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Profissionalização do mercado Linux

18 anos atrás

Foi o tempo em que Linux e software livre eram coisa de profissional divertindo-se em seu tempo livre. A noção de que o Linux, o OpenOffice, Apache, Firefox e outros foram desenvolvidos nos finais de semana por gente trabalhando de graça ainda existe, mas está indo por terra. Cada vez mais grandes empresas de TI investem para transformar o software livre em um modelo de negócios sólido. O resultado disso é que software livre já concorre em muitas áreas em pé de igualdade com softwares proprietários. A medida que esse quadro se desenha fica mais claro que o nível do profissional de software livre precisa acompanhar o rítmo do mercado. É possível ganhar dinheiro e fazer carreira na área, mas a profissionalização é importante para conseguir uma boa oportunidade de trabalho.Já é comum hoje encontrar empresas procurando profissionais com conhecimentos em software livre para as mais diversas aplicações. Com a penetração do conjunto LAMP (Linux + Apache + MySQL + (PHP | Perl | Python)) no mercado corporativo global desenvolvedores, engenheiros, analistas e administradores têm visto requisitos de software livre aparecerem com freqüência nas ofertas de vagas das empresas de RH e classificados de emprego, ao lado das já conhecidas necessidades de conhecimentos em softwares proprietários tradicionais.

Necessidade de mercado
Esse quadro implementa-se primeiramente pela migração de grandes empresas para plataformas livres. Além de grandes negócios de TI que tem voltado seus olhos para este mercado (como IBM, Oracle, HP, Sun) outros grandes negócios observam atentamente o desenvolvimento de plataformas livres com expectativa de redução de custos e integração consistente de serviços.

O Metrô de São Paulo deu um dos primeiros passos nesse sentido quando, em 1997, iniciou um plano de migração para cortar custos, implementando Linux com Qmail em seus servidores. O passo seguinte foi sair da suíte proprietária Microsoft Office para a suíte StarOffice da Sun e posteriormente para o livre OpenOffice. Hoje o Metrô pretende substituir totalmente o Windows pelo Linux em suas máquinas e economiza cerca de R$ 3milhões por ano com licenças de software.

Mais recentemente grandes empresas de diversos segmentos têm levado suas operações para o software livre. Grandes nomes do mercado de varejo optaram pelo software livre para reduzir os custos de suas operações. A rede de supermercados Extra do grupo Pão de Açucar é um exemplo. Em uma entrevista que tornou-se emblemática para a Info Exame em 2002 o encarregado de TI do grupo, Sr. Silvio Laban afirmou "Linux nem com um 38 na cabeça". Alguns meses depois, com a troca da equipe de TI do Pão de Açucar o grupo varejista anunciou uma parceria com a Red Hat para a implantação do Linux em quase 9.000 pontos de venda em 560 lojas das bandeiras Pão de Açucar, Extra e CompreBem. Segundo o grupo a adoção do Linux ocorreu pela percepção de que "Os fabricantes estão assumindo a responsabilidade pelo suporte ao Linux" conforme relatou Ney Santos, diretor de tecnologia da Companhia Brasileira de Distribuição (novo nome do Grupo Pão de Açucar). Os supermercados Angeloni (presentes na região sul do Brasil) seguiram pelo mesmo caminho e adotaram Linux em toda sua estrutura de distribuição.

Outros setores do varejo, como as lojas de departamentos também adotaram em peso o sistema Linux e outras soluções livres. Magazine Luiza e Lojas Renner iniciaram processos de migração para plataformas livres inclusive para sistemas de ERP, mas outro nome tornou-se estudo de caso neste setor. A Casas Bahia decidiu não só adotar o software livre em suas operações de logística e vendas como também optou por reformular toda sua estrutura de TI para tornar-se mais lucrativa. Realizou um investimento de R$ 20milhões apenas nas instalações físicas de seu novo centro de tecnologia localizado em São Caetano do Sul/SP, projeto coordenado pela IBM, com 4 andares e que coordena todas as transações feitas em cada loja da rede em todo país. O diretor de tecnologia Frederico Wanderley é categórico "Visto a camisa do Linux". Além dos pontos de venda com Linux os computadores dos executivos e das equipes administrativas receberam o OpenOffice "Além de não ter de pagar licenças pelo OpenOffice. economizo ao não fazer mais investimentos em hardware", diz Wanderley. "Até agora, nenhuma loja parou por usarmos micros mais velhos".

A lista continua. Hoje a estrutura interna do McDonald's roda em Linux e a empresa estuda levar o sistema para os caixas. O Carrefour está implantando uma infra-estrutura semelhante à do Pão de Açucar para manter competitividade. E mercados mais conservadores, como o financeiro, já começam a interessar-se pelas soluções livres. Banco do Brasil e Itaú mantém estudos para implantar Linux em seus caixas eletrônicos, mas o sistema livre já opera parte da infra-estrutura de ambas instituições, sendo responsável pelo internet banking do Itaú.

Todo esse mercado demanda profissionais de qualidade, o que nos leva ao próximo tópico.

Formação do Profissional
Grande parte dos profissionais são graduados em áreas diretamente ligadas à informática. Mas apenas um bom diploma não garante acesso à bons empregos na galopante área do Software Livre. Isso porque o mercado percebe uma deficiência muito grande na metodologia de formação profissional, principalmente no Brasil. Software Livre é apenas um modelo de desenvolvimento diferente do modelo usado normalmente pelo mercado, chamado modelo Proprietário. O fato de um software ser livre não garante ou atesta sua qualidade, idem para o profissional que não é especialista apenas por trabalhar com software livre. São características do modelo que permitem um desenvolvimento de qualidade de forma compensatória, características essas que se não forem entendidas e aplicadas pelo profissional podem diminuir ou mesmo anular as vantagens que o modelo Livre propõe.

Segundo Helio Castro, desenvolvedor Linux da Mandriva Conectiva do Brasil e membro do projeto KDE, as universidades brasileiras não preparam o estudante para entender e trabalhar com o modelo de software livre. Normalmente os docentes impelem aos alunos um modelo exclusivamente proprietário durante a graduação. Cada aluno recebe um trabalho para executar e deve fazê-lo sozinho, sem compartilhar informações ou código com os colegas. Isso leva à um sistema que produz o chamado "Software de Padaria" onde, pela falta de tempo hábil, os alunos desenvolvem diversas versões de programas corriqueiros como controles para vídeo-locadoras, farmácias, etc. Esses programas tem pouco uso prático e quase sempre são esquecidos assim que o aluno pega o diploma. Se os docentes sugerissem que a turma trabalhasse como um todo, em equipe, usando o modelo livre na prática em um grande projeto os futuros profissionais teriam chance de criar softwares com real aplicação prática e saíriam das escolas preparados para trabalhar em equipes com um pleno entendimento do funcionamento do software livre enquanto modelo de produção.

Enquanto não ocorrem mudanças na cultura acadêmica o mercado começa a exigir mais do que um diploma para considerar o profissional como apto a encarar grandes desafios, inclusive no software livre.

Adequado Profissionalmente
Certificações de treinamentos e cursos em produtos consagrados ou tecnologias de ampla adoção são muito valorizados pelo mercado. Diplomas com marca Microsoft, Oracle, SAP, Novell e outros são muito bem vistos. E outro tipo de certificação ganha respeito no mercado, as chamadas Vendor Neutral (em uma tradução livre Certificações Neutras quanto à Fornecedor). Uma certificação VN ressalta que o profissional não foi treinado neste ou naquele produto, mas sim em uma tecnologia. No mundo do software livre uma certificação que tem aberto muitas portas tem sido a fornecida pelo LPI (Linux Professional Institute). O LPI é uma entidade sem fins lucrativos que elabora e aplica exames no mundo todo e certifica profissionais como um atestado de proficiência na administração e implantação de sistemas Linux. As provas são agendadas e possuem preços realistas se comparados à outras certificações do mercado. Não é preciso matricular-se em uma entidade específica para fazer o curso, o profissional pode estudar por conta própria com a bibliografia recomendada pela própria LPI. Entretanto diversas empresas especializaram-se em aplicar cursos para a certificação e uma lista delas está disponível no site da LPI Brasil. A certificação da LPI tem a vantagem de ser reconhecida no mundo todo pela padronização dos testes e pela independência de distribuição.

Entretanto uma empresa brasileira reconheceu as deficiências dos modelos acadêmicos e optou por outro caminho. Certificar o profissional treinando-o enquanto ele ainda é um estudante. Com essa fómula a Alternativa Linux desenvolveu um sistema de parceria com diversas universidades do Brasil para ministrar seus cursos dentro das universidades. Os alunos podem participar dos cursos e treinamentos durante a graduação e chegar ao mercado de trabalho já com uma certificação VN de Administração de sistemas Linux, Profissional Linux ou Segurança. Profissionais já colocados no mercado também podem obter as certificações da mesma forma, participando dos cursos dados pelas instituições que firmaram parceria com a Alternativa Linux. As certificações da Alternativa possuem uma boa aceitação do mercado, pois como a LPI são independentes de distribuição. A diferença é que essa certificação é mais voltada ao mercado brasileiro de software livre.

Existem outras certificações dadas por outras instituições no Brasil, algumas focadas em distribuições específicas ou outros produtos específicos que podem abrir novos horizontes para profissionais já certificados pela LPI ou pela Alternativa que queiram especializar-se em áreas de atuação menos gerais. As citadas acima podem ser um bom caminho para quem procura a primeira certificação na área de software livre por serem focadas no Linux e não em um produto baseado em Linux (como uma distribuição específica).

Carreira e Salário
Uma certificação, seja VN ou de marca, pode sem dúvida abrir portas. Mas o mais importante para conseguir manter uma carreira como profissional de TI é a constante movimentação do profissional. Ficar parado em uma área onde tudo acontece tão rápido como no setor de tecnologia significa ficar obsoleto. Continuar estudando e aprimorando os conhecimentos é fundamental para o profissional que queira progredir em sua carreira e conseguir bons salários. A expectativa é que o mercado de Software Livre torne-se cada vez mais pragmático, cada vez mais negócio. Acabaram-se os tempos em que software livre era exclusivamente passatempo de garagem de jovens idealistas. Isso ainda existe hoje, de fato. Mas os homens de negócios engravatados continuarão a tornar o software livre também um modelo comercial. Os profissionais devem manter isso em mente e buscar seu espaço para que possam fazer parte desse mercado que apresenta sinais de que continuará a expandir-se no Brasil e no mundo com bastante força nos próximos anos.

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