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Mineradores de Chia revendem SSDs usados como novos

Mineradores de Chia revendem SSDs usados após valor da criptomoeda despencar; compradores chineses estariam repassando-os como novos

2 anos e meio atrás

A Chia, uma nova criptomoeda anunciada em abril de 2021, prometia ser uma opção "verde" para a mineração, ao usar espaço de armazenamento em HDs e SSDs ao invés do poder computacional de GPUs. Como previsto, seu anúncio disparou uma busca insana por unidade de armazenamento, principalmente na China, o que fez o preço médio disparar.

Só que a proposta não vingou, e após o preço da Chia cair vertiginosamente, mineradores desinteressados estão revendendo os SSDs usados, que foram forçados ao limite e não são confiáveis, para terceiros que segundo o site VNExpress, os estariam "recondicionando" e os colocando no mercado, como unidades novas.

SSD e entrada SATA de notebook (Crédito: JIPEN/Shutterstock)

SSD e entrada SATA de notebook (Crédito: JIPEN/Shutterstock)

Para quem não lembra, a Chia foi criada pelo programador norte-americano Bram Cohen, responsável pelo protocolo P2P do BitTorrent, e se destaca das demais criptomoedas por não usar o método "proof-of-work", que concede fragmentos aos colaboradores através de cálculos massivos realizados por placas de vídeo. Ao invés disso, ela usa "proof-of-space", que ocupa lotes de armazenamento.

A Chia funciona usando um procedimento de plotagem, em que lotes de em torno de 256 GB são escritos e reescritos de forma constante, até cerca de 1,3 TiB, e só então os lotes finalizados podem ser armazenados e contabilizados. Por conta da natureza da criptomoeda, é muito mais eficiente realizar a plotagem em SSDs, que são mais rápidos, e armazenar os dados já processados em HDs tradicionais. Assim, ambos formatos de unidades eram alvos dos mineradores, que as compravam em lotes gigantescos.

Para dar uma ideia, o preço médio de um HD de 6 TB, usado para guardar os lotes de dados processados em SSDs, chegou a custar US$ 286, mas já voltou aos US$ 110 praticados originalmente; o valor sugerido pelo fabricante é de US$ 179.

O problema acerca da Chia, que todo mundo apontou lá no início, é que o processo de plotagem é extremamente agressivo para SSDs, que possuem um ciclo de vida baseado na quantidade de dados constantemente reescritos. Com o tempo, as unidades Flash vão perdendo a capacidade de reter carga, e perdem sua funcionalidade (algumas empresas estão desenvolvendo contramedidas).

Em média, a vida útil de um SSD é de 10 anos, mas com o processo de mineração da Chia, em que a plotagem escreve dados em um ritmo insano, a durabilidade despenca para em torno de 80 dias de uso ininterrupto. Ainda assim, com o preço inicial da moeda girando em torno de US$ 1,7 mil, muita gente achou que era um bom negócio, só que a boa fase da Chia não durou.

Oscilação do valor da Chia em dólares, de seu lançamento até 08/09/2021 (Crédito: Reprodução/CoinMarketCap)

Oscilação do valor da Chia em dólares, de seu lançamento até 08/09/2021 (Crédito: Reprodução/CoinMarketCap)

Desde seu lançamento em maio de 2021, a criptomoeda oscilou bastante, e atingiu mais de US$ 1,6 mil em em sua terceira semana de vida, mas depois disso, foi só ladeira abaixo. No momento da publicação deste artigo, a Chia é negociada por cerca de US$ 214, e a tendência é continuar caindo. Em suma, a moeda virtual flopou.

Boa parte dos mineradores já perceberam que não vale a pena continuar investindo na Chia, e estão pulando fora. De modo a financiar futuros empreendimentos com outras criptomoedas, estes estão vendendo os SSDs usados, muitos deles exauridos e próximos do ponto crítico, quando deixarão de funcionar, para compradores na China que os estão adquirindo em lote, geralmente com prejuízo.

Estes estariam submetendo as unidades a um processo de recondicionamento, o que o VNExpress não explica (pode ser algo envolvendo a manipulação dos dados SMART, que registram horas de uso e quantidade de dados escritos), e colocando os SSDs no mercado local como drives novos, já que a procura no país continua alta. Especialistas advertem para a possibilidade desses itens irem parar no grande mercado consumidor, tanto da China quanto no exterior, através de sites de e-commerce.

A recomendação dada a quem for comprar SSDs agora (a maracutaia quase não afeta HDs, que são usados por mineradores de Chia como unidades finais) é evitar a todo custo adquirir unidades usadas, já que existe um mercado por drives com pouco uso e com um tempo de vida útil ainda satisfatório. Caso os SSDs recondicionados tenham passado por uma "maquiagem" minimamente convincente, será difícil averiguar quando ele poderá dar pau.

Caso o comprador não possa evitar, a recomendação é exigir do vendedor que envie provas do SSD funcionando, bem como dados extraídos de programas que checam os dados SMART, como CrystalDiskInfo e outros, e repetir o processo quando estiver com a unidade em mãos.

Na via das dúvidas, o mais sensato a fazer é comprar SSDs novos apenas de canais de confiança; quanto à Chia, caso ela tenha mesmo uma vida curta, os preços de HDs e SSDs deverão voltar a patamares normais em pouco tempo.

Fonte: VNExpress, ExtremeTech

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