Dori Prata 2 anos atrás
Na época das grandes aquisições feitas pelas fabricantes de consoles, uma empresa que vem aumentando bastante o seu portifólio é a Embracer Group. Fundada na Suécia em 2011, ela nasceu como Nordic Games Licensing e após adquirir nomes como THQ, Dark Horse Comics, Gearbox Entertainment e Koch Media, chegou a hora do conglomerado investir em diversos estúdios da Square Enix.
O anúncio pegou muita gente de surpresa por diversos motivos, a começar pelos nomes envolvidos no negócio: Crystal Dynamics, Eidos Montreal e a Square Enix Montreal. Isso quer dizer que a empresa japonesa deixará de comandar todos os estúdios ocidentais que possui, além de perder mais de 1.100 funcionários espalhados por oito países.
Contudo, talvez o mais importante na aquisição do Embracer Group seja a confirmação de que franquias como Tomb Raider, Thief, Legacy of Kain e Deus Ex passarão a ser suas. Além disso, o acordo também fala sobre a troca de controle para outras 50 marcas de catálogo, mas ainda não sabemos quais são elas.
Por enquanto, a Square Enix afirmou que continuará publicando jogos para as séries Just Cause, Life is Strange e Outriders. Contudo, a maior curiosidade recai sobre o futuro dos direitos de licenciamento que os japoneses possuem para jogos da Marvel, como Vingadores e Guardiões da Galáxia. Como eles eram feitos pelos estúdios ocidentais da companhia, é possível que a editora também os tenha incluído na venda.
Mas independentemente dos títulos que fazem parte dessa baciada de aquisições feitas pelo Embracer Group, o valor fechado para o negócio é outro aspecto que tem chamado atenção. Com empresas sendo vendidas por vários bilhões de dólares nos últimos anos, os US$ 300 milhões a serem pagos à Square Enix parece uma pechincha. A título de comparação, só a compra da Gearbox poderá ultrapassar a marca de US$ 1,3 bilhão, enquanto a Saber Interactive custou US$ 525 milhões aos suecos.
Quanto as franquias que já sabemos que trocará de mãos, apenas a Tomb Raider tem o seu futuro revelado, com o próximo jogo estrelado pela Lara Croft estando em desenvolvimento na Crystal Dynamics, com a Unreal Engine 5. Fica, portanto, a expectativa para que os novos donos finalmente desenterrem séries tão adoradas como a Legacy of Kain, mas que, principalmente, façam isso corretamente.
O que também está confirmado é o envolvimento da Crystal Dynamics na criação do novo Perfect Dark. Embora a marca pertença à Microsoft, o estúdio vinha ajudando a The Initiative no projeto e através do Twitter foi confirmado que a parceria continuará, mesmo após a venda. Para os fãs da franquia, essa deve ser vista como uma boa notícia, já que a subsidiária da Gigante de Redmond perdeu várias figuras importantes nos últimos meses.
Mas enquanto as pessoas que gostam das séries adquiridas pelo Embracer Group estão renovando suas esperanças, aquelas que admiram as marcas que continuarão com a Square Enix já começam a olhar para o futuro da empresa com alguma desconfiança.
Em comunicado enviado à imprensa, a Square Enix afirmou que graças a esse negócio estará mais preparada para se adaptar a maneira como o mercado tem mudado. Segundo eles, “a transação permite o lançamento de novos negócios, avançando com o investimento em campos como blockchain, inteligência artificial e nuvem.” A nota afirma ainda que esse movimento vai de encontro à política de otimização estrutural da empresa que visa o médio prazo.
Em abril o presidente da Square Enix já tinha revelado em entrevista ao Yahoo Japan o desejo da empresa em explorar os jogos “play to earn”. Segundo Yosuke Matsuda, “até agora, na maioria dos jogos, nós fornecemos o conteúdo como um produto finalizado e os jogadores jogam esse conteúdo.” Ele então concluiu dizendo haver alguns jogadores que “querem contribuir para tornar os jogos mais interessantes ao criar configurações e maneiras de jogar.”
Assim como outras empresas do ramo, Matsuda tem defendido que tendências como blockchain, NFTs, microtransações e criptomoedas poderão ajudar no crescimento autossustentável dos jogos, com o público podendo lucrar com suas “contribuições”. Contudo, a posição do executivo tem sido criticada por parte dos consumidores e por desenvolvedores de jogos, principalmente os independentes.
Para aqueles que não concordam com esse caminho que começa a ser feito pela Square Enix, o problema está no risco de a empresa deixar em segundo plano aquilo que é considerado o mais importante para nós, que é a qualidade. Curiosamente, a revelação por parte da companhia japonesa de que pretendem investir em blockchain o dinheiro da negociação chega justamente após uma dura crítica feita por Yuji Naka.
Diretor do Balan Wonderworld, o game designer usou suas contas nas redes sociais para falar sobre o tumultuado desenvolvimento do jogo publicado pela Square Enix em 2021. Aguardado ansiosamente como um sucessor espiritual do Nights into Dreams e do Sonic Adventure, o título não foi perdoado pela crítica e na época cheguei a lamentar a maneira como a carreira de Naka estava se deteriorando.
Ao ser questionado sobre o que havia dado errado na produção, o sujeito que foi um dos responsáveis pela criação do Sonic disse que não se manifestaria e sugeriu que sua aposentadoria podia estar próxima. O problema é que por ter entrado com uma ação na justiça contra a Square Enix, ele estava impedido de falar.
O que levou o game designer a tal atitude foi o fato de ter sido removido do projeto cerca de meio ano antes dele ser concluído. Segundo Naka, quem pediu o seu desligamento foi o produtor, o chefe de marketing, o chefe de som e o diretor administrativo do Balan Wonderworld, com dois motivos tendo sido apresentados: o primeiro teria sido a utilização de uma música rearranjada por um Youtuber, com o japonês preferindo a original; já o segundo estava relacionado ao desempenho do jogo, com o diretor exigindo mais tempo para o título ser aprimorado.
Afirmando lamentar por aqueles que compraram o que classifica como um “inacabado Balan Wonderworld”, Yuji Naka ainda declarou que quando está criando um jogo, é natural que faça correções para torná-lo bom. Como exemplo ele citou o Sonic the Hedgehog, projeto que alterou até duas semanas antes de ser concluído, o que permitiu que o jogador não morresse mesmo se o personagem ainda carregasse consigo apenas um anel.
Por tudo isso, Naka disse em seu desabafo que a Square Enix não se importa com os games. Talvez haja um pouco de exagero (e muito de amargura) em suas palavras, mas se considerarmos o que tem surgido sobre a empresa nos últimos meses, fica difícil não concordar com tal sua opinião.