Criador do Ubuntu desiste de brigar com o Windows

Shuttleworth afirma que a guerra já foi vencida pelo Android e pelo iOS

Thássius Veloso
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• Atualizado há 2 semanas

Mark Shuttleworth (nome difícil de escrever, hein) é o cara por trás do Ubuntu. Ele foi o responsável por enviar um monte de DVDs com o sistema operacional livre diretamente dos escritórios da Canonical. Também foi ele o responsável por cadastrar o primeiro bug quando começaram a produzir esse importante sistema. O bug número um dizia o seguinte: “a Microsoft possui a maior fatia do mercado de computadores”.

Não só tinha razão, como Shuttleworth tem feito de tudo para corrigir este “erro” nos últimos anos. Nesta semana, ele entrou no sistema de tracking do sistema operacional para marcar que o bug estava efetivamente corrigido.

Claro que a informação correu pelo mundo da tecnologia – em especial dos amantes do código livre. Basicamente, a Canonical levantou a bandeira branca e declarou sua paz com o abominável Windows da Microsoft. Mas veja só, o próprio Shuttleworth aponta que não foi uma vitória necessariamente do Ubuntu. Foi mais a perda do Windows mesmo.

Ubuntu 13.04
Ubuntu 13.04

É que o Android desenvolvido pelo Google e o iOS – já mambembe, na visão de parcela dos usuários – da Apple abocanharam uma enorme fatia de mercado dos últimos cinco anos. Coloque os smartphones atuais na mesma categoria dos computadores tradicionais, na rubrica de “computação pessoal”, e você percebe que os pequeninos dispositivos móveis vão muito bem, obrigado. Melhores que os trambolhos rodando Windows. E neste momento, obviamente, não estou falando dos ultrabooks “inspirados pelo Intel” e os ultrafinos da AMD (que não bancou uma campanha bilionária mundial para dar nome a essa categoria; diferentemente da primeira).

Shuttleworth escreveu lá em 2004 que um dos objetivos com o desenvolvimento do Ubuntu era justamente atacar o Windows, ameaçar sua dominação e propagar os princípios da vida livre pelo mundo. O melhor sistema operacional baseado em Linux (opinião minha) serviria para bater de frente com o sistema MS. Nunca se deu dessa forma, como você sabe. Ao que tudo indica, essa batalha foi aposentada. O bug primeiro está resolvido. Palmas para o Android e o iOS.

Existe uma piada recorrente no mundo da tecnologia de que o próximo ano “será o ano do Linux”. Portanto, o ano em que o sistema livre vencerá finalmente o superdisseminado Windows. A tendência é que isso nunca aconteça. De certa forma, é como ver a indústria de PCs definhando antes que qualquer concorrente do sistema da Microsoft tenha chances de combatê-lo e vencê-lo.

Não se usa mais o computador como naquele ano de 2004 em que o Ubuntu chegou ao mundo com interface amigável e o objetivo de levar o Linux para as massas. Muito do nosso uso da computação pessoal – que não é sinônimo de desktop ou laptop, repare bem – hoje em dia se dá por meio do celular. O smartphone deixou o celular mais inteligente que muita máquina com processador Celeron de anos atrás. Este é um caminho sem volta. Shuttleworth sabe disso.

Palavras do criador do Ubuntu: “O Android pode não ser a minha primeira opção em termos de Linux, mas sem dúvida é uma plataforma de código livre que oferece benefícios econômicos e práticos para os usuários e a indústria. Então, nós temos tanto competição como boa representação do código livre na computação pessoal.”

Ubuntu para celulares: aí sim!
Ubuntu para celulares: aí sim!

Pra mim é muito bom ver que a Canonical desistiu de duelar com o Windows. Em vez disso, Shutlleworth sinaliza com a intenção é melhor como plataforma de computadores e também de dispositivos móveis. Convenhamos, esse deveria ser o objetivo número um desde o começo. Steve Jobs costumava dizer que quando você dá seu melhor, o resultado costuma aparecer. Talvez com o enfoque cem por cento no usuário, a Canonical finalmente ganhe mais espaço no mercado – e no mundo.

O Ubuntu para celulares foi demonstrado recentemente. Ainda está longe de ficar pronto, mas é uma plataforma que certamente promete. A Canonical tem nos celulares uma oportunidade de se tornar referência que nunca pintou nos computadores. É bom que aproveitem o timing. Como a Nokia tem o hábito de apontar, o próximo bilhão de pessoas tá esperando por um aparelho barato e bom, rodando uma plataforma completa. Quem disse que não pode ser o Ubuntu para celulares?

Mais chances de vencer esta batalha do que aquela contra o Windows no campo dos computadores pessoais. Aquilo estava ganho por Bill Gates e seus colegas antes mesmo do Ubuntu nascer.

(Em uma nota completamente não relacionada, eu até hoje me pergunto como seria se a Nokia tivesse continuado com o desenvolvimento do MeeGo. Em vez de criar apps para a linha Asha baseada no S40, poderiam perfeitamente competir com Android e similares num sistema mais moderno e bacaninha. Infelizmente, RIP MeeGo. O N9 foi o melhor celular que eu nunca poderia recomendar a alguém.)

Vídeo: Demonstração do Ubuntu Phone na CES

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Thássius Veloso

Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da GloboNews, palestrante, mediador e apresentador de eventos. Tem passagem pela CBN e pelo TechTudo. Já apareceu no Jornal Nacional, da TV Globo, e publicou artigos na Galileu e no jornal O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.

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