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Braços do T-Rex podem ter sido curtos como forma de proteção

Paleontólogo especula que braços curtos do T-Rex evoluíram para evitar acidentes graves, caso um bando entrasse em frenesi alimentar

2 anos atrás

O tiranossauro rex, ou T-Rex, é um dos dinossauros mais icônicos de todos, a epítome do predador definitivo e implacável, uma máquina incansável e assustadora. Claro, décadas de descobertas científicas ajudaram a desmitificar sua imagem, desde que ele não era tão rápido assim em perseguição, quanto que seu rugido não deveria ser nada intimidador.

Por outro lado, o que nunca combinou com a imagem de predador do T-Rex eram seus membros dianteiros, minúsculos e praticamente inúteis. E exatamente por não terem função aparente, eles teriam evoluído para um tamanho menor para pelo menos, não atrapalharem na hora da refeição.

Segundo hipótese, ter braços mais longos seria um problema para o T-Rex (Crédito: Amblin Entertainment/Universal Pictures)

Segundo hipótese, ter braços mais longos seria um problema para o T-Rex (Crédito: Amblin Entertainment/Universal Pictures)

Desde que estudos recentes apontaram que os terápodes (dinossauros bípedes) estavam mais próximos das aves do que dos répteis modernos, e que algumas espécies terrestres inclusive tinham o corpo revestido de penas, muito do mito dos "lagartos terríveis", a tradução da expressão em latim deinos sauros, se perdeu e outros aproveitaram para tecer as mais variadas piadas.

O T-Rex não escapou imune às revisões científicas. Primeiro, a configuração de suas patas é muito próxima da que as galinhas apresentam, e sua voz não seria um rugido ensurdecedor como nos filmes, mas estaria mais próxima à das avestruzes, ou mesmo a do grasnar de patos e gansos. A única coisa que abona a imagem do T-Rex é que ele, assim como todos os grandes tiranossaurídeos, teriam escamas revestindo o seu corpo, ao invés de penas.

O corpo, dotado de um crânio massivo e bracinhos curtos, sugeriam que ele não seria um bom caçador, algo corroborado por ser bem mais lento do que se pensava, o que faria do tiranossauro um carniceiro gigante. Além disso, se o T-Rex desenvolvesse altas velocidades e caísse, sua cabeçona estaria sujeita a traumas severos geralmente fatais; se sobrevivesse, o tiranossauro por ter braços curtos não conseguiria se levantar facilmente, virando uma presa fácil para outros dinos carnívoros.

O que muitos se perguntavam, no entanto, era por qual motivo os tiranossaurídeos apresentavam membros dianteiros tão curtos, ao ponto de não possuírem meios de desempenhar funções específicas. Há algumas hipóteses, e uma delas, bem interessante, foi publicada recentemente no periódico Acta Palaeontologica Polonica.

O Dr. Kevin Padian é professor de Biologia Integrada e curador do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, especializado na evolução dos vertebrados, especificamente a origem do voo e dos pássaros, a partir dos terápodes. Em seu mais recente artigo (cuidado, PDF), ele especula sobre como os tiranossaurídeos desenvolveram braços tão curtos.

Ainda que não hajam evidências sobre como a Evolução se deu neste caso, Padian acredita que os membros anteriores se atrofiaram como uma medida de proteção. Segundo o cientista, novas evidências derrubaram uma antiga concepção, de que o T-Rex e seus primos eram carnívoros solitários. Ao invés disso, eles costumavam caçar em bandos, criando outra categoria de problema.

Esqueleto de T-Rex em exibição no Carnegie Museum, em Pittsburgh, EUA (Crédito: ScottRobertAnselmo/Wikimedia Commons)

Esqueleto de T-Rex em exibição no Carnegie Museum, em Pittsburgh, EUA (Crédito: ScottRobertAnselmo/Wikimedia Commons)

Em uma situação onde haja abundância de alimento e vários predadores de uma mesma espécie, reunidos, há chances de que o cenário desencadeie uma reação chamada frenesi alimentar, onde os indivíduos se lançam sobre as presas, mordendo tudo o que estiver no caminho, incluindo outros membros do bando. Em alguns casos, há situações inclusive de automutilação durante o banquete descontrolado.

No caso exclusivo do T-Rex, estamos falando de um dinossauro com cerca de 10 metros de comprimento, um peso de até 14 toneladas, uma cabeça e dentes enormes, e uma mordida considerada a mais potente dentre todos os animais terrestres que já caminharam na Terra. Agora imagine um cenário com vários deles, reunidos num mesmo lugar, se alimentando de forma tresloucada.

Segundo Padian, membros anteriores maiores e mais longos ficariam sujeitos, em um cenário de frenesi alimentar, a mordidas acidentais de outros membros dobando, com grandes chances de ferimentos graves, perda massiva de sangue, desmembramentos, infecções severas e, como consequência, morte. Tudo devido a um lanchinho.

Uma das hipóteses mais antigas a respeito dos braços dos tiranossaurídeos, era que eles fossem estruturas vestigiais, tais como nossos dentes do siso ou o cóccix, a porção final de nossa coluna vertebral, o que restou da cauda de nossos ancestrais. Certas aves que não voam, como as avestruzes, ainda retém asas, assim como as baleias possuem uma pélvis vestigial, que não sumiu por completo por ainda ter uma função.

Ao longo dos anos, foram surgindo outras propostas, de que os braços, que embora pequenos, eram bem fortes e dotados de duas garras enormes, poderiam servir para segurar um parceiro durante a cópula, ou para reter presas em um ataque a curta distância, ou mesmo empurrar competidores. Padian, no entanto, diz que nenhuma das outras hipóteses se sustenta o bastante; para ele, essas propostas não explicam por que eles diminuíram de tamanho em primeiro lugar, apenas apresentam modelos de pôr que eles permaneceram pequenos.

Por outro lado, o Dr. Padian afirma que a sua proposta não é a palavra final de nada, mas ele espera comprovar sua hipótese estudando fósseis de mordidas de T-Rex, e de outros tiranossaurídeos, espalhados em museus pelo globo. Talvez sua pesquisa ajude a responder, de uma vez, por que o maior carnívoro terrestre de todos tinha braços tão minúsculos, que não condiziam com sua imagem.

Referências bibliográficas

PADIAN, K. Why tyrannosaurid forelimbs were so short: An integrative hypothesis. Acta Palaeontologica Polonica, Volume 67 N.º 1 (2022), 14 páginas, 30 de março de 2022. Disponível em https://doi.org/10.4202/app.00921.2021.

Fonte: Acta Palaeontologia Polonica

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