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8 comandos e botões que você provavelmente nunca mais usou

Todo mundo ama botões, eles nos unem à tecnologia. Nós só não percebemos como os botões mudam com o tempo e a chegada do futuro

2 anos atrás

Arthur Clarke dizia que uma máquina não pode ter qualquer parte móvel, mas uma das bases da tecnologia é que dependemos de botões. Botões são sexy, botões, de preferência iluminados indicam a complexidade do equipamento. Gostamos de painéis cheios de botões.

Esse rádio é fake, obviamente. O display de 8 segmentos entrega. (Crédito: DWilliam via Pixabay)

O que acabamos não percebendo é que botões são um excelente símbolo de avanço tecnológico. Botões vem e vão, tecnologias antigas são substituídas, e nós muitas vezes nem percebemos quando deixamos de usá-las. Hoje há toda uma geração que nunca alugou um filme em VHS, nunca jogou numa Lan House e não faz idéia de como era malditamente complicado configurar Winsock para acessar Internet Dial Up.

Vamos então relembrar alguns comandos e botões que você (ou seu pai, sei lá, saia do meu gramado) já usou muito, e em algum momento que provavelmente não se lembra, usou pela primeira vez, completando a migração para uma nova tecnologia.

1 - Botão Turbo no PC

Nos primórdios da computação as CPUs eram extremamente limitadas, em recursos e em velocidade. Não havia multitarefa, seu processador executava um programa por vez. O IBM PC XT, lançado em 1983 tinha um clock de 4.77 MHz, pouco maior que os 3.5 MHz do ZX Spectrum, que era basicamente um brinquedo.

Assim, jogos no XT não rodavam exatamente bem, mas logo os fabricantes começaram a lançar novos computadores, com clocks mais rápidos. Em 1984 a IBM lançou o IBM PC AT, com um processador 80286 e clock de 8 MHz. No ano seguinte a Compaq lançou um IBM compatível rodando um processador 80386, com clock de 12 MHz.

Era mais fácil aprender grego em Braille do que configurar os 37823 jumpers pra mostrar a frequência correta. E sim a configuração de frequência era independente da configuração do display. (Crédito: Reprodução Internet)

Todo esse avanço fez com que os programas rodassem bem mais rápido, mas isso gerou um problema: Jogos principalmente eram otimizados para usar toda a CPU disponível. Não havia loops de atraso, nem controle rígido do tempo de execução de cada função. Quando seu processador é extremamente limitado, não faz sentido gastar processamento verificando se ele está rodando rápido demais.

Um 486 DX de 40 MHz e um 486 DX4 de 100 MHz, circa 1994. Um era bem mais rápido que o outro. (Crédito: Carlos Cardoso / MeioBit)

É como a decisão entre as montadoras européias que limita a velocidade da maioria dos carros de passeio em 250 Km/h. Essa sub-rotina está nos Audis e BMWs, mas eu duvido muito que você ache esse código na Unidade de Controle de um G-Wiz.

Até o Hammerhead Eagle I-Thrust dos 3 idiotas do Top Gear parece mais carro do que o G-Wiz. (Crédito: Top Gear)

A solução acabou vindo através do hardware. Os fabricantes de placas-mãe criaram um botão que apertado, reduzia a velocidade do clock para os 4.77 MHz do XT original. Sim, o botão turbo deixava seu PC mais lento.

Óbvio que mesmo a 4.77 MHz um 386 ou um 486 era bem mais rápido que um PC XT, o botão turbo foi ficando mais e mais inútil, e seu principal uso passou a ser para irritar gente que você não gostava. Com a entrada dos Pentiums no mercado, o Turbo saiu de linha de vez, e se você quisesse jogar jogos de XT, azar o seu.

2 - Afogador no Carro

Esse era o botão, ou melhor, comando mais misterioso do carro, no tempo em que carros tinham pouquíssimos comandos. O Afogador era ignorado por muita gente, exceto o pessoal que tinha carro a álcool, que no inverno era um inferno para pegar, de manhã.

Aí o afogador era essencial, mas o que ele faz?

Ele altera a estequiometria do sistema. O nome é complicado, mas o conceito é simples: Toda reação química tem uma relação ideal entre componentes, por isso os tanques de Hidrogênio nos foguetes são bem maiores que os de Oxigênio. Para uma queima completa, você precisa de dois átomos de Hidrogênio para cada um de Oxigênio.

No caso do motor de combustão interna aspirado, existe uma proporção estequiométrica ideal de ar e combustível, mas às vezes o ideal não é ideal. Em temperaturas frias o combustível tem mais dificuldade de se pulverizar, então menos álcool (ou gasolina) é detonada pela faísca da vela de ignição.

O Justin, do Smarter Every Day fez um vídeo detalhando o funcionamento de um carburador, é excelente.

O botão do afogador diminui o fluxo de ar para o carburador, o que reduz a pressão atmosférica. Isso faz com que mais combustível seja atomizado e jogado no cilindro. Essa mistura rica em combustível e pobre em ar ao contrário do que o senso comum sugere, é detonada com mais facilidade.

O carburador faz o motor rodar com menos eficiência térmica, gerando mais calor do que o normal, o que é o que queremos. Em alguns minutos o motor como um todo atinge uma temperatura de funcionamento decente, e o carburador pode ser desligado.

Botão? Alavanca? Comando do afogador em um carro velho. (Crédito: SealyPhoto / Wikimedia Commons)

Com a invenção da injeção eletrônica, o afogador desapareceu totalmente. Dezenas de sensores informam à Unidade de Controle a temperatura do combustível, a estequiometria atual, a ideal, e vários outros parâmetros, realizando ajustes centenas de vezes por segundo. Hoje, seu carro pode rodar com álcool, gasolina, mistura dos dois, Dreher e até água de salsicha, e vai pegar de primeira mesmo no pior inverno.

3 – Botão Rewind

O Mundo não era extremamente linear, no passado. Nos cilindros de cera dos primeiros fonógrafos, você movia a agulha para a posição que quisesse. Durante toda a era dos LPs, era só levantar o braço da vitrola e escolhíamos a faixa que quiséssemos, e até a parte da música, se você tivesse olho bom e mão firme.

Aí surgiram os 237479832 formatos de gravação em fita e filme (ou 237479833 se o Techmoan desenterrar mais um) e nossa vida se tornou linear. Avançar para a próxima faixa em uma Fita K7? Aperte FF e espere. Quer ouvir a faixa no final do álbum? Vai demorar.

Be kind, rewind. Ou leva multa. (Crédito: Carlos Cardoso / MeioBit)

No Videocassete, mesma coisa. Para chegar a um ponto adiante você tem que passar toda a fita até lá, e no final, acabou de assistir? Rebobine.

O DVD resolveu isso, certo? Não. O máximo de granularidade que ele oferecia eram os capítulos. Alguns aparelhos permitiam que você entrasse com o tempo na faixa e ele pularia até lá mas quem tem noção dessas coisas?

O jeito era avançar e recuar... linearmente.

Agora o melhor: Mesmo hoje, em plena era do streaming, ainda usamos os mesmos botões, agora virtuais. A metáfora da fita ainda é a mesma, só nos livramos dela em serviços como o YouTube. Nas TVs? Tudo linear.

4 - Azimuth no gravador k7

Essa só dois grupos conhecem: Nerds dos Anos 80/90 e audiófilos.

Antes de todo mundo usar disquete, o gravador K7 era o dispositivo de armazenamento preferido de todo mundo. As fitas eram baratas, todo mundo tinha um gravador em casa, e não havia problemas de compatibilidade.

Exceto que as gravações se deterioravam, e algumas eram mais sensíveis que uma colegial de anime. O computador simplesmente não conseguia ler o áudio. Um dos principais culpados era o Azimuth, que era muito mais que uma banda brega.

Cabeça de leitura desalinhada. (Crédito: Reprodução internet)

Basicamente, uma Fita K7 era dividida em duas faixas horizontais, Lado A e Lado B. (4, se for estéreo) A qualquer momento a cabeça de leitura só acessa uma dessas faixas, mas como cada gravador é diferente, às vezes a informação era gravada fora de posição, ou o gravador usado na leitura estava lendo uma das faixas E um pouquinho da outra.

Parafuso de azimute em um player K7 (Crédito: Reprodução Internet)

O botão de Azimuth era controlado por um parafuso na cabeça de leitura/gravação, que alterava sua posição. Era uma operação delicada que demandava paciência, felizmente ficou no passado.

5 - Vertical e Horizontal na TV

No tempo da TV analógica não havia o conceito de pixel, memória de vídeo e outras firulas. Era tudo uma questão de timing e voltagens para indicar à TV quando a informação de um campo de imagem começava e quando terminava.

Entre uma imagem e outra, havia algo chamado “barra de sincronismo”, que trabalhava em conjunto com o padrão de codificação do sinal de TV específico de cada região. Esse padrão indicava entre outras coisas a “largura” da imagem, assim a TV sabia quando deveria comandar o feixe de elétrons do tubo de raios catódicos para descer uma linha e voltar ao canto da imagem.

Sim, por incrível que pareça eu ainda tenho um dispositivo com controle de vertical, é uma tv de tubo portátil, à pilha, marca AISTAR, e acumulador é a mãe! (Crédito: Carlos Cardoso / MeioBit)

Esses alinhamentos eram muito precisos, e às vezes interferências no sinal ou tolerâncias dos componentes faziam com que eles fugissem dos padrões. A imagem então começava a rolar para cima, ou para o lado. Às vezes, os dois.

Esses efeitos foram brilhantemente utilizados na abertura da série The Outer Limits, de 1963, com a célebre frase “Nós controlados a vertical. Nós controlados a horizontal”.

Na verdade, quem comandava era você, toda TV tinha, na traseira, potenciômetros de ajuste. Um belo dia, as TVs foram ficando mais sofisticadas, circuitos integrados passaram a gerenciar essea ajustes, e os botões vertical e horizontal desapareceram. Só não me pergunte quando isso aconteceu.

6 - O apavorante botão do compartimento do filme

A primeira câmera da Kodak era um brinquedo caro. Custava US$25,00 em 1888, equivalente a US$731.44 em 2021, mas era uma estratégia de gênio. Com o slogan “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”, ela vinha com um filme de 100 poses. Você fotografava à vontade. Quando acabasse o filme, mandava a máquina para a Kodak, que por US$10,00 (US$292.58 em valores de 2021) revelava as fotos, montava num álbum, recarregava a câmera e mandava de volta.

Isso foi uma idéia genial. (Crédito: Reprodução Internet)

Depois disso as câmeras portáteis se tornaram mais baratas, mas filme ainda era algo caro, e frágil. Em momentos de extravagância a gente comprava rolos de 36 poses, e pensava 5 vezes antes de usar cada uma delas.

O tempo todo, um medo constante: Apertar sem-querer o botão de abrir o compartimento do filme. Se isso acontecesse, game over. Todas as fotos seriam expostas à luz, perdidas para sempre.

Um dia a Kodak inventou o filme em rolo, você ia fotografando, o filme era enrolado em um carretel e no final rebobinado. Se ele prendesse, o jeito era abrir a câmera no escuro ou debaixo de um cobertor, e tentar rebobinar na mão.

Aí alguém teve uma ótima idéia: Agora o filme inteiro era enrolado no carretel, à medida que as fotos eram feitas, ele era rebobinado para dentro do estojo protetor do rolo, assim as fotos já feitas estariam protegidas.

Ainda tenho pesadelos com isso. (Crédito: Reprodução Internet)

Graças a isso o único medo era abrir a câmera sem-querer e perder o filme ainda não usado.

Isso tudo perdeu o sentido com o advento das câmeras digitais, que reinaram por um momento fugaz antes de serem dizimadas pelos celulares.

7 - Reset em tudo

Seu PC com certeza tem um botão de reset, mas já reparou que seu notebook não tem?

Antigamente reset no computador era essencial, uma forma bem mais branda de reiniciar a máquina, ao invés de algo mais brutal como desligar no botão de power. Sim, computadores travavam direto. No auge das Telas Azuis qualquer usuário de Windows enfrentava algumas travadas por dia. O botão de reset era usado direto.

E não só em PCs. Meu Palm Pilot tinha um botão de reset, acessível através de um furinho. A maioria dos telefones não tinha, pois era só tirar a bateria. Qualquer equipamento eletrônico mais sofisticado vinha com um reset.

Pode procurar, embaixo de tudo que é velho, tem um botão de reset. (Crédito: Carlos Cardoso / MeioBit)

Hoje todo mundo aprendeu a gerenciar situações anormais de forma bem mais graciosa, mesmo quando já uma combinação de botões explícita para invocar um reset, ainda é algo feito via software, não hardware.

Outros dispositivos, nem isso. Minha Mi Band parte do princípio de que seu software é robusto o suficiente para nunca precisar ser reiniciado remotamente. É uma proposta ousada? Com Certeza, mas ao menos um de meus gadgets tem coragem de viver no futuro.

8 – Seletor de Canais

Houve uma época em que sua TV tinha capacidade de sintonizar mais canais do que havia estações transmitindo. Em grandes cidades tínhamos 5 ou 6 canais em VHF. Nos primórdios mesmo, um ou dois, então uma TV com capacidade de sintonizar 13 canais era mais que suficiente, como os 640KB que o Bill Gates nunca falou serem uma fartura.

As TVs por sua vez (reparou que este texto está cheio de aliterações?) vinham com um seletor de canais giratório que era fonte de frustração para qualquer criança. Primeiro, ele era um dos vários dispositivos tecnológicos que os pais não tinham o menor conhecimento sobre, mas exerciam sua arrogância inventando regras.

Do mesmo jeito que “videogame estraga televisão”, girar o seletor para trás estragaria o equipamento, então se você estava no Canal 6 e queria ir para o 4, não podia girar dois pra trás, tinha que rodar a desgraça toda. 7, 8, 9...

tlectlectlectlectlectlectclle... (Crédito: Housing Works Thrift Shops / Wikimedia Commons)

Nota: A primeira noção de que o mundo era bem maior do que a gente imaginava era percebida quando a gente fazia uma viagem para fora da cidade, ou do Estado, e descobria que os canais de TV tinham numeração diferente, e programação regional.

O seletor de canais era especialmente odiado por ser fonte de trabalho infantil. Ninguém tinha filho por motivos nobres, crianças eram criadas exclusivamente para levantar do sofá sob ordem paterna, e mudar o canal. Às vezes a gente nem estava na sala, nos chamavam, e tínhamos que girar a rodinha do diabo.

Um dia, visitando amigos ricos da família, descobri uma TV com uma caixa enorme, com quatro botões: Canal pra frente, pra trás (me senti vingado) e volume. Era um controle-remoto por ultrassom, uma maravilha tecnológica.

Quatro botões e conseguem fazer uma interface confusa. Tem hora que eu odeio engenheiros. (Crédito: Reprodução Internet)

Alguns fabricantes tentaram controles com fio, o que não deu muito certo, mas com o advento dos ultrassônicos e depois os por infravermelho, as crianças tiveram sua alforria, e o design das TVs mudou radicalmente. Hoje nenhuma TV tem painel frontal, a maioria das pessoas ignora até que, em algum lugar de sua TV há botões físicos, resistindo bravamente e servindo de backup para quando você inevitavelmente perder o controle remoto naquele buraco-negro que mora entre as almofadas do sofá.

Aí, você terá duas opções: Usa a App de sua Smart TV, ou produz um filho para servir de controle remoto. Instalar a app costuma ser mais rápido.

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