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Double Dragon: 35 anos da boa e velha briga de rua

Tendo ajudado a popularizar os beat 'em ups, Double Dragon estabeleceu muitas das características do gênero que dominou os fliperamas na década de 80

2 anos atrás

Se hoje boa parte das desenvolvedoras miram nas microtransações para aumentar seus faturamentos, durante a década de 80 o alvo dessas empresas estava nos fliperamas e suas fichas. Foi neste cenário que nasceu um dos maiores ícones da indústria, um jogo em que dois irmãos precisavam enfrentar uma perigosa gangue para salvar a namorada de um deles. Foi assim que nasceu o Double Dragon.

double dragon

Crédito: Reprodução/Michael Roberts/MobyGames

Apesar de não ter sido o título que deu origem ao gênero beat 'em up, ele foi o principal responsável por popularizar o estilo que também passou a ser conhecido como brawler — ou como era mais comumente chamado nos botecos pelo Brasil, jogo de briga de rua. Mas para chegar a este clássico, seu criador teve que levar muita pancada, literalmente.

Fã de filmes de kung-fu e do Bruce Lee, Yoshihisa Kishimoto teve uma passagem turbulenta pelo ensino médio. Após ter sido deixado pela namorada, ele passou a se envolver em brigas quase diariamente e de alguma forma aquilo influenciaria sua carreira. Após passar pela Data East, onde trabalhou na criação do Cobra Command e Road Blaster, ele buscaria novos ares, parando na Technōs Japan.

Foi lá que, em 1986, o game designer teve a oportunidade de criar o Nekketsu Kōha Kunio-kun, jogo levemente baseado no período em que estava na escola e que no ocidente recebeu o nome Renegade. Com o título tendo conseguido sucesso nos arcades, os executivos da empresa pediram que Kishimoto criasse uma continuação, com a equipe de vendas da Technōs lhe fazendo uma proposta ambiciosa: o projeto deveria contar com suporte para dois jogadores.

Para eles, ao permitir que duas pessoas pudessem encarar a aventura juntas, a venda de fichas poderia aumentar e isso também levou a equipe a não se preocupar muito com o balanceamento da dificuldade. Segundo Takaomi Kaneko, que atualmente é gerente de marketing e vendas na Arc System Works, a ideia foi entregar um jogo que incentivasse as partidas em dupla e se algum corajoso preferisse jogar sozinho, que lidasse com o desafio e tanto que teria pela frente.

“[...] o principal atrativo [do Double Dragon] era poder jogar com um amigo, cooperando para derrotar gangues e resgatar a Marian,” defendeu Tomm Hulett, diretor na WayForward. “Jogando sozinho, Abobo parecia invencível, mas jogar com alguém para derrotar um adversário tão forte era algo que poucos jogos conseguiam realizar na época [...] Double Dragon não foi o primeiro “beat ’em up”, mas estabeleceu a maioria dos elementos que jogadores esperam do gênero hoje em dia, sendo o modo cooperativo de dois jogadores o principal deles.”

Crédito: Reprodução/FatherJack/MobyGames

Mas apesar da proposta inicial para idealizar o projeto como um novo capítulo para a série Kunio-kun, o game designer acabou sendo dissuadido pelos executivos da desenvolvedora, pois estes queriam que o jogo tivesse um maior apelo junto ao público ocidental. Então, devido ao foco no multiplayer e a sua admiração pelo filme Operação Dragão, ele sugeriu o título Double Dragon.

Já em relação à direção artística, Kishimoto usou como inspiração principalmente a trilogia Mad Max, mas também o mangá Fist of the North Star. Ele até chegou a incluir cenas não-interativas, tudo para deixar sua criação com um aspecto mais cinematográfico.

Quanto a jogabilidade, Double Dragon mantinha vários alguns elementos do trabalho anterior de Yoshihisa Kishimoto, como a possibilidade de realizarmos combos e os inimigos não morrerem com apenas um golpe (algo comum nos beat 'em ups até então). Porém, o novo jogo contava com uma diferença importante, a progressão lateral.

Enquanto no Nekketsu Kōha Kunio-kun as batalhas aconteciam em apenas uma tela, como se elas fossem pequenas arenas, no jogo dos irmãos Billy e Jimmy Lee, nós avançaríamos pelas fases até chegar a um chefe. Aquilo dava uma sensação de progressão à aventura e com a passibilidade de nos movimentarmos tanto horizontal quanto verticalmente, Kishimoto havia fundado as bases de como os brawlers se tornariam.

O início de uma febre

Crédito: Divulgação/Arc System Works

Double Dragon conseguiu um sucesso tão grande, que ele não se tornou apenas uma das principais franquias da Technōs. Nos anos após o seu lançamento, o que se viu foi uma enxurrada de jogos neste estilo chegando aos fliperamas e consoles, quando tivemos a era de ouro dos beat 'em ups.

Empresas como Capcom, Konami, SNK, Sega e tantas outras fizeram o possível para explorar o gênero. Para tentar se destacarem, as desenvolvedoras muitas vezes deixavam a ambientação urbana de lado, nos colocando para lutar contra dragões, ogros, alienígenas e os mais variados tipos de inimigos.

Essa busca pelo diferente fez com que esses jogos mantivessem uma certa relevância por vários anos, até que os beat 'em ups perdessem força e fossem soterrados por shooters, adventures, jogos de mundos abertos, MOBAs ou qualquer outra tendência que surgiu. Felizmente, graças principalmente a ascensão dos indies, vez ou outra ainda ganhamos a oportunidade de experimentar ótimos jogos de briga de rua, como um Castle Crashers, Fight'N Rage ou Mother Russia Bleeds. Mesmo as grandes marcas do passado, como Streets of Rage e Battletoads receberam novos capítulos recentemente.

Já em relação ao título que começou essa onda, a Technōs conseguiu espremer até a última gota do trabalho de Yoshihisa Kishimoto, com a franquia tendo sido transformada em revistas em quadrinhos, numa série animada e até mesmo num (péssimo) filme, que foi estrelado por Robert Patrick e Mark Dacascos.

Nos jogos, além das inúmeras adaptações e das duas continuações lançadas até 1990, a série ainda teve diversos spin-offs, até ficar dormente por vários anos. Isso mudou em 2012, quando a WayFoward lançou o divertido Double Dragon Neo, para cinco anos depois a Arc System Works disponibilizar aquele que, ao menos por enquanto, é o último capítulo da série, o Double Dragon IV.

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