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Starlink: Elon Musk em guerra com a Rússia

Elon Musk atendeu em tempo recorde a um pedido da Ucrânia, agora está em um jogo de gato e rato com forças digitais russas

2 anos atrás

Elon Musk não vai com a cara da Rússia faz tempo. É uma briga antiga, que envolve muita mesquinharia e baixaria, mas agora eles foram às vias de fato, ao menos eletronicamente, graças à Ucrânia.

No espaço ninguém consegue ouvir você dizer Русский военный корабль, иди на хуй (Crédito: SpaceX)

O ranço de Elon Musk com os russos começou em 2001, quando ele iniciou um projeto chamado MarsOasis. A idéia era mandar para Marte um mini-terrário, que recolheria solo marciano, misturaria com solo terrestre, plantaria sementes e acompanharia o crescimento das plantas via uma webcam.

Para isso ele precisaria de um foguete, e chegou até os russos, se oferecendo para comprar ICBMS velhos deles e transformar em foguetes pacíficos. Os russos não levaram Musk a sério, foram desrespeitosos supondo ser só mais um playboy bilionário querendo brincar de homem do espaço.

Eles cobraram valores (dsclp) astronômicos, a cada reunião era mais caro, Elon Musk saiu pucto e decidiu aprender tudo sobre engenharia aeroespacial e montar a sua própria empresa de foguetes, com blackjack e prostituas. O resto é História.

De lá para cá a Rússia vive dando espetadas na SpaceX, coisas mesquinhas mesmo, tipo o Dmitry Rogozin dar parabéns à NASA por seu retorno às missões tripuladas, com a missão CREW-1, e ignorando a SpaceX completamente.

Help me Obi-Wan Kenobi

No dia 26 de fevereiro Elon Musk recebeu um pedido de socorro no Twitter, vindo de Mykhailo Fedorov, Vice Primeiro-Ministro da Ucrânia. Ele pedia terminais Starlink, para garantir o fornecimento de Internet, caso os russos destruíssem a infra-estrutura de comunicações do país, que já está bem esporádica.

HALP! (Crédito: Twitter)

Era um pedido complicado. Fedorov estava pedindo a uma empresa, um indivíduo que interferisse em uma guerra entre duas nações soberanas. Elon Musk teria muito a perder se caísse em desgraça junto aos russos. De cara qualquer sonho de expandir a Tesla para o Leste europeu, já era.

Fedorov fez seu pedido às 9:06AM, hora de Brasília. 7:33 da noite, Musk respondeu:

Elon Musk em modo full Resgate Internacional (Crédito: Twitter)

“Serviço Starlink ativo na Ucrânia. Mais terminais a caminho”

Os ucranianos provavelmente já tinham terminais comprados, mas como Starlink não havia sido liberado na Ucrânia ainda, a empresa bloqueava geograficamente o acesso.

Starlink é uma rede de dois mil satélites (que chegará a 40 mil) que provê acesso internet em qualquer lugar do mundo. Na fase inicial é preciso que o satélite tenha acesso a uma estação terrestre, as versões futuras farão o roteamento do sinal entre os próprios satélites, e terminais em qualquer lugar do planeta terão conectividade.

Hoje na Ucrânia os terminais Starlink conseguem acesso graças a diversas estações terrestres na Polônia.

No dia 28 de fevereiro, Fedorov tuitou um agradecimento a Elon Musk: “Starlink — Aqui”, com uma foto de um caminhão lotado de kits Starlink.

Se fosse pelo Correio daria "Destinatário Ausente" (Crédito: Twitter)

COMO a Starlink conseguiu organizar a logística de juntar uma penca de terminais, que estão sempre em falta, eles não conseguem atender a demanda — e enviar tudo para o outro lado do mundo, em meio a uma guerra? Isso tudo foi operacionalizado em um dia.

Enquanto isso outras operadoras de Internet via satélite começaram a ter problemas. Foi reportado que um malware foi inserido no sistema da Viasat, que simulava uma atualização de firmware e brickava os roteadores da empresa.

Em um twit Elon Musk avisou que os projetos da Starship e Starlink V2 sofreriam pequenos atrasos, pois as equipes da SpaceX estavam sendo redirecionadas para CyberDefesa.

Mais tarde ele avisou que vários terminais Starlink em zonas de conflito estavam sofrendo interferência, às vezes por horas. Um update de software conseguiu contornar a interferência.

O jogo de gato e rato começou a se intensificar. A Rússia está enfrentando uma empresa lendária por sua agilidade, são literalmente milhares de engenheiros brainstormando respostas para ataques que eles nunca haviam pensado.

Elon chegou a brincar que de certa forma era “Quality Assurance” grátis, ou seja: A Rússia estava ajudando a SpaceX a descobrir todos os furos em seu sistema, e o que resultará disso é um Starlink extremamente robusto e resistente a ataques externos.

Ele também repassou dicas para manter as antenas dos terminais Starlink o mais longe possível de pessoas, na remota possibilidade dos russos identificarem a antena e usarem como alvo. Starlink usa tecnologia Phased Array, que concentra o sinal de rádio, tornando-o bem mais difícil de rastrear, mas não impossível.

Relatos de falhas no fornecimento de energia das cidades fizeram com que Musk sugerisse painéis solares ao invés de geradores (não apresentam uma assinatura térmica, mais seguro) e mais uma novidade saiu do time de jovens e brilhantes programadores da SpaceX:

O software do terminal Starlink foi otimizado para reduzir o pico do consumo de energia, permitindo que ele seja alimentado por um inversor ligado a um isqueiro de carro. Também foi liberado o roaming dos terminais Starlink, assim agora o terminal pode ser instalado em um carro ou caminhão, coberto por camuflagem e fornecer internet para toda uma área.

Caso a Rússia corte totalmente os links externos da Ucrânia, terminais Starlink podem ser ligados às redes das operadoras de celular. Sim, vai ser bem lento, as é bem melhor do que nada. Comunicações militares também vão se beneficiar da rede Starlink, principalmente em locais sob forte ataque, com a infra-estrutura local destruída.

Vitali Klitschko, prefeito de Kiev já apareceu em fotos agradecendo os terminais. Testes de usuários conseguiram download de 201Mbps, nada mau, nada mal mesmo.  Em Kiev 12 terminais starlink serão usados para manter funcionando a infra-estrutura crítica da cidade.

Valeu, Elon (Crédito: Twitter)

As tropas de fronteira em Odessa também já receberam seu terminal.

Elon Musk espera mais ataques, mas serão todos na esfera digital. A granularidade e redundância da rede Starlink a torna imune a ataques com armas anti-satélite. São mais de 2000 satélites, é virtualmente impossível derrubar todo mundo.

Agora muita gente está acompanhando de perto, especialmente no Pentágono. As forças armadas dos EUA já demonstraram interesse no sistema, a SpaceX até recebeu uma grana um tempo atrás para testar o Starlink em aviões. Se o sistema se demonstrar robusto e seguro como aparenta ser, contratos militares gordíssimos cairão no colo de Elon Musk. Afinal, como diz a Regra de Aquisição 34, “Guerra é bom para os negócios”.

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