Ronaldo Gogoni 2 anos atrás
A NASA e a Agência Espacial Canadense (CSA) abriram em 2021 um desafio para reunir ideias em torno de um problema: novas formas de preparar e armazenar comida no espaço. A meta é criar soluções para viabilizar refeições frescas, saudáveis e saborosas sem depender de uma cadeia de suprimentos da Terra, que se tornará inviável em explorações do espaço profundo, como em Marte.
O Deep Space Food Challenge está entrando na 2ª fase, e pagará até US$ 1 milhão em prêmios para residentes dos Estados Unidos. No entanto, (quase) qualquer um pode participar.
Ainda que estejamos desenvolvendo uma série de tecnologias para resolver os problemas de deslocamento para exploração do Espaço Profundo em missões de longa duração, como a Lua, Marte e Europa (sim, a gente vai ignorar o aviso, o que pode dar errado?), pouco tem se avançado nos esforços referentes à boia dos astronautas e futuros colonizadores.
Há uma concepção ingênua de que tudo virá da Terra, como fazemos hoje com a Estação Espacial Internacional, mas a distância ajuda e muito, tanto que hoje eles recebem de tudo, até mel, pudim e café.
Quando falamos de futuras colônias bem mais distantes, as coisas se complicam. Não tem como ir no mercadinho da esquina, e qualquer missão de transporte hoje leva de 260 a 330 dias para sair da Terra e chegar ao planeta vermelho. Agora imagine distâncias maiores.
Há também outros cenários casos que precisam ser levados em conta, como indivíduos com restrições alimentares, sejam elas involuntárias (intolerância à lactose, por exemplo, se bem que todo mundo que bebe leite é um mutante), por escolha (vegetarianismo, veganismo), ou por questões religiosas.
Em um cenário ideal, os astronautas e colonizadores do futuro teriam que comer de tudo, mas na prática, não dá para agir assim, selecionando quem pode subir com base no que come ou deixe de comer, o que é basicamente elitismo, algo que a agência não pode promover.
Claro que criar kits de comida não-padronizada ficaria caro demais, e a NASA não pode se dar a esse luxo, mas no fim das contas, não é nada prático e nem barato manter um delivery para longas distâncias, o da ISS só existe porque ela está logo ali, a 408 km de distância da Terra.
Logo, as agências espaciais decidiram que para missões no Espaço Profundo, as equipes sairão da Terra com tudo o que precisam para iniciar sua produção de comida, e depois disso, terão que produzi-la no Espaço, e é aí que entra o Deep Space Food Challenge.
Aberto em 2021, ele selecionará propostas para novos métodos para o melhor aproveitamento da comida no espaço, de modo a criar refeições nutritivas e verdadeiramente gostosas, que deixarão os astronautas e colonos satisfeitos.
E por padrão, as soluções também serão aplicadas para lidar com os problemas de produção, armazenamento e distribuição de comida na Terra, a fim de combater a fome, a desnutrição e a desigualdade no globo. Como é normal para a NASA, novas tecnologias para o espaço se revertem em melhorias aqui.
Só não se empolgue muito: os prêmios em dinheiro são apenas para cidadãos, residentes permanentes ou instituições dos Estados Unidos, e no caso de times, o líder deve ser americano ou ter residência no país; todos os demais, mesmo os canadenses, receberão apenas "prêmios de reconhecimento", talvez uma plaquinha para pendurar na parede.
Como de praxe, cidadãos e empresas dos países na lista de apoiadores do terrorismo do Departamento de Defesa dos EUA (a saber, Cuba, Irã, Coreia do Norte e Síria) estão completamente vetados de participar; o mesmo se aplica a cidadãos residentes individuais e companhias da China, mas indivíduos serão permitidos como membros de times, desde que não tenham nenhum vínculo empresarial e/ou com o governo de Pequim.
A segunda fase pretende pagar prêmios de US$ 20 mil para as 10 propostas selecionadas, e de US$ 150 mil para os 5 vencedores, que avançarão para a Fase 3. Mas diferente da fase preliminar, em que as melhores ideias foram selecionadas (e que distribuiu US$ 450 mil), os participantes terão que agora apresentar modelos funcionais de suas propostas, ou seja, provar sua viabilidade nas condições impostas por NASA e CSA.
Quem não conseguir, está fora do páreo.
No fim das contas, o Deep Space Food Challenge permitirá o surgimento de novas ideias para lidar com os problemas de produção de alimentos, seja na Terra ou fora dela, e quem sabe, viabilizar a permanência permanente de colônias em lugares distantes, se outros problemas forem resolvidos até lá.
Aos interessados, o site da NASA traz todas as informações sobre como participar do desafio.
Fonte: NASA