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As mudanças que tornaram o Pokémon um jogo melhor

Um Pokémon sem multiplayer? Com 65 mil versões e não as iniciais Red e Green/Blue? Pois se não fosse por mudanças, série poderia ter sido bem diferente

2 anos atrás

Lançada para o Game Boy em 1996, a franquia Pokémon se tornou uma das mais bem sucedidas não só da indústria de games, mas do entretenimento como um todo. O que nem todos sabem, no entanto, é que até uma boa parte do seu desenvolvimento, aquele jogo poderia ter sido bem diferente do que acabamos recebendo.

Pokémon

Crédito: Reprodução/Erik Mclean/Pexels

Em mais um excelente minidocumentário, o canal DidYouKnowGaming? vasculhou o passado da tão adorada série dos monstrinhos e reuniu algumas informações interessante sobre a sua produção. Entre elas está a ideia do primeiro título contar com muito mais do que apenas as duas versões (Red e Green) que acabaram chegando às lojas.

De acordo com o programador Takenori Oota, as variações seriam associadas a identificação que recebemos quando iniciamos uma campanha no primeiro Pokémon, o Trainer ID que é gerado aleatoriamente e que poderia ir até 65.535. Se o conceito tivesse sido implementado, os monstros que encontraríamos pelo caminho e até os cenários seriam alterados de acordo com o número que estivéssemos usando.

Porém, mesmo com as IDs aleatórias mantidas na versão final, ela tem pouca influência na experiência e conforme explicou Satoshi Tajiri, fundador do estúdio que desenvolveu o jogo, o Grame Freak, a mudança aconteceu após a recomendação de uma pessoa muito importante:

“[...] atribuímos aleatoriamente números de identificação gerados automaticamente, indo de 1 a 65 mil em cada cartucho de jogo. Com a ID dos cartuchos determinadas, os Pokémons capturados nesses jogos carregariam aquele número e desde que alguém não tivesse trocado com outras 65 mil pessoas diferentes, as chances de negociar com alguém com a mesma ID eram improváveis

O formato de uma floresta, os Pokémon que poderiam aparecer, eu queria fazer um jogo que fosse diferente para todo mundo, mas era difícil. Então fui consultar Shigeru Miyamoto, da Nintendo, e acabamos decidindo fazer com que dependesse da cor — vermelho ou verde — os mundos serem paralelos, mas diferentes.”

Crédito: Reprodução/Ace of Sevens/MobyGames

Mas apesar de a ideia de fazer com que cada jogo fosse (praticamente) único possa parecer tentadora, Tajiri admitiu que explicar esse conceito para o jogador não seria muito fácil e foi aí que entrou a sensibilidade de Miyamoto. Para o criador do Mario, as pessoas precisavam conseguir diferenciar um jogo do outro apenas pela cor ou formato, o que os levou ao Pokémon Red e Pokémon Green — com o Blue sendo lançado alguns meses depois no Japão e tendo substituído no Green nos Estados Unidos.

Com cada versão contando com alguns monstrinhos exclusivos, a Game Freak estabeleceu um dos pilares da série, além de incentivar as pessoas a comprarem um cabo que permitia a conexão entre dois Game Boy. O cabo ainda possibilitava outro recurso que inicialmente não estava previsto, o multiplayer.

Apesar de permitir batalhas entre os jogadores fosse um desejo de Satoshi Tajiri, o produtor Shigeki Morimoto relutou por muito tempo a aceitar isso. Para ele, além do multiplayer ser algo que não considerava interessante, havia o temor de que seria muito complicado de implementar. Assim, ele fez o que muitos líderes de projeto fariam: fingiu que não estava ouvindo e seguiu ignorando o pedido.

A situação só mudaria quando a própria Nintendo exigiu que as batalhas entre jogadores fossem implementadas. Contudo, com o tempo para o desenvolvimento se esgotando, a equipe criou uma versão bastante rudimentar do multiplayer, onde as batalhas aconteciam automaticamente e os jogadores só podiam assisti-las. Sem uma maneira de influenciar os combates, os resultados eram aleatórios e a ideia não agradou.

“Mostramos aquilo para a Nintendo e as pesquisas que recebemos de volta o chamaram de ‘tedioso’,” revelou Morimoto. “Acredito que eles estavam corretos, mas estávamos perto do prazo final, tentando adicionar batalhas que os jogadores comandavam.”

Crédito: Reprodução/Ace of Sevens/MobyGames

Se essas mudanças de percurso não tivessem sido implementadas, pelo menos o primeiro capítulo da série Pokémon teria sido bastante diferente e fica difícil saber até se ele teria feito tanto sucesso. Agora, imagine não precisar caçar os monstrinhos, com eles estando disponíveis nas lojas ou podendo ser adquirido de outros jogadores. Pois isso poderia ter acontecido.

Mesmo com um ou outro podendo ser comprado na versão final, Tajiri disse que o que os levou a desistir dessa ser a proposta central do jogo foi a percepção de que as pessoas estavam preferindo economizar dinheiro in-game a explorar o mundo enquanto tentavam capturar Pokémon e assim aumentar sua coleção. Eles cogitaram até cobrar uma taxa virtual para cada troca entre os jogadores, mas devido à limitação do hardware, preferiram eliminar essa possibilidade.

Com mais de 440 milhões de cópias vendidas, hoje essas ideias podem parecer bastante absurdas, mas precisamos considerar que na época o pessoal da Game Freak ainda estava conhecendo um terreno inexplorado. Quando o primeiro Pokémon foi lançado, não existia nada parecido no mercado e por isso chega a impressionar o estúdio não ter cometido erros muito significativos.

Parte disso certamente se deve a ajuda da Nintendo e de figuras como Shigeru Miyamoto, mas também ao próprio talento daqueles que estavam diretamente ligados ao projeto. O resto é história.

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