Carlos Cardoso 2 anos atrás
Moonfall é um típico filme-catástrofe, com um toque de ficção científica. Confesso que fui assistir com uns três pés atrás e extrema má-vontade. Confesso também que me enganei totalmente, o filme é danado de divertido.
O Cinema tem focado bastante nessas catástrofes globais, desde que o filme do Al Gore deu dinheiro, comprovando assim o Aquecimento Global, mas algumas vezes os cineastas perdem a mão. 2012 não fez nenhum sentido, e não há muito o que dizer daquela bobagem, Terra à Deriva, em que para salvar a Terra a Humanidade constrói motores gigantes para mudar a órbita do planeta.
Moonfall resolveu apostar na premissa de quanto mais estapafúrdia a teoria conspiratória em que o filme é baseado, melhor, e escolheram uma excelente. No filme a órbita da Lua por algum motivo está decaindo, e em alguns meses ela se chocará com a Terra.
A descoberta foi feita simultaneamente pela NASA e por KC Houseman (John Bradley). Um teórico da conspiração, daqueles bem zureta das idéias, ele tenta convencer o mundo que a Lua é uma construção artificial, uma Esfera Dyson criada por aliens com fins nefastos.
Houseman acaba encontrando Brian Harper (Patrick Wilson), um ex-astronauta que caiu em desgraça depois que um membro de sua tripulação morreu durante um encontro com o que ele descreve como um ataque alienígena, mas a NASA registrou como uma chuva de meteoros. Spoilers: Eram aliens. Nesses filmes, sempre são aliens.
Uma missão é lançada para investigar um misterioso buraco na Lua, mas a cápsula dos astronautas é atacada por uma nuvem de nanomáquinas alienígenas malignas. O fim do mundo está se aproximando, até que nossos heróis convencem a NASA, com a ajuda da ex-astronauta e agora diretora Jocinda Fowler (halle Berry) que provavelmente há algo errado com o mecanismo alienígena na Lua, e uma missão pode ser mandada para tentar consertar as máquinas.
Em meio a várias catástrofes causadas pela gravidade lunar, a missão é lançada, e nossos heróis agora precisam enfrentar os aliens, reiniciar a Lua e correr contra o tempo, pois os miliares (sempre eles) querem lançar ogivas nucleares contra a Lua.
Durante a ação no 3.º ato do filme, a história muda para um foco bem ficção científica, com várias revelações interessantes, ampliando muito a mitologia de Moonfall. No final, entre mortos e feridos salvaram-se todos, exceto algumas dezenas de milhões, a Lua voltou para sua órbita normal, mas uma ameaça muito maior paira sobre a Humanidade, tcham ramram!
Dito assim, parece uma premissa besta, e é. Não difere muito do excelente Independence Day, do mesmo diretor Roland Emmerich, mas Moonfall funciona justamente por levar sua premissa a sério, mesmo sendo besta.
A tal premissa besta, de que a Lua é oca e uma espaçonave construída por aliens é bem antiga. Apareceu em 1901 em um livro de H.G. Wells, mas rapidamente se moveu da ficção científica para a arena das psicopatologias. Vários ufeiros e conspiracionistas adotaram a teoria da Lua Oca, como uma derivação da igualmente risível Terra Oca, e até espaços mais sérios perderam tempo com isso.
Em 1970 por dois cientistas da Academia Soviética de Ciências, Michael Vasin e Alexander Shcherbakov publicaram um artigo especulando que a Lua poderia ser uma criação de uma espécie inteligente.
Até hoje há teóricos da conspiração que acreditam piamente na teoria da Lua Oca.
Por incrível que pareça, a Ciência. Os roteiristas fizeram o dever de casa. Muita gente reclamou do trailer de Moonfall por mostrar os ônibus espaciais sendo usados, apesar de a frota ter sido aposentada em 2011.
Pois bem; o filme começa com uma cena em um ônibus espacial, mas é um flasback de… 2011. Durante o filme várias cápsulas são usadas, escolheram um design fictício que parece uma mistura entre uma Dragon e uma Orion. Quando precisam chegar na Lua de qualquer jeito, os engenheiros da NASA apelam para o Ônibus Espacial Endeavour, que está… em um museu.
Sim, claro, óbvio que é essencialmente impossível preparar em algumas horas uma peça de museu e colocá-la em condições de lançamento, aí entra a chamada suspensão de incredulidade, e convenhamos, você está vendo um filme com a Lua se chocando na Terra, quer selinho de aprovação do Neil DeGrasse Tyson?
Outra amostra que os produtores e roteiristas fizeram uma boa pesquisa: eles sabem que o shuttle chegaria em órbita quase sem combustível, então em Moonfall eles param para reabastecer no depósito de combustível orbital da SpaceX, algo que realmente está nos planos da empresa e será essencial para as missões lunares.
Também foi muito bom quando um dos cientistas explica que tecnicamente a Lua não vai colidir com a Terra, existe algo chamado Limite de Roche, a distância mínima possível entre dois corpos de grande massa. O conceito é bem simples: A Lua sofre mais atração no ponto mais próximo da Terra do que no lado oposto. Quanto mais próxima da Terra, mais atração.
Chega um ponto, o chamado Limite de Roche, em que a força puxando o lado da Lua mais próximo da Terra é maior que a força gravitacional mantendo a Lua inteira. Ela se esfarela, problema que os farelos são do tamanho de cidades.
Outro ponto positivo de Moonfall, é que é um filme que se propõe a contar uma história, não tem mensagem oculta ou agenda política, como o chato, óbvio e pé-na-porta Não Olhe Para Cima, um filme para uma geração que não entende mais o conceito de metáforas e precisa de tudo mastigado.
Moonfall não é o melhor filme de Rolan Emmerich, mas está longe de ser o pior, afinal ele dirigiu e escreveu Independence Day: Resurgence. É um filme-catástrofe que não é um desastre completo, o que já ajuda muito. Há bastantes clichês, o filho rebelde está lá, o cientista que ninguém acredita está lá, todos os arcos de redenção são telegrafados, mas quer saber? Funciona.
É um filme de Sessão da Tarde com pretensões de grandeza, mas não é um filme pretensioso. Vale a pipoca.
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3,5 de 5 Sailor Moons