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Resenha – Pacificador, ou: James Gunn em Modo Revolt

Pacificador é um personagem de 3º escalão que nas mãos de James Gunn se tornou um delicioso absurdo, e uma das melhores séries muito erradas.

2 anos atrás

Pacificador, no melhor Efeito-Borboleta, começa alguns anos atrás, quando a Lacrosfera resolveu desencavar twits de 10 anos de idade, onde James Gunn fazia piadas ruins. A Disney entrou em modo de contenção de danos, e demitiu sumariamente o diretor, apenas para perceber que a Distinta Concorrência estava pronta para abocanhá-lo.

A entourage completa (Crédito: HBO Max)

James Gunn é cobra-criada da Troma, aquela produtora de filmes B que rendeu pérolas como Toxic Avenger. Na Troma, Gunn aprendeu a fazer muito com muito pouco, improvisar, adaptar, superar.

Com o tempo Gunn foi crescendo, escreveu os roteiros dos filmes do Scooby-Doo, fez o excelente e complicado Super, e acabou como aposta da Marvel para escrever e dirigir um filme com um grupo de desajustados com ZERO apelo popular: Os Guardiões da Galáxia.

Depois disso James Gunn fez o segundo Guardiões, escreveu cenas de seus personagens nos filmes dos Vingadores e foi produtor-executivo de Avengers: Infinity War e Endgame.

Gunn estava começando a escrever o Os Guardiões da Galáxia Vol. 3 quando foi sumariamente demitido, mas nem esquentou cadeira na Caixa pra sacar o FGTS, a Warner/DC jogou um saco de dinheiro, uma garantia de liberdade criativa, e oportunidade de dar espetadas na Marvel.

O resultado foi o bizarro, exagerado e extremamente divertido soft reboot do Esquadrão Suicida, onde Gunn demonstrou seu conhecimento enciclopédico de personagens obscuros, como o bizarro Arm-Fall-Off-Boy.

Ele destaca o braço e usa pra bater nos inimigos. (Crédito: DC Comics)

Vendo a hagada que fez, a Marvel chamou James Gunn de volta, mas antes de topar um contrato de não-exclusividade, ele resolveu presentear a DC com a série do Pacificador, e crianças, que série!

Pacificador, ou Peacemaker no original é um personagem da Charlton, editora comprada pela DC. Sua primeira aparição foi em 1966.

Na versão original do Pacificador ele é Christopher Smith, um diplomata que se torna um vigilante que luta pela paz, usando armamento não-letal. Depois da Crise nas Infinitas Terras, o Pacificador teve seu passado modificado, ele agora era filho de um ex-comandante de campo de concentração na Alemanha nazista, e isso o motivava a ser um pacifista.

Com o tempo o personagem foi mudando, se tornando um vigilante implacável que mata sem dó, a ponto de ser considerado radical mesmo por gente ruim como Amanda Waller.

Ele se acha um patriota... (Crédito: HBO Max)

Na versão de James Gunn o Pacificador é Christopher Smith, um vigilante fanático assassino psicopata que almeja a paz acima de tudo, “não importa quantos homens mulheres e crianças tenha que matar para consegui-la”. Depois de matar Rick Flag em O Esquadrão Suicida, o Pacificador passa um tempo no hospital, quando é re-recrutado por uma equipe ligada a Amanda Waller.

Acompanhamos o Pacificador em sua rotina diária, vemos que ele é um péssimo exemplo. Ele não é um herói, está muito mais pro Justiceiro do que pro Demolidor. Chris é sexista, egoísta, não liga para o que acontece com seus colegas, e só se foca em sua estranha visão de mundo.

Quem canta seus males espanta, e sim, é o que você está pensando. (Crédito:HBO Max)

Estranha mesmo, pois apesar de ser um sujeito extremamente escroto, o Pacificador não expressa visões racistas, sendo o oposto de seu pai, Augie Smith, que nessa versão é (ou era) o vilão Dragão Branco, um personagem criado em 1992, membro da KKK e do 4º Reich.

O pai de Chris é um ex-detento, gênio tecnológico que cria os capacetes e armas do Pacificador, mas despreza totalmente o filho, o culpa pela morte do irmão e faz questão de humilhá-lo o tempo todo. Não há arco de redenção, Augie Smith é uma pessoa ruim e desprezível, the end.

Enquanto isso, Chris tenta colocar sua vida nos eixos, com ajuda de Eagly, sua águia de estimação, e do Vigilante, um outro psicopata assassino mascarado, com o qual o Pacificador mantém uma relação de amizade bem íntima, às vezes até demais.

Sim, a águia está abraçando ele. (Crédito: HBO Max)

Em meio a tudo isso temos uma suposta invasão alienígena, a equipe do Projeto Borboleta, comandada por Clemson Murn, que não consegue se entender, e o Pacificador em crise de consciência por ter matado Rick Flag.

Ao contrário das outras séries da DC, Pacificador não tem o menor problema em mencionar outros heróis, inclusive com insinuações de que Aquaman faz coisas impublicáveis com peixes, mas onde James Gunn está se divertindo mesmo são nas referências. No primeiro episódio ele já menciona ninguém menos que... Bat-Mirim.

Sim, o Bat-Mirim, o kibe do Mxyzptlk criado para atormentar o Batman. Canônico. Em outro episódio Gunn fez o Pacificador comentar sobre o Matter-Eating-Lad, um bizarro membro da Legião dos Super-Heróis cujo superpoder é... comer qualquer tipo de matéria.

Pacificador não é uma profunda discussão sobre a condição humana, ponderando o papel do Homem diante do Universo e do Destino, mas também não é um quadro dos Trapalhões. James Gunn sabe que personagens mesmo absurdos funcionam melhor como criaturas tridimensionais, e todo mundo em Pacificador tem um arco, motivações e objetivos, mesmo que não exatamente nobres.

Não que seja uma série onde a gente torce pelo vilão, a gente apenas sabe que nenhum dos envolvidos é uma boa pessoa, ninguém está sendo enganado. Pense no Pacificador como o grupo do Billy Butcher em The Boys. Eles não são heróis, eles não podem ser, para fazer o que é preciso ser feito, eles precisam ser pessoas horríveis.

A vantagem é que eles são pessoas deliciosamente horríveis, e ver esse bando de desajustados convivendo entre si é bom demais.

Pacificador é uma série que não se leva a sério, sem ser uma comédia descarada. Uns chamam de paródia, mas não dá para parodiar a própria história. Também não é uma sátira, não é nenhuma desconstrução do gênero de super-heróis. De novo, não há nada profundo na série, mas nem tudo precisa ser Shakespeare.

De resto, Pacificador tem de tudo para todos os gostos, violência sangue e tripas, tiro porrada bomba, palavrão, nudez e John Cena de sunga branca. Diversão despretensiosa de primeira.

Onde assistir:

Pacificador passa na HBO Max.

Trailer:

Cotação:

5/5 Eaglies

Bônus:

A SENSACIONAL abertura da série:

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