Carlos Cardoso 2 anos atrás
A compra dos caças da Saab foi o fim de um longo e tortuoso programa de modernização dos meios de combate da Força Aérea Brasileira. Aos poucos eles estão chegando, e cobrindo uma lacuna de décadas na defesa nacional.
Por muito tempo era evidente que os caças da Força Aérea Brasileira estavam no fim de sua vida útil. Como um todo, a situação sempre foi precária. Até 1981 a FAB voava o Cessna T-37, um avião de treinamento, como caça de ataque ao solo. O Mirage III foi adquirido em 1972 e voou até 2005. O Xavante, versão nacional do Aermacchi MB-326 começou a voar por aqui em 1971 e só foi aposentado em 2015.
Em 1972 foi a vez do Northrop F-5 Tiger II, tecnicamente um caça de superioridade aérea, mas na prática uma plataforma projetada já obsoleta teve algum uso no Vietnã, mas depois foi essencialmente vendida a países mais pobrinhos aliados dos EUA, e usada como "inimigo" em treinos de combate. Sim, eu sei, um monte de ufanistas vão me xingar nos comentários, mas não sou eu quem faz as regras.
Após sucessivas modernizações, o F-5 voa até hoje (2022) mas ele não tem chance contra caças mais avançados, e isso já era evidente nos Anos 80, mas a diretriz para atualizar as esquadrilhas, a DMA 400-6 só saiu em 1992. (para detalhes completos, veja este ótimo artigo do Poder Aéreo)
Como tudo nesse país, o chamado Projeto FX foi empurrado com a barriga, com emprestas disputando e lobbando o contrato bilionário, que tinha a completa oposição por parte da Oposição. Ele acabou passando pelo governo Collor, Itamar, FHC e só foi definitivamente cancelado em 2005, no segundo ano do governo Lula.
Surgiu então em 2006 o Projeto FX-2 - a Missão, com requerimentos aprimorados, exigências de transferência de tecnologia, participação de empresas nacionais e outros pontos que, sendo honesto, não eram ruins.
Seis aeronaves foram oferecidas por seus fabricantes, na fase inicial do Projeto FX-2. Eram elas! (CTRL+V Powers, Ativar!)
Quase imediatamente as propostas americanas rodaram, os EUA eram cheios de melindres com transferência de tecnologia, restringiriam o fornecimento de armamentos e no final agiriam como donos dos caças. Outros caíram por razões políticas, como o Sukhoi.
Entre brigas, disputas, espionagem comercial e tentativas de sabotagem, foram quase dez anos até o Saab Gripen NG ser escolhido. Pequeno, com 5.4 toneladas de peso, o Gripen é ágil, compacto e robusto. A versão NG, desenvolvida para o Brasil o avança para um caça de geração 4.5.
Aviões como o Sukhoi Su-27 e o F-16 são considerados de 4ª geração. O F-22, F-35 e o Sukhoi Su-57, são de 5a geração. Para um país como o Brasil, um 4.5 é excelente, ainda mais com baixo custo.
A proposta final, em 2013 foi fechada, com um pacote de US$4.7 bilhões, por 36 caças Saab Gripen NG. No pacote estava incluído treinamento, transferência de tecnologia e parcerias com empresas brasileiras, que produziriam 40% dos componentes do avião.
Em 2019 o primeiro Saab Gripen NG voou, na Suécia. Em 2020 a primeira unidade operacional chegou ao Brasil, e a classe recebeu a designação de F-39. Até agora recebemos cinco aviões, a expectativa é que os 36 tenham sido entregues por volta de 2024, mas pelo visto algo mexeu com o Ministério da Defesa.
Segundo o Defense News, o Brasil vai encomendar mais quatro caças Saab-Embraer F-39E, informação confirmada com um discurso do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Júnior, onde não só foi anunciada a inclusão de quatro caças no contrato atual, como o início de estudos para uma compra de um novo lote de pelo menos 30 aeronaves.
Hoje o Brasil tem para defender um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados:
Com os acontecimentos na Ucrânia, ficou evidente que mais que nunca vale a frase de Flavius Renatus, Si vis pacem, para bellum. Se queres paz, prepare-se para a guerra.
O nome disso é poder de dissuasão. Seu cachorro não precisa morder ninguém, o simples fato dele existir faz com que as damas que trocam favores por dinheiro invadam seu quintal e roubem seus limões. Quando a Ucrânia abriu mão de seu arsenal nuclear, o fez em troca de um acordo de proteção onde sua integridade territorial seria protegida pela OTAN e pela (não ria) Rússia. Hoje basicamente ninguém acha que o acordo foi uma boa idéia.
Do outro lado temos países como a Moldávia, que por anos se garantiu como satélite da Rússia, mantendo investimento zero em defesa. Agora, com um governo pró-ocidente, e uma região separatista nas Transnístria (que surgiu com um conflito fomentado pelos -adivinhe- russos), a Presidente está desesperada.
Ela sabe que se Putin resolver tomar a Transnístria, não há absolutamente nada que Maia Sandu, a edificante suprema mandatária da Moldávia, possa fazer.
Na América do Sul temos o privilégio de ser o maior peixe do aquário, vivendo nosso status de superpotência regional, mas já tivemos exemplos de vizinhos anões que botaram as garrinhas de fora. EM 2006 a Bolívia invadiu e tomou duas refinarias da Petrobrás no país. Depois de um ano de negociações, para reaver parte do prejuízo o Brasil aceitou um pagamento de US$112 milhões. O que, convenhamos, é troco de pinga.
Quando a economia val mal, é comum na Região líderes desequilibrados ameaçarem ações militares, e uma disputa de fronteira que termine com uma invasão do Acre, Foz do Iguaçu ou Roraima é algo que não está fora do rol das possibilidades.
Não ter capacidade de resposta rápida só aumenta a possibilidade dessas possibilidades se tornarem realidade. Então, que venham mais Saab Gripens.