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O terrível pesadelo de Lydia Fairchild

Lydia Fairchild passou pelo que nenhuma mãe gostaria de passar: Foi acusada de não ser mãe dos próprios filhos, mesmo tendo-os parido

2 anos atrás

Lydia Fairchild não tinha uma vida muito fácil. Em 2002, depois de se separar do namorado, ela estava desempregada, cuidava de dois filhos, com mais um pãozinho no forno, e o inútil estava enrolando com a pensão. Lydia entrou com o pedido para oficializar a pensão alimentícia, bem como receber benefícios sociais. Aí seu pesadelo começou.

Imagem genérica de biologia #32223 (Crédito:  ar130405 via Pixabay)

Ela forneceu material genético de si mesma e dos filhos, o ex-namorado a contragosto forneceu o dele, pois era rotina comprovar os vínculos de parentesco nesses casos. Saiu o resultado, e não deu outra, Jamie Townsend, o ex, era pai dos rebentos, mas havia algo errado.

Lydia Fairchild foi convidada a comparecer nos escritórios de Departamento de Serviços Sociais, e chegando lá a visita virou um interrogatório. A agente foi direta: “Quem é você?”

O problema foi o exame de DNA. Eles comprovavam que Jamie era o pai das crianças, mas Lydia não era a mãe.

Sempre desconfiados, os agentes começaram a investigar, tentando entender a motivação daquela mulher. Talvez ela estivesse, junto com Jamie tentando colher benefícios do Governo em nome da verdadeira Lydia, em um episódio de CSI Lydia teria sido morta, ou algo assim.

Como Jamie afirmava que Lydia ERA a mãe das crianças, e ela mesma defendia sua maternidade com unhas e dentes, o caso era complicado.

Logo ela começou a receber ameaças de que perderia a custódia das crianças, que cientificamente não eram filhos dela.

Novos testes de DNA foram feitos, e o resultado continuava o mesmo.

Nesse meio-tempo Lydia estava grávida, e um agente do serviço social acompanhou o parto, recolhendo material genético do feto, digo, recém-nascido. Mais uma vez, o exame mostrou que a criança que literalmente havia saído de dentro de Lydia algumas horas antes, não era filha dela.

Lydia Fairchild e os pimpolhos (Crédito: Archive.org)

A conclusão dos agentes era que Lydia provavelmente estava envolvida em algum esquema de mãe de aluguel.

O caso foi se arrastando, Lydia cada vez mais desesperada, mas ela deu a sorte de ter um advogado que acreditou nela, e conhecia Ciência.

Alan Tindell fuçou toda a documentação disponível sobre casos parecidos, até achar um paper sobre o caso de Karen Keegan, uma mulher de 52 anos que precisava de um transplante renal.

Como de praxe os doadores são testados geneticamente para identificar compatibilidade, e durante os testes, dois  dos três filhos de Karen apresentaram um DNA incompatível com a condição de “filho da Karen”.  Eles geneticamente não eram filhos dela.

Como nenhum dos envolvidos lembrava de alguém ser adotado, havia poucas explicações sobrando.

Desconfiados, os médicos começaram a coletar DNA de outras partes do corpo de Kegan, até que alguém lembrou que ela teve um nódulo da Tireóide removido, e havia uma amostra guardada em um laboratório.

O DNA do nódulo era compatível com as crianças. A resposta enfim apareceu: Kegan era uma Quimera.

Mitologicamente quimeras são criaturas formadas por partes de outras. Um Grifo por exemplo tem cabeça e asas de águia e corpo de leão. No mundo real quimeras são possíveis, na botânica enxertos de plantas de espécies diferentes são corriqueiros.

O que não é corriqueiro é isso ocorrer em humanos. Há menos de 30 casos documentados. Kegan era um deles. Tudo começou quando, nos primeiros dias de sua concepção, Kegan tinha uma irmã gêmea, bivitelina (formada por dois óvulos distintos). Por algum motivo a irmã não se desenvolveu, ela foi absorvida por Kegan e seu crescimento se resumiu a formar um ou mais órgãos. No caso de Kegan, a Tieróide e os ovários.

Karen Keegan e os três sobrinhofilhos. (Crédito: Dailykoala)

O advogado de Lydia Fairchild formulou então uma estratégia: Pediu um exame de DNA mais detalhado, comparando com o DNA da mãe de Lydia, e dessa vez as crianças eram compatíveis com a avó, se não com a mãe.

Uma coleta de DNA no colo do útero conseguiu amostras de Lydia que eram compatíveis com as crianças. Lydia também era uma quimera. Ela absorveu a irmã quando eram ainda meros blastócitos, ou algo assim. Tudo que restou dela foram os ovários, então tecnicamente Lydia Fairchild havia dado (horrível cacofonia eu sei) à luz aos próprios... sobrinhos.

Depois de longos 16 meses de terror, quase perder a guarda dos filhos e ir para a cadeia por fraudar o Seguro Social, a Defesa de Lydia Fairchild foi vitoriosa, o Juiz foi convencido e todas as acusações foram retiradas.

Quanto a Kegan, os filhos eram incompatíveis mas ela também teve final feliz, o marido, mesmo sem ser geneticamente associado a ela, tinha os receptores imunológicos certos e conseguiu doar um rim para a esposa.

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