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Quando a CIA apelou para a Lua para espionar um galinheiro

Que a CIA já fez muita coisa suspeita e fora do comum todo mundo sabe, mas e quando espionaram um galinheiro?

2 anos atrás

Que a CIA tem um monte de atividades questionáveis no currículo, ninguém nega, nem mesmo a própria CIA, mas por outro lado os caras tinham um emprego incrível durante a Guerra Fria: Criar os mais mirabolantes planos de espionagem, com orçamento ilimitado.

That's no moon! Echo 1, primeiro satélite de comunicações. Ele simplesmente refletia passivamente os sinais de rádio. (Crédito: NASA)

Entre os mais conhecidos, temos o caso do Glomar Explorer, um navio com uma garra gigantesca, criado para recuperar um submarino soviético afundado. Como não dá para esconder a construção de um navio de 50 mil toneladas e quase 200 metros de comprimento, a CIA criou uma história de fachada que seria um navio minerador do bilionário Howard Hughes, que estaria interessado em nódulos de Tungstênio no fundo do mar.

Outro caso mais recente foi o Titanic. O pesquisador e oceanógrafo Robert Ballard, então Comandante da Marinha recebeu verba do governo para “Procurar o Titanic”, mas a expedição era metade fachada. Ele já sabia onde o Titanic estava, o objetivo real era encontrar os destroços do naufrágio dos submarinos americanos USS Thresher e USS Scorpion. Depois de feito isso ele foi até o ponto conhecido e “descobriu” o Titanic.

Nosso causo de hoje é mais uma dessas histórias onde dinheiro não é problema.

Tudo começou em 1960, quando um avião espião americano U-2 estava fazendo os últimos vôos da plataforma sobre território soviético. Ele fotografou algo bem interessante no campo de testes de mísseis Sary Shagan, nos cafundós do Cazaquistão. Era uma antena de radar gigantesca, que ninguém sabia qual a utilidade.

Pelo formato do radar, ele ganhou o apelido de "galinheiro".

O radar em Sary Shagan, fotografado em 1962 (Crédito: Wikimedia Commons)

Lembre-se, era o começo dos Anos 60, satélites ainda estavam engatinhando, e já era perigoso demais sobrevoar o território inimigo com aviões espiões, como um tal Francis Gary Powers descobriu da pior forma. Além disso, seria preciso sobrevoar a antena quando o radar estivesse sendo usado, e passar na frente de seu feixe de sinais eletromagnéticos.

Para piorar os americanos descobriram que o tal radar quase sempre apontava para o horizonte, raramente atingindo elevações de mais de 20 graus.

Como interceptar um sinal assim? Os engenheiros da CIA bateram cabeça por um bom tempo, até que alguém lembrou que em 1946 o Exército dos EUA fez um experimento refletindo sinais de radar… na LUA.

A Lua! (Crédito: Georges Méliès)

Na verdade havia um projeto da Marinha dos EUA que pretendia utilizar a Lua como um refletor natural de sinais de rádio, para comunicação com navios em alto mar. Não é nada fora do comum, os primeiros satélites de comunicação eram essencialmente passivos (ui!), refletindo fisicamente todos os sinais que recebiam. Esse comportamento evoluiu para os satélites de comunicação ativos (ui!), que escutam sinais em determinadas frequências, e os retransmitem. Na maioria das vezes não há nenhum tipo de autenticação, levando a casos como a Operação Satélite, que prendeu radioamadores brasileiros por utilizar ilegalmente satélites militares americanos.

Os engenheiros da CIA partiram do princípio de que se o radar russo fosse usado para rastrear algum algo que passasse entre ele e a Lua, o sinal seria refletido no nosso satélite natural, e poderia ser captado por antenas em terra, ou melhor, em Terra.

Em 1962, eles tiveram um golpe de sorte: um teste nuclear atmosférico russo ionizou parte da atmosfera e refletiu os sinais do tal radar, comprovando que a teoria estava certa.

Primeiro com uma antena de 30 metros de diâmetro em Chesapeake, depois com uma estação do mesmo tamanho de Stanford, a CIA começou a identificar sinais do radar russo refletidos na Lua. Os primeiros foram captados em 1965, e logo começaram a acumular toneladas de informações, como frequências utilizadas, capacidade e velocidade com que mudava de frequência, etc.

A antena de 50 metros de diâmetro de Stanford. (Crédito: Wikimedia Commons / Brianhama)

Aí, algo lindo aconteceu: Os americanos não tiveram mais que depender de momentos aleatórios em que os russos apontavam para alvos e a Lua por acaso estava ao fundo. Eles passaram a usar A LUA como alvo, para calibrar seus sistemas. Era normal o radar ficar ligado mais de 30 minutos de uma vez, rastreando a Lua.

Foi descoberto que o radar em Sary Shagan foi projetado para rastrear mísseis balísticos, ele era controlado por computador e tinha capacidade de acompanhar vários alvos em simultâneo, acumulando dados como velocidade, trajetória, altitude, direção, etc. Se associado a um conjunto de mísseis interceptadores (e assumindo que eles funcionariam direito) um ataque americano poderia ser completamente inutilizado.

Muita gente perdeu o sono por causa desse radar, mas os nerds da CIA devem ter trocado muitos tapinhas nas costas, pela genial sacada de usar a Lua como refletor.

Fonte: a própria CIA. (cuidado, PDF)

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