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Cientistas acham blocos básicos da vida em meteoritos

A origem da vida na Terra ainda é um mistério, mas estamos descobrindo que seus componentes existem até no Espaço Sideral

2 anos atrás

Antigamente a origem da vida na Terra era algo restrito aos filósofos e teólogos. Com a chegada da Ciência, novas hipóteses surgiram para explicar o processo de Abiogênese, o surgimento de vida orgânica, a partir de compostos químicos discretos.

It's Alive, IT'S ALIVE! (Crédito: Universal Pictures)

Esse conceito não existiu por muito tempo. Desde o tempo dos gregos a norma era a geração espontânea, achava-se que organismos complexos surgiam naturalmente, do nada. Vermes surgiam de carne podre, enguias vinham de minhocas, água morna gerava peixes e escalopes surgiam da areia.

Outros pesquisadores discordavam dessas idéias, mas só com Darwin passamos a entender o conceito de Evolução, com o clássico Origem das Espécies. Mesmo assim, Abiogênese não era tocada. Evolução não tem absolutamente nada a ver com a origem da vida. Darwin explica como chegamos até aqui, não como começamos.

Hoje sabemos que nosso DNA, uma incrível molécula autorreplicante que é a base da vida é formada de bases nucleicas, que por sua vez contém informação para a construção de proteínas, usando aminoácidos como componentes básicos. Citosina (C4H5N3O). Guanina ( C5H5N5O), Timina ( C5H6N2O2) e Adenina (C5H5N5) são as quatro letras do Código da Vida. AGTC.

Tudo à sua volta, toda coisa viva, toda pessoa que você já conheceu, todos são apenas um veículo que o DNA usa para se perpetuar.

DNA é um componente fundamental de todas as coisas vivas, está presente na nossa comida, e até em gel de cabelo. (Crédito: 20Th Century Fox)

Como moléculas complexas podem surgir de elementos simples, essa era a grande pergunta. Já nos anos 1950 especulava-se que a atmosfera da Terra primitiva, bilhões de anos no passado poderia propiciar a geração dessas moléculas, e cientistas resolveram testar essa hipótese.

Em 1952, dois cientistas da Universidade de Chicago, Stanley Miller e Harold Urey bolaram um experimento no qual um recipiente continha o que se achava na época ser a atmosfera da Terra primitiva: vapor d’água, Metano, Amônia e Hidrogênio. Oxigênio só apareceria muito depois, o Oxigênio molecular é bem reativo, e destruiria a maioria das moléculas.

O Experimento Miller-Urey original. Boa parte daquela gosma marrom, é você (Crédito: Reprodução Reddit)

O tal recipiente era aquecido, para transformar a água em vapor. O vapor passava por eletrodos que simulavam tempestades de raios. Após condensado, o líquido era reenviado para o lado aquecido, retornando ao ciclo de evaporação. Em poucas horas o líquido começou a mudar de cor. Após deixar o experimento funcionando por alguns dias, a estranha gosma marrom que se formou foi examinada.
Miller achou moléculas complexas como Glicina (C2H5NO2), Alanina (C3H7NO2) e ácido α-aminobutírico (C4H9NO2). Alanina por exemplo é um aminoácido essencial para crustáceos, sem Alanina, nada de Zoidberg.

Miller conseguiu catalogar 11 aminoácidos em seu experimento, de um total de 20 essenciais para a vida. Em 2007 amostras seladas do experimento foram estudadas com equipamentos bem mais sensíveis. Dessa vez foram detectados 25 aminoácidos, fora outras tantas moléculas.

Novas descobertas modificaram as estimativas da composição da atmosfera primitiva, mas repetições do experimento de Miller-Urey com as novas condições continuaram a produzir moléculas complexas. De novo, em algumas horas, de compostos básicos, usando apelas eletricidade e caos, interações aleatórias produziram substâncias pré-bióticas, que em condições apropriadas poderiam se combinar e gerar uma molécula autorreplicante, um precursor do DNA.

Grafismo besta de molécula de DNA apenas para fins ilustrativos (Crédito: Reprodução Internet)

Lembre-se, estamos falando de um experimento, de algumas horas, compare isso com milhões de anos de moléculas se combinando no planeta inteiro. Talvez por isso a vida tenha surgido tão cedo.

Estima-se que a Terra tenha 4.54 bilhões de anos de idade. Com 4.4 bilhões, os oceanos de formaram. Microfósseis achados no Canadá podem levar a origem da vida a pelo menos 4.28 bilhões de anos no passado.

Infelizmente não temos material para comparar a Abiogênese em outros planetas, talvez as condições na Terra sejam únicas, e nenhum planeta do Sistema Solar tenha desenvolvido vida. Também pode ser que Marte tenha florescido no passado distante, apenas para ter toda a evidência de vida queimada pela radiação solar e dissolvida pelos percloratos em seu solo.

Muita gente está apostando as carreiras acreditando que as luas geladas de Encélado, em Saturno, e Europa, em Júpiter possuem fontes hidrotermais no fundo de seus oceanos, e a vida surgiu por lá, da mesma forma que na Terra.

Geysers lançando jatos de água no espaço, em Encélado (Crédito: NASA)

Uma boa dica da possibilidade de vida em outros planetas é a presença de moléculas complexas em meteoritos. Note, isso não quer dizer vida, quer dizer componentes para a vida, ao menos vida orgânica baseada em Carbono.

E esses componentes foram achados. Desde os anos 1960 que já identificamos Adenina e Guanina em amostras de meteoritos. Outros compostos foram gradualmente descobertos, ainda mais depois que o geoquímico Yasuhiro Oba, da Universidade de Hokkaido inventou uma técnica bem menos destrutiva para analisar amostras.

Para evitar contaminação, as amostras dos meteoritos são comparadas com amostras do solo de onde eles foram encontrados. Em alguns casos algumas bases nucleicas aparecem 20 vezes mais nos meteoritos.

Em outros casos a proporção é inversa, há bem menos quantidade de uma base nucleica no meteorito, mas comparando outros componentes, eles não combinam com o solo, o que demonstra que a amostra não foi contaminada.

O resultado foi uma pletora de moléculas, incluindo Adenina, Guanina, Tiamina, Citosina e Uracila (C4H4N2O2), molécula que faz parte do RNA, no lugar da Tiamina.

Um dos meteoritos analisados. Esse caiu em Murchison, Australia, em 1969. (Crédito: NASA)

De uma vez temos em asteroides os componentes para o DNA, a molécula que codifica a vida, e o RNA, a molécula que constrói as proteínas que são a base de todas as coisas vivas.

Isso reativou uma hipótese bem antiga, a Panspermia, na qual a vida na Terra teria chegado do espaço. Há quem ache que meteoritos marcianos trazendo formas de vida unicelulares teriam caído na Terra e colonizado o planeta. De certa forma, podemos ser todos marcianos.

Outra hipótese é que os blocos formadores da vida caíram dos céus, depois de formados na vastidão do espaço, fruto da energia criadora do Sol.

Qual a resposta? Por enquanto ninguém sabe. Pode ser uma amálgama, pode ser que focos de vida tenham surgido de forma independente várias vezes, mas em algum momento a vida baseada em carbono e DNA se mostrou tão eficiente que atropelou todas as alternativas, a ponto de não haver nenhum registro fóssil de sua existência.

Também pode ser que a gente ache Vida e seja inteligente o bastante pra não mexer com ela. (Crédito: 20th Century Fox)

Esse, aliás, é um ponto de discussão entre exobiólogos: Talvez nossos experimentos não tenham detectado amostras incontestáveis de vida em Marte, por não sabermos sequer identificar vida que não seja baseada na nossa química orgânica.

Se descobrirmos haver vida em Europa, e se em alguns anos um astronauta da SpaceX levantar uma pedra em Marte e der de cara com um fóssil de uma libélula marciana, saberemos que a vida é algo muito comum e o Universo está repleto dela.

Caso isso não aconteça, caso Europa seja um deserto molhado e Marte nunca tenha abrigado nada vivo, nem mesmo uma bactéria, o conceito de vida se mostrará algo muito raro e o Universo se tornará vazio e solitário.

Ambas as possibilidades são assustadoras.

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