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Cuidado: "curtir" tudo pode te deixar tapado

13 anos atrás

Você não esboça um sorriso quando faz uma pesquisa no Google e o primeiro resultado é exatamente o que estava procurando? Não se surpreende com quão certeira são as indicações de amizades e páginas que o Facebook sugere na barra lateral?

Esses dois cenários só são possíveis porque, previa e conscientemente, fornecemos informações suficientes para que os algoritmos de Google e Facebook trabalhem e, baseado em critérios que só os engenheiros das duas empresas conhecem, entreguem esse nível de experiência personalizada.

Essa história poderia ser um romance desse cara...

Essa história poderia ser um romance desse cara...

Com a linha que separa entre buscadores e redes sociais cada vez menos visível, vivemos o último estágio anterior à da era da personalização. Na realidade, o Facebook já faz isso: vários sites e serviços que funcionam usando o sistema de autenticação da rede social utiliza nossos gostos e preferências, as "curtidas", para personalizar instantaneamente a experiência do usuário.

É muito conveniente. Em vez de curtir a... sei lá... sua banda favorita em três, cinco, dez redes sociais diferentes, basta fazê-lo numa e, ao entrar nas demais, conceder acesso das suas preferências nessa primeira para que tudo fique ao gosto do freguês. É conveniente, mas como quase tudo que assim o é, essa personalização exagerada na Internet tem seu lado sombrio: a afirmação do eu.

Eu adoro encontrar e debater com pessoas cujo ponto de vista ou opinião sobre determinado tema diverge do meu. É isso que move discussões sadias e enriquecedoras, afinal, se fosse pra falar só com quem concorda comigo, o espelho seria meu melhor amigo. Quando a Web é personalizada de acordo com nossos gostos, cadê o contraponto ao "sim sim sim sim"? Não tem.

Hoje isso acontece só nas redes sociais, e mesmo nelas essa rejeição ao contrário começa a aparecer. Você talvez não saiba, mas o Facebook não mostra todas as atualizações de todos os seus contatos. Ele dá preferência a alguns e, you got it, esses alguns são, em geral, aqueles com quem você tem mais relações, ou traduzindo para as ações da rede, aqueles com quem você mais comenta e "curte". Os contatos de quem você mais gosta e com quem concorda com mais frequência.

Imagine esse comportamento sendo replicado em sites de notícias, em blogs opinativos, nos vídeos do YouTube. A TV tem a programação fxa, os programas são idênticos para todo o mundo. Tem matéria insuportável no jornal (especialmente agora, em época de Carnaval...), mas pela preguiça de mudar de canal ou pela indiferença, consumimos esse conteúdo que não nos agrada tanto. Opiniões em programas de variedades são dadas e discutidas, ora por gente competente, ora por pessoas que sequer sabem o que estão fazendo ali. Não importa. É uma diversidade saudável, qualquer conteúdo exercita nosso senso crítico — é isso que você faz quando reclama do Big Brother, por exemplo.

O assunto é tão rico e preocupante que chamou a atenção de Eli Pariser, ex-diretor executivo do MoveOn.org, que recentemente deu uma palestra no TED sobre o tema e prepara um livro, "Filter bubble", onde fala do assunto. Ele anseia que Google e Facebook nos mostre o que está sendo filtrado, o que está sendo "maquiado", num exercício de transparência para impedir que nos tornemos tapados digitais, alienados presos dentro de um círculo vicioso que não se quebra por nos colocar numa zona muito confortável, onde concordamos e gostamos de tudo.

No fim, com algumas leves diferenças de contexto, mas mantendo a mensagem, parece ser a concretização do Epic 2015. Se você achava aquilo ficção demais para um dia se tornar realidade, começou pensando errado. Assista novamente e reveja seus conceitos:

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