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Lost in Random — Original, mas pouco aleatório

Lost in Random apresenta um sistema de batalha bastante original, embalado em uma aventura gótica em um mundo (quase) randômico

2 anos e meio atrás

Lost in Random é o título final dos suecos da Zoink Games (Fe, Stick it to The Man!) enquanto desenvolvedora independente, visto que hoje ela faz parte da holding Thunderful Group, junto com a Image & Sound (SteamWorld Dig).

No entanto, o apreço do estúdio pela esquisitice gerou um adventure com toques de RPG e um sistema de batalha bem original, aliados a uma narrativa na forma de um conto de fadas gótico.

Lost in Random (Crédito: Divulgação/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Lost in Random (Crédito: Divulgação/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

O resultado é um jogo que usa o estilo sombrio de Tim Burton aliado ao humor nonsense do Monty Python, para contar a odisseia de uma garotinha para resgatar sua irmã, em um mundo onde tudo é regido pela aleatoriedade.

Rolam os dados

A história do jogo se passa no reino de Random, um lugar governado por uma rainha que decide todos os aspectos da vida de seus súditos, através do rolar de seu dado preto. O reino é dividido em seis regiões, cada uma referente a uma face do dado, onde Sixtopia é o mais rico (onde fica o palácio real) e Onecroft o mais miserável, que vive do lixo dos demais.

É aqui que vivem as irmãs Even e Odd, até o dia em que a rainha aparece e força a segunda a rolar o dado para decidir em que região de Random ela viveria pelo resto dos seus dias, uma regra imposta a todos que completam 12 anos.

Odd tira um 6 e é levada para Sixtopia, apesar dos protestos de Even, enquanto que os demais moradores de Onecroft, seus pais inclusos, nada fazem e aceitam o que a monarca decide. "Random rules", todos repetem (você vai ouvir bastante essa frase).

Lost in Random (Crédito: Reprodução/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Lost in Random (Crédito: Reprodução/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Um ano depois desses eventos, Even é atraída por um fantasma para fora de Onecroft e encontra Dicey, um misterioso dado senciente. Juntos, eles embarcam em uma jornada através das 6 regiões, a fim de resgatar Odd das mãos da rainha e de Nanny Fortuna, a bizarra braço-direito da governante, uma versão ainda mais perturbadora da Vovó Bondade.

Durante a história, Even descobrirá o quão poderoso é Dicey, mesmo inicialmente incompleto (como lhe faltam pontos, no começo ele só pode tirar 1 ou 2), e por que Random é dessa maneira, com a rainha sendo a única com um dado, sendo que existiram muitos outros em um passado do qual poucos se lembram, já que para muitos, a monarca é eterna e sempre reinou. Sim, há uma leve pitada de 1984 aqui.

Tudo tão errado que parece certo

Os suecos da Zoink Games se focaram ao longo dos anos em entregar jogos com experiências únicas, da jogabilidade ao visual, e em Lost in Random isso não é diferente. Os ambientes surreais, com bules de chá usados como casas, cidades construídas no céu e trincheiras devastadas por robôs gigantes, se complementam a NPCs bem estranhos, embora com pouquíssima variedade.

Lost in Random (Crédito: Divulgação/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Lost in Random (Crédito: Divulgação/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Você vai encontrar modelos de personagens iguais o tempo todo, até mesmo réplicas dos pais de Even em outros papéis, com as exceções sendo os NPCs mais importantes, essenciais para a progressão, estes sim únicos. A música, muitas vezes soturna e bizarra, completa o clima gótico, que faz deste um título que parece ter saído da cabeça de Tim Burton, o que é um elogio e não uma reclamação.

A veia humorística de Lost in Random é provida não só pelas situações absurdas de Random, em que cada região é bem diferente (em Two-Town, todos os cidadãos têm dupla personalidade ou são gêmeos; em Threedom, os trigêmeos filhos do falecido rei disputam uma guerra sem fim por supremacia, e por aí vai), mas também pelo onisciente narrador, com comentários ácidos ou se perdendo no personagem, falando mais do que deveria.

Falando da jogabilidade, Lost in Random é um adventure com toques de RPG, embora não seja de mundo aberto. Na verdade ele é bastante linear, com caminhos tão bem definidos e fechados que ele chega a ser quase "nos trilhos". Há um pouco de backtracking aqui e ali, a fim de adquirir itens ocultos que contam a história de Random, ou para cumprir as missões opcionais que rendem prêmios, mas ele fica limitado a cada uma das seis regiões.

Lost in Random (Crédito: Reprodução/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Lost in Random (Crédito: Reprodução/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Porém, o destaque fica mesmo para o sistema de combate. Even originalmente só possui um estilingue, que ela usa para quebrar vasos no mapa e coletar dinheiro, mas não causa dano contra inimigos diretos. No entanto, ela depende de Dicey e um deck de cartas, cada uma oferecendo efeitos diversos.

Funciona assim: os inimigos possuem cristais em seus corpos, que podem ser destruídos com tiros de estilingue ou atravessando-os com a esquiva, acionada no momento certo. Uma vez que você junte cristais suficientes, poderá rolar Dicey, e só aí você poderá usar cartas com poder limitado ao número que sair.

Por exemplo: se Dicey cair com um 2, você pode usar uma carta de poder 2, duas de poder 1 ou várias de poder 0, sendo que algumas delas incrementam o número tirado no dado. Há cartas de armas, como espadas, arcos e martelos, de efeito, como campos de área que enfraquecem inimigos, ou de "trapaça", como a oportunidade de sacar mais cartas, ou de reduzir o custo delas.

Lost in Random (Crédito: Reprodução/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Lost in Random (Crédito: Reprodução/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Com o tempo, você poderá editar o seu deck com cartas que receberá durante a narrativa, como recompensas em missões aleatórias, ou comprando-as de Mannie Dex, uma "loja viva" e entusiasta de cartas. Com este último, seu acervo aumentará quanto mais cartas você comprar, logo, é importante vasculhar o cenário atrás de cada vaso quebrável e switch onde Dicey pode se esgueirar, a fim de conseguir mais dinheiro.

Os confrontos não são aleatórios, mas predeterminados em áreas do mapa. Alguns deles são diretos, com hordas de inimigos poderosos, enquanto outros se apresentam como um jogo de tabuleiro, onde a missão é completar o percurso com as roladas de Dicey, enquanto dá cabo dos robôs da rainha e ativa efeitos para seguir em frente.

A mecânica dos confrontos é basicamente quebrar cristais, rolar Dicey, sacar cartas de armas e efeitos, causar dano nos inimigos, recuperar sua energia e recomeçar o ciclo, até sair vitorioso, o que pode se tornar um pouco maçante depois de um tempo. Por outro lado, as batalhas contra chefes são mais criativas, incluindo uma que envolve... rimas.

Lost in Random (Crédito: Reprodução/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

Por fim, considerando que este é um game voltado para faixas etárias mais baixas, especialmente pré-adolescentes, a falta de qualquer localização em português, tanto de áudio quanto de texto, será um fator limitante para alguns que desejam acompanhar e entender a história de Lost in Random. Contudo, isto poderá servir de estímulo para quem deseja treinar sua habilidade em outros idiomas.

Conclusão

Na soma dos fatores, Lost in Random é um jogo bem divertido. Ele possui uma história legal de acompanhar, que mantém o jogador curioso sobre o que Even e Dicey encontrarão em cada região de Random, e alguns dos NPCs únicos e antagonistas são bem interessantes. Embora bem linear, ele é enxuto e oferece mais de 10 horas de uma experiência sombria, com identidade própria.

No mais, a Zoink Games entregou uma aventura juvenil que agrada todas as idades, suficientemente original para não ser mais um "mais do mesmo" no mercado. Ele não tem absolutamente nada de jogos de plataforma, em que Psychonauts 2 é a bola da vez.

Lost in Random (Crédito: Divulgação/Zoink AB/Thunderful Development/Electronic Arts)

A desenvolvedora sueca visivelmente teve limitações de budget, evidenciado pela constante repetição de modelos para NPCs menos essenciais, ou da pouca variedade em inimigos comuns, mas estes são pormenores que não tiram o brilho do jogo. Lost in Random pode não ser perfeito, mas é um dos jogos mais originais lançados no ano de 2021, e não custa o valor de um AAA, sendo assim bem mais acessível.

A meu ver, Lost in Random é uma interessante opção para os mais jovens e àqueles que desejam fugir um pouco da mesmice, mas possui carisma suficiente para cativar o jogador. Eu, por exemplo, gostaria muito de uma continuação.

Lost in Random — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One, Nintendo Switch e Windows (analisado no PS5, com cópia cedida pela Electronic Arts);
  • Desenvolvedora — Zoink Games;
  • Distribuidora — Electronic Arts;
  • Classificação Indicativa — 12 anos.

Pontos Fortes

  • Identidade visual é bem interessante;
  • Sistema de combate original, embora arrastado;
  • História que prende a atenção.

Pontos Fracos

  • O progresso é bastante linear;
  • Não possui localização em português.

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