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Ucrânia atacando Rússia com drones da Aliexpress

O uso de drones tem se mostrado essencial na guerra moderna, o surpreendente é que estão sendo comprados até em sites chineses

2 anos atrás

O uso de drones em guerra não é novidade. As primeiras experiências ocorreram na 1ª Guerra Mundial, e na 2ª, as bombas voadoras V1 eram essencialmente drones suicidas.

Spitfire voando ao lado de uma bomba voadora V1, prestes a executar a perigosa manobra de dar um toquinho na asa da V1, fazendo com que ela se desequilibre e caia em espiral. Ou exploda. (Crédito: RAF)

A grande diferença para o que temos hoje em dia é que o sistema de navegação das bombas F1 era rudimentar. Se baseava na baixa probabilidade da Inglaterra se mover depois do disparo. Essencialmente a V1 tinha dois giroscópios para controlar ângulo de rolagem e inclinação, uma bússola elétrica para controlar a direção, e um barômetro para altitude.

Um mecanismo analógico mantinha todos esses parâmetros dentro de uma escala de valores pré-arranjada, e o combustível era calculado para acabar quando a bomba chegasse em cima do alvo. Como o alvo era “Londres e adjacências”, onde quer que ela caísse, contava ponto.

Os sistemas de comunicação por rádio da época não eram suficientes, a única forma de encher um avião com explosivos e jogá-lo contra um com precisão, era com pilotos, mas a carreira de piloto kamikaze hoje em dia não é muito procurada. Por sorte a tecnologia de rádio e navegação evoluiu bastante.

Marca deixada por um Mitsubishi Zero em ataque kamikazi ao HMS Sussex. Fica a lição: A blindagem de um cruzador pesado sempre vence. (Crédito: Royal Navy)

Compra-se em qualquer lojinha sensores, unidades completas de piloto automático, rádios de longa distância, transmissores de vídeo e tudo mais para construir um drone decente, e os fabricantes “de verdade” produzem unidades de milhões de dólares capazes de serem controladas do outro lado do mundo.

Do mesmo jeito que a tecnologia produziu drones poderosos e caríssimos como o Global Hawk, drones cada vez mais baratos E eficientes estão surgindo, e nem falo de ucranianos usando drones da DJI para lançar granadas.

Há drones militares E de uso geral sendo usados para missões de observação e ataque, e os ucranianos estão ficando bem saidinhos. Em 21 de junho de 2022 eles nos proporcionaram uma das cenas mais épicas dessa guerrinha suja do Putin: Na refinaria Novoshakhtinsk, na região de Rostov, Rússia, alguns funcionários filmaram um drone, com o seguinte diálogo:

“Olha, um drone! Será ucraniano?”

“Ahahah claro que não”

“CABUMMMM”

“Blyat!”

O drone, surgido do nada acertou em cheio a refinaria, causando um pequeno incêndio. Não foi nada desastroso, exceto para a moral da dita segunda maior superpotência militar do planeta, que já está no 120º dia de sua invasão de 3 dias, sem conseguir sequer supremacia aérea na Ucrânia.

Ao atravessar impunemente a fronteira russa e atingir um alvo estratégico, a Ucrânia está mandando um grande “ебать ти” pra Vladmir Putin, mas outro detalhe encucou a comunidade de Inteligência Militar Open Source: Que diabos de drone era aquele?

Um monte de gente começou a comparar com a frota de drones ucraniana, e nada batia. Será uma nova linha de drones kamikazes? Desenvolvida quando? Será algum protótipo de um fabricante externo?

A resposta veio de uma pesquisa feita pelo pessoal do The Drive. O drone era chinês.

“Mas Cardoso”, você pergunta, “A China não está quase do lado da Rússia? Eles venderiam armas pros ucranianos?”

Excelente observação, pequeno gafanhoto. A China, Estado está em cima do muro, mas o comércio vai bem, obrigado, e o tal drone não é produzido pela indústria de defesa. O que descobriram é que ele está à venda como drone de uso geral, e pode ser comprado na Ali Express!

É xing-ling mas funcioná, tá? (Crédito: Ali Express)

É um SkyEye 5000 UAV anunciado como “avião de controle remoto”, provavelmente por motivos legais. Tem 5 metros de envergadura, pode carregar até 45 kg e voar a até 150 km/h.

O bicho é de madeira, o que ajuda a reduzir a assinatura de radar, com alcance de 10 km, mas nada impede que o comprador use seus próprios rádios e consiga um alcance bem maior.

O preço da unidade básica é de US$6500,00.

A hipótese é que a Ucrânia, de forma bem discreta comprou um lote desses drones, customizou, enfiou uma ogiva com algumas dezenas de quilos de explosivos, e está infernizando os russos com eles.

É um drone. (Crédito: Ali Express)

Caso os russos não estejam interferindo com GPS, e como há vídeos de pilotos de caça russos usando GPS comercial da Garmin em seus aviões podemos deduzir que não estão, é trivial programar o drone para atingir qualquer alvo, mesmo fora do alcance do transmissor.

Um módulo de piloto automático programável, com precisão de centímetros custa US$500,00. Também na Ali Express.

Drones improvisados foram usados pelo Hezbolah contra Israel, mas agora temos equipamentos literalmente comprados em lojas, transformados em armas capazes de atingir alvos estratégicos. Não estamos falando de Afeganistão, é a Rússia, que em teoria deveria ter excelentes defesas aéreas. Se um drone de US$10 mil (somando os upgrades) consegue se infiltrar, imagine o enxame de drones que dá pra comprar com US$1 milhão.

Cockpit de Su-24 russo com um GPS da Garmin. Essa foto foi na Síria, mas há outras na Ucrânia, inclusive relatos de pilotos instruídos a usar o GPS e uma App no celular para navegar com mais precisão. (Crédito: Russian Air Force)

Em teoria há todo um aparato de guerra eletrônica para neutralizar drones comerciais, mas essa guerra provou que eles só são efetivos se a) você souber que os drones estão nas vizinhanças e b) os equipamentos forem distribuídos de forma bem capilar, disponíveis para o máximo de unidades possível.

Na prática isso se torna um pesadelo logístico e caro demais, e se você acha que está ruim pro Putin, imagine todos os comandantes militares que estão acompanhando a guerra e pensando em como enfrentarão esses enxames de drones no futuro.

A esperança é que o inimigo compre drones no Wish.com.

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