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Meta cogita tirar Facebook e Instagram da Europa. Reguladores agradecem

Meta se recusa a manter dados de usuários no continente europeu; reguladores respondem ameaça com "a vida é melhor sem Facebook"

2 anos atrás

O Meta passou por um tremendo vexame, ao cogitar a possibilidade de remover o Facebook e o Instagram da Europa. Normas da União Europeia obrigam companhias tech a manter os dados de usuários no continente, e a companhia de Mark Zuckerberg se recusa a fazê-lo, insistindo em tratá-los nos Estados Unidos.

No entanto, ao bater de novo na tecla de que vai desativar suas redes sociais no Velho Mundo, o Meta recebeu apoio inesperado de Robert Habeck, ministro da Economia da Alemanha, e de Bruno Le Maire, ministro das Finanças da França, que acreditam que a medida será ótima para a Europa.

Zuck agora aprendeu: nunca peça truco sem o zap na mão (Crédito: Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)

Zuck agora aprendeu: nunca peça truco sem o zap na mão (Crédito: Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)

O rolo envolvendo o Meta e a União Europeia não envolvem apenas a companhia de Zuck, mas todas as gigantes tech norte-americanas, que coletam dados de usuários europeus. Anteriormente, os governos local e dos EUA mantinham um pacto para a transferência de informações entre países, que seriam tratados e armazenados nas sedes das respectivas companhias. Contudo, em 2020, as coisas começaram a mudar, muito devido à GDPR.

Uma decisão da Corte de Justiça da União Europeia aniquilou o antigo pacto de cooperação e transferência de dados entre UE e EUA, também conhecido como Privacy Shield, sob a alegação de que as informações dos europeus usuários de serviços e produtos das companhias tech norte-americanas, como Apple, Google, Facebook, Amazon, Microsoft, etc., "não estariam seguros", determinando assim a manutenção dos mesmos no continente.

De lá para cá, tentativas para estabelecer um novo pacto e manter a transferência de dados não deram em nada, principalmente porque a União Europeia é resoluta em sua decisão de que as companhias tech que queiram operam nos países-membros da federação, que estabeleçam meios de manter, tratar e proteger os dados dos mesmos sem ter que levá-los para a América. Isso implicaria obviamente em maiores custos de manutenção, armazenagem, pessoal e outros, que as companhias não querem arcar.

O procedimento todo está passando por um escrutínio pesado por parte dos reguladores europeus, e é quase certo de que ele não será aprovado e as companhias acabem sendo obrigadas a se adequarem. Foi aí que o Meta tentou apelar outra vez para o FUD (Medo, Incerteza e Dúvida).

App do Facebook no iPhone (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

App do Facebook no iPhone (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Em seu relatório anual, a Meta anotou que não possui a intenção de se remover do continente europeu, mas recorrerá a tal opção caso não seja permitida coletar e tratar os dados dos europeus nos Estados Unidos, firmando sua posição de não ceder às determinações dos reguladores locais:

"Nós (o Meta) absolutamente não temos o desejo de sair da Europa, mas a realidade simples é que o Meta, e muitas outras companhias, organizações e serviços, dependem da transferência de dados entre a União Europeia e os Estados Unidos, de modo a operar seus serviços em escala global."

No relatório, o Meta diz que caso um novo acordo não seja adotado, e o Meta não seja permitido a continuar usando o atual modelo de transferência, ou opções alternativas, ele diz que  "provavelmente" não será mais capaz de oferecer muitos de seus mais significativos produtos e serviços na UE, "Facebook e Instagram inclusos".

Fica claro que a intenção do Meta é causar pânico em todo o continente europeu, jogando com a histeria por parte da população, ávidos por continuarem a usar o Facebook e o Instagram, e contando que para evitar a fadiga, os reguladores do continente acabarão por aprovar um novo acordo de transferência de dados, só para não arrumarem dores de cabeça com o público e claro, arriscarem perder votos nas próximas eleições.

No entanto, a aposta do Meta não deu muito certo.

Robert Habeck (esq.) e Bruno Le Maire: "Seis, marreco!" (Crédito: Eric Piermont/AFP/Getty Images) / meta

Robert Habeck (esq.) e Bruno Le Maire: "Seis, marreco!" (Crédito: Eric Piermont/AFP/Getty Images)

A possibilidade de sair da Europa, e levar consigo o Facebook e o Instagram, foi muito bem recebida tanto por Robert Habeck, ministro da Economia da Alemanha, e Bruno Le Maire, ministro das Finanças da França. Em um evento com jornalistas, realizado nesta segunda-feira (7) em Paris, ambos políticos de alto escalão, de duas das maiores potências da UE, se mostraram mais do que entusiasmados com a novidade.

Habeck disse que "tem passado muito bem" nos últimos 4 anos, sem Twitter ou Facebook, desde que suas contas originais foram hackeadas, e acrescentou que sua vida tem sido "fantástica". Le Maire endossou o discurso, dizendo o seguinte:

"Eu posso confirmar que a vida sem Facebook é ótima, e que nós (a Europa) ficaremos muito melhor sem ele (...). As gigantes digitais devem entender que o continente europeu irá resistir e afirmar sua soberania."

Ainda que Habeck e Le Maire não falem por todo o contingente político da União Europeia, por serem os ministros que administram a economia da Alemanha e França respectivamente, o discurso dos dois é um bom indicador de como andam os ânimos nos bastidores, e como era de se esperar, o cenário que se desenha não é favorável às big tech norte-americanas.

Resta saber se caso os acordos não deem em nada, o Meta irá cumprir sua promessa e desligará o Facebook ou o Instagram na Europa, ou irá se sujeitar às normas e passar a manter os dados dos usuários no continente. Claro que a segunda opção é a mais provável de ser adotada, não dá para ignorar um mercado de milhões.

Mesmo o Google, que meteu o louco na Espanha, entendeu que a longo prazo, ficar dando murro em ponta de faca por todo o sempre é ruim para os negócios.

Fonte: Bloomberg

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