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Mercúrio retrógrado e como isso influencia na sua vida

Mercúrio Retrógrado é um fenômeno muito falado mas pouca gente sabe como ele funciona. Vamos aprender sobre essa misteriosa dança dos astros

2 anos atrás

Mercúrio retrógrado. Você já ouviu falar disso. Em verdade não é nenhuma novidade, é um fenômeno conhecido desde a Aurora do Tempo, e por milênios desafiou as mentes mais criativas da Humanidade.

Constelações do Hemisfério Sul (Crédito: Stellarium)

Dezenas de milhares de anos atrás nossos ancestrais se reuniam em volta de fogueiras, contando histórias de grandes guerreiros e caçadas desafiadoras. Deitados no chão, observavam o céu, imaginando o que seriam todos aqueles pontos brilhantes.

Logo povoamos o céu com nossos heróis, nossos deuses, nossa fauna, aprendemos a usar as estrelas para identificar as estações do ano, construímos monumentos que eram templos, centros comunitários e computadores para determinar a melhor época de plantar, e quando deveríamos nos preparar para o Inverno.

Tábua de argila, Babilônia, 164 AC, contendo dados de observações do Cometa Halley (Crédito: Wikimedia commons)

As estrelas principais ganharam nomes, juntas formavam constelações. Beduínos aprenderam a navegar pelo deserto. Na Polinésia, tribos que nunca desenvolveram a escrita criaram um sistema complexo de tábuas de marés e mapas de constelação, exploram milhões de quilômetros quadrados de alto-mar.

Quando progredimos o bastante para sair da subsistência básica, e tivemos recursos para começar a coletar e organizar nosso Conhecimento, começamos a olhar para o Céu e tentar responder as perguntas que todo mundo fazia.

"We know where we are" (Crédito: Moana/Disney)

Limitados pelo conhecimento da antiguidade, tentamos modelar o Universo de acordo com o que sabíamos. Se bem que, claro, é exatamente o mesmo que fazemos hoje.

Para muitos as estrelas eram furos no manto da Noite. Para outros faziam parte da esfera celeste, pontos luminosos colados em uma esfera de cristal. Ainda não tínhamos observado o Céu o suficiente para perceber que as estrelas se moviam umas em relação às outras.

No meio disso tudo, um problema com a teoria da esfera celeste: Objetos que pareciam estrelas, mas se moviam de forma independente do resto do Céu. Esses objetos receberam dos gregos o nome de Planeta, que significa “errante”.

O universo Ptolomaico, ilustração do cartógrafo e cosmógrafo português Bartolomeu Velho, para sua obra Cosmographia (1568) (Crédito: Domínio Público / Wikimedia Commons)

Alguns filósofos tentaram encaixar os planetas em esferas independentes, esferas dentro de esferas, com a Terra no centro. Com os dados de observações antigas foram criados modelos e fórmulas trigonométricas que conseguiam calcular com razoável precisão as posições passadas e futuras dos planetas no céu.

A Obra Máxima compilando toda essa informação foi o Almagest, livro de Ptomoleu escrito no século II. Por mais de 1000 anos ela foi “A” referência para astrônomos no mundo todo, até ser desafiada por Copérnico e seu herege conceito de um Sistema Solar Heliocêntrico.

O que Ptolomeu não explicava era o movimento dos planetas. Quer dizer, ele fornecia métodos de calcular esse movimento, mas há algo muito esquisito que não se encaixa na Teoria das Esferas: O Movimento Retrógrado.

Quando observamos as estrelas, percebemos que durante o passar do ano elas seguem trajetórias fixas. Algumas, como Polaris, estão diretamente ao Norte, e parecem fixas no mesmo ponto, já os planetas se movem em velocidades e caminhos diferentes.

Movimento Retrógrado Aparente de Marte em 2003 (Crédito: Eugene Alvin Villar (seav) / Wikimedia Commons)

Pior ainda: Ao contrário das estrelas, em determinado momento durante seus caminhos no Céu, os planetas começam a diminuir a velocidade com que se movem, então fazem uma curva e começam a... andar para trás. Mais adiante a velocidade diminui de novo, e o planeta retoma sua trajetória.

Esse movimento retrógrado aparente ocorre com todos os planetas, Mercúrio Retrógrado não é um fenômeno especial, no máximo é interessante por ocorrer várias vezes por ano, dada a órbita curta de Mercúrio, apenas 88 dias.

Encaixar esse movimento nas tais esferas celestes não era fácil, mas ignorando isso os gregos conseguiram criar um modelo matemático tão bom que com ele foi possível construir o famoso Mecanismo de Antikythera, um computador mecânico capaz de prever posições planetárias, eclipses e outros fenômenos.

O principal fragmento do Mecanismo de Antikythera. Imagine construir engrenagens 200 AC (Crédito: Wikimedia Commons)

Descoberto em um naufrágio na Grécia em 1901. O conjunto de engrenagens foi meio que ignorado até a década de 1950, quando começou a ser estudado em mais detalhes, nas só no final do Século XX técnicas como tomografia permitiram estudar o interior das peças.

Hoje estima-se que o computador pode ter sido construído até 200 AC, incorporando boa parte do conhecimento da época.

Por volta de Copérnico entendemos que o movimento retrógrado era uma ilusão causada pelo movimento normal dos planetas. Cada planeta orbita o Sol a uma distância e velocidade diferentes. Os planetas internos são mais rápidos, então eles costumam ultrapassar seus vizinhos mais lentos.

Basicamente é como quando você ultrapassa um carro na faixa ao lado, tem um caminhão na sua frente e você tem que reduzir. O outro carro começa na sua frente, por um momento parece andar pra trás em relação a você, e então volta a acelerar. Dobre essa analogia em uma forma circular, e você tem o movimento retrógrado.

O Movimento Retrógrado Aparente. Note como Marte aparenta retroceder. (Crédigo: Frog23 / Wikimedia Commons)

A forma de curva do movimento é derivada do fato das órbitas dos planetas serem inclinadas. Juntando a inclinação da Terra com a do planeta observado, temos a distorção.

O movimento retrógrado é proporcional à distância do planeta do Sol. Mercúrio permanece por volta de 21 dias em movimento retrógrado. Vênus 41, Marte 72, Júpiter 121 e Plutão, quase metade do ano.

Mercúrio aliás tem uma curiosidade e tanto: Sua órbita é de 87.96 dias terrestres, mas seu dia é bem longo: 58 dias, 15 horas e 30 minutos. Como a órbita é bem elíptica, quando está no Perigeu mercúrio se move em torno do Sol mais rápido do que gira em torno de si mesmo, então Mercúrio Retrógrado ou não experimenta um fenômeno único no Sistema Solar:

Sol Retrógrado.

Durante algum tempo um observador em Mercúrio veria o Sol nascer, seguir subindo no horizonte, rumo ao Oeste. Então ele diminuiria de velocidade, começaria a rumar para Leste, e se poria no lado errado. Mais algum tempo o Sol nasceria de novo e dessa vez seguiria rumo a Oeste, normalmente.

E agora a resposta que todo mundo esperava:

Como Mercúrio Retrógrado afeta sua vida?

Não afeta em nada, faça-me o favor. Astrologia é uma crendice da Idade do Bronze que não resiste a um mínimo de pensamento crítico. Esqueça essa bobagem.

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