: Ory Labs)

Embora excelente a idéia não é nova. Gente inteligente vem contratando deficientes faz tempo. Em gráficas de jornal era comum turnos inteiros de surdos, que não se incomodavam em trabalhar ao ladod e máquinas extremamente barulhentas.

Na Segunda Guerra Mundial moças surdas eram contratadas por fábricas de munição, que as adoravam pois não ficavam de conversa fiada, não se distraíam ou ficavam incomodadas pelo barulho, e de bônus trabalhavam com afinco, pois o mercado de trabalho para elas era bem limitado no período de paz.

Também temos os idosos sofrendo de catarata e cegueira parcial, que eram obrigados a passar por cirurgia de remoção do cristalino. Descobriu-se que eles eram sensíveis a luz ultravioleta, então foram convocados como voluntários para observar de binóculos transmissões de código-Morse de espiões ingleses na França Ocupada, usando lanternas UV, totalmente invisíveis pra Raça Superior.

As moças cegas também foram fundamentais, os EUA perceberam que estavam perdendo muito material quando cortavam placas de Mica, um mineral usado como isolante térmico e elétrico. Alguém sugeriu testar com trabalhadoras cegas, que foram treinadas.

“A Mica precisava ser cortada e separada em camadas de diferentes espessuras. Nenhum processo mecânico era preciso o suficiente, e o jeito era fazer tudo manualmente, usando micrômetros e paciência para separar seis espessuras diferentes de folhas de mica, entre 0.0015 polegadas e 0.004 polegadas.”

Com extrema destreza manual, e sem se distrair com o ambiente à sua volta, as moças foram certeiras. Logo a linha de produção contava com um monte de jovens cegas, com produtividade em média 25% acima das outras.

Ninguém diz que o Café DAWN vai mudar o mundo, mas ele com certeza é uma excelente lembrança de que humanos são extremamente adaptáveis, versáteis e que às vezes só precisam de um empurrãozinho. Ou um robô amigo.

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