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FTC abre processo para impedir compra da ARM pela Nvidia

Órgão regulador dos EUA afirma que compra da ARM pela Nvidia prejudicará competição; China, Reino Unido e UE também rejeitam aquisição

2 anos atrás

A Nvidia encontrou mais um obstáculo na compra da ARM: a FTC (Federal Trade Commission, ou Comissão Federal de Comércio), órgão regulador de comércio dos Estados Unidos, abriu nesta quinta-feira (2) um processo contra a companhia de Santa Clara, de modo a impedir o processo de aquisição da designer britânica de semicondutores, negociação fechada em setembro de 2020 por US$ 40 bilhões.

Os motivos são os mesmos levantados pelos governos da China, Reino Unido e União Europeia: a aquisição prejudicará o livre comércio e a competição justa no mercado.

Sede da Nvidia em Santa Clara, Califórnia (Crédito: JHVEPhoto/Getty Images)

Sede da Nvidia em Santa Clara, Califórnia (Crédito: JHVEPhoto/Getty Images)

A novela envolvendo ARM e Nvidia se arrasta há bem mais de um ano, desde que os rumores sobre uma aquisição começaram a circular. O Grupo SoftBank, que comprou a ARM em 2016 por US$ 32 bilhões, considera a venda uma boia de salvação, visto que a companhia de Masayoshi Son sofreu diversos reveses durante a pandemia da COVID-19. O problema é que a Nvidia, como empresa do mercado de semicondutores, não vem sendo considerada o ideal comprador pelos órgãos reguladores.

O governo chinês foi o primeiro a sinalizar que pretende barrar a compra, que precisa ser aprovada por órgãos de regulação dos EUA, Reino Unido, UE e China. Na ocasião, o site estatal Global Times publicou um editorial extraoficial, visto que o veículo costuma ser o termômetro da administração do país, dizendo que a compra da ARM pela Nvidia poderia prejudicar as empresas de tecnologia locais.

As tecnologias e designs da ARM para semicondutores estão presentes hoje em praticamente todos os dispositivos eletrônicos do planeta, pessoais e de infra, segurança, vigilância, you name it. A preocupação da China com a repatriação da ARM, se tornando de fato uma empresa norte-americana, o governo dos EUA acabe por torná-la uma divisão estratégica para o mercado nacional, impedindo que seus produtos sejam negociados com determinados clientes e nações.

Pouco tempo depois, foi a vez do governo do Reino Unido manifestar ressalvas semelhantes, ao ponto de citar riscos à segurança nacional, na possibilidade da ARM deixar de ser uma empresa nacional. A União Europeia seguiu a mesma lógica, afirmando que a compra da ARM por uma empresa que concorre diretamente com clientes da divisão, pode levar à Nvidia restringir o acesso destas aos designs de uma divisão controlada pela gigante das GPUs.

Conceito de núcleo Cortex de arquitetura ARM (Crédito: Divulgação/ARM)

Conceito de núcleo Cortex de arquitetura ARM (Crédito: Divulgação/ARM)

A bem da verdade, as chances de que a Nvidia de fato apele para uma americanização da ARM são pequenas, visto que isso desencadearia uma guerra comercial e uma chuva de processos, e justiça seja feita, a empresa afirmou mais de uma vez que a designer de chips continuaria sendo uma empresa e centro de pesquisas britânico, sem passar por maiores mudanças a não ser de propriedade, mas nada referente a como opera e com quem faz negócios.

Ainda assim, a Nvidia não está convencendo ninguém, e a FTC acaba de jogar mais lenha na fogueira. O processo aberto pelo órgão regulador dos EUA cita as mesmas preocupações já levantadas por outros países, e adiciona o fato de que a companhia de Santa Clara poderia praticar espionagem industrial, visto que teria acesso a informações sigilosas de concorrentes, que contam com os designs da ARM em seus produtos.

Citando apenas os grandes players do mercado de tecnologia, utilizam os designs da ARM empresas como sua concorrente direta AMD, além de Intel, Apple, Google, Microsoft, Qualcomm, Samsung, TSMC, Huawei, MediaTek, Broadcom, Marvell, MediaTek, Spreadtrum e várias outras, sem contar setores como infraestrutura.

O processo foi aberto pela FTC após investigações conduzidas acerca da aquisição, depois que empresas como Google, Qualcomm e Microsoft apresentaram queixas aos órgãos reguladores do país, citando riscos à competição justa. O documento diz que a compra deve ser impedida para evitar "que um conglomerado sufoque inovações para tecnologias das próximas gerações", ao dizer que a Nvidia poderá "distorcer incentivos da ARM de modo a prejudicar competidores".

A FTC cita também que a Nvidia já usa designs da ARM há muitos anos, e que ao controlar a divisão, terá vantagens notáveis contra seus principais adversários no mercado, que poderão ter acesso restrito ou mesmo bloqueado em casos estratégicos. Promessas anteriores de que a Nvidia, inclusive do CEO Jensen Huang, não vai se meter nos negócios da ARM, mesmo com empresas com as quais compete diretamente, não colaram.

Sede da ARM em Cambridge, Reino Unido (Crédito: Scott Brownrigg/Hundven Clements Photography)

Sede da ARM em Cambridge, Reino Unido (Crédito: Scott Brownrigg/Hundven Clements Photography)

Em nota ao site The Verge, um porta-voz da Nvidia disse que a empresa "continuará a trabalhar de modo a demonstrar que a transação beneficiará a indústria e promoverá a concorrência", que manterá o atual modelo de licenciamento aberto dos designs de semicondutores da divisão, e que abrirá oportunidades para agregar mais parceiros comerciais.

Caso o negócio corresse sem percalços, a Nvidia esperava fechar a aquisição até março de 2022, mas agora, na melhor das hipóteses isso não deve acontecer antes de agosto; analistas no entanto acreditam que as barreiras impostas por diversos reguladores, incluindo a recente do FTC, acabarão por mandar o plano para a cucuia.

Caso isso ocorra, o Grupo SoftBank poderá ser forçado a abrir o IPO da ARM para fazer dinheiro e sair do buraco, o que pode levar a consequências imprevisíveis.

Fonte: Federal Trade Commission, The Verge, CNBC, Bloomberg

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