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"Mac no teclado" é uma aposta curiosa da Apple

Patente da Apple sugere novo modelo de Mac embutido no teclado como o Apple II, o ZX Spectrum e o Raspberry Pi 400

2 anos atrás

A Apple estaria preparando um novo produto da linha Mac, um tanto diferente do normal: segundo patente registrada nos Estados Unidos, a maçã estuda um novo computador embutido no teclado, uma espécie de revisão do clássico Apple II, seu primeiro produto de grande sucesso.

Caso seja lançado, muito provavelmente este novo Mac não será um produto barato, mesmo com os rumores de que o Mac mini será reposicionado pela companhia, como um produto para profissionais.

Detalhe de teclado Apple Magic Keyboard com Touch ID (Crédito: Divulgação/Apple)

Detalhe de teclado Apple Magic Keyboard com Touch ID (Crédito: Divulgação/Apple)

A patente, encontrada pelo site MacRumors, foi submetida no dia 24 de fevereiro de 2022 no Escritório de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos (USPTO), com um nome que deixa pouco para a imaginação, "computador em um dispositivo de entrada", no caso um teclado. O produto seria basicamente o mesmo Magic Keyboard que a companhia já comercializa, mas com todos os circuitos de um Mac ali integrados.

O documento descreve um modo de uso bem minimalista, em que ele seria conectado via cabo a um monitor ou qualquer outro display, que seria responsável tanto para prover a imagem quanto alimentá-lo; o usuário poderá conectar um mouse e outros periféricos via comunicação sem fio, visto que a única porta física, uma USB-C com possível compatibilidade com Thunderbolt 3, seria destinada à imagem e entrada de energia.

Segundo a Apple, o tal "Mac no teclado" não traria nenhuma porta para dados, ou opções de expansão. A configuração seria fechada e não haveria como conectar drives externos via cabo, a menos que o usuário use um hub ou um adaptador multi-porta, desde que o fornecimento de energia seja garantido.

Design do "Mac no teclado" seria bem compacto (Crédito: Reprodução/USPTO)

Design do "Mac no teclado" seria bem compacto (Crédito: Reprodução/USPTO)

A Apple descreve que o produto da patente viabilizaria o transporte de um Mac completo pelo usuário para qualquer lugar, bastando conectá-lo a uma fonte de energia e tela e usar outros periféricos wireless (claro que a opção padrão de Cupertino são os produtos da linha Magic Mouse), mas também discorre sobre algumas opções de uso curiosas.

A primeira seria a padrão, um corpo sólido com teclado e componentes internos, enquanto a segunda seria um dispositivo dobrável, mais compacto e portátil; outra opção proposta pela Apple é a de um dispositivo com um trackpad embutido, outra com um display acoplado que permitiria seu uso sem uma tela secundária, e por fim um modelo sem teclas físicas, que seriam projetadas em uma grande tela, similar ao que foi a Touch Bar (péssima ideia).

Um computador "tudo em um" sem tela não é nem de longe uma proposta nova, a própria Apple foi uma das pioneiras ao lançar um produto completo para o consumidor comum, o Apple II, algo bem diferente do que foi o Altair 8800. Embora essencial para a expansão da computação pessoal, o computador da MITS não era amigável ao leigo.

Steve Jobs queria que o americano médio comprasse PCs e os usasse, este um mercado muito maior que o dos micreiros de garagem. Assim, o Apple II saía da caixa pronto para ser ligado a uma TV, e com programas de fácil assimilação, dadas as limitações da época.

O Apple II era exatamente assim, mas era um trambolho. E caro (Crédito: FozzTexx/Wikimedia Commons)

O Apple II era exatamente assim, mas era um trambolho. E caro (Crédito: FozzTexx/Wikimedia Commons)

Claro, o Apple II não era um dispositivo exatamente acessível, ainda que apelativo às massas. Ele chegou às lojas dos EUA em 1977 com um preço sugerido de US$ 1.298, o equivalente a US$ 6.021,95 (~R$ 31.074,47, valores de 28/02/2022), e não tinha periféricos como leitores de fitas K-7 e disquetes, manetes para jogos, etc. Tudo o mais ficava por conta do usuário.

Em 1981, a Acorn Computers de Sophie Wilson colocou no mercado britânico o BBC Micro, que chegou custando £ 235, ou £ 981 em 2021 (~R$ 6.784, valores de 28/02/2022), um valor bem mais amigável. Em 1982, a Sinclair e a Commodore lançaram dois produtos que foram extremamente populares, o Commodore 64 e o ZX Spectrum.

A companhia de de Jack Tramiel, embora tenha oferecido um produto bem popular (o Commodore 64 foi um dos motivos que levou ao Crash dos Videogames de 1983), cobrou caro, com seu PC compacto custando US$ 595, ou US$ 1.733,50 em valores de hoje (~R$ 8.945,21). Já o ZX Spectrum, projetado por Clive Sinclair para ser o mais poderoso e barato possível, tinha preço sugerido na versão com 16 kB de irrisórias £ 125, o equivalente a £ 469,41 em 2021 (~R$ 3.246,27).

Estes três, com o também compacto Amstrad CPC lançado em 1984, foram responsáveis por introduzir muita gente na área de informática, por ficarem no mercado por MUITO tempo, mesmo quando os computadores da arquitetura IBM-PC já haviam dominado o setor. O ZX Spectrum só saiu de linha em 1992; o BBC Micro e o Commodore 64 deixaram de ser fabricados em 1994.

 

Commodore 64 e ZX Spectrum (Crédito: PngFind/PNGWing)

Commodore 64 e ZX Spectrum (Crédito: PngFind/PNGWing)

A ideia de um computador no teclado sempre esteve associada a usuários de entrada, em geral, crianças e adolescentes em idade escolar, um produto fácil de ligar na TV que permite editar trabalhos, fazer pesquisas na internet, estudar programação, acessar aulas online e ocasionalmente, jogar. Este aliás foi o argumento que a Commodore usou em favor do 64, contra o Atari 2600 e outros videogames de 2.ª geração, excluindo a conectividade de rede, claro.

Esta é a exata mesma proposta que a Raspberry Pi Foundation abordou com o Raspberry Pi 400, um produto que empresta o espírito dos computadores compactos portáteis do passado, relativamente acessível mesmo para os padrões do Brasil (US$ 70 virar R$ 880 R$ 1 mil é de lascar) e bem potente, rodando jogos (até certo ponto) e vídeos com desenvoltura.

A Apple pode estar pensando em posicionar o "Mac no teclado" nesta exata mesma categoria, oferecendo um dispositivo que rode uma versão completa do macOS e vendê-lo como seu mais novo computador de entrada, talvez com processadores Apple M1 de uma geração antes da atual, que seriam voltados aos demais produtos da linha, incluindo o Mac mini.

Com base nos últimos lançamentos, ficou evidente que Cupertino deseja posicionar o seu computador sem tela atualmente disponível como uma estação de produtividade e produção para usuários avançados, com maior poder aquisitivo. No Brasil eles começam em R$ 8,7 mil, mas mesmo nos EUA o valor inicial é de US$ 899, não exatamente barato.

Raspberry Pi 400 (Crédito: Divulgação/Raspberry Pi Foundation)

Raspberry Pi 400 (Crédito: Divulgação/Raspberry Pi Foundation)

Claro que a Apple, como é de praxe, entende que trabalhar para pobre é pedir esmola para dois, e introduzir um "Mac no teclado" como computador de entrada não é sinônimo de um produto barato e acessível. O provável é que ele seria introduzido com um preço inicial de entre US$ 500 e US$ 600, caro para um produto sem tela, mas mais em conta do que o Mac mini, smartphones e tablets Android intermediários, e PCs concorrentes de seu computador de entrada atual.

Claro que patentes não são uma garantia de um produto que será lançado um dia, mas fica o exercício de imaginação para se por um acaso a Apple introduzir algo do tipo, por um preço de venda menor que o Mac mini e movido pelos chips da família M1, e quais seriam seus efeitos no mercado e concorrentes.

Fonte: USPTO, MacRumors

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