Hugo Barra: “em alguns anos, o mundo falará da Xiaomi como fala do Google e da Apple hoje”

O novo VP da empresa chinesa deu uma entrevista falando sobre a contratação e como deve ser o futuro da Xiaomi.

Giovana Penatti
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• Atualizado há 1 semana

Hugo Barra, o agora ex-VP do Android, surpreendeu todo mundo ao anunciar sua saída do Google. Ele vai para a China, ajudar a Xiaomi a se expandir globalmente. A empresa é uma fabricante de celulares que tem tido um crescimento astronômico na Ásia – falamos dela aqui.

Agora, foi a vez do próprio Barra falar sobre a saída. Ele deu uma entrevista ao AllThingsD na qual comenta o ocorrido e qual é a sua missão na nova empresa.

A negociação

Apesar do anúncio ter sido feito repentinamente para todos os que não estavam envolvidos – ou seja, para o mundo todo, exceto o próprio Barra e algumas partes de Google e Xiaomi – , a decisão de largar a empresa de Mountain View não foi repentina.

A Xiaomi já havia demonstrado interesse no executivo em meados de 2012, e foi nessa época que a conversa começou. No início, era algo do tipo “como você acha que deveríamos fazer nossa expansão global?” e acabou resultando no convite para que ele ajudasse na empreitada.

Barra conta que, apesar de não ser muito um “cara de negócios”, o  que atraiu a Xiaomi foi o fato de ele ser mais focado na experiência do usuário – que é, também o foco da empresa, como veremos mais adiante. Agora, ele diz que vai precisar aprender toda essa parte administrativa e operacional.

Não sei se os hábitos orientais com smartphones são muito diferentes que os ocidentais, mas, no Android desde 2008, Barra acompanhou não somente o nascimento e consolidação desse sistema operacional, mas também dos Nexus construídos pelo Google em parceria com outras fabricantes. Pode ser que esse know-how tenha pesado e muito a seu favor.

O que o Google achou

O Google foi informado da negociação assim que Sundar Pichai entrou no lugar de Andy Rubin, o criador do Android. Segundo Barra, ele tinha o desejo de que fosse feita uma”discussão aberta e transparente dos interesses de todas as partes envolvidas”.

Além disso, o Google é um dos principais parceiros da Xiaomi – e vice-versa – , já que a maior fabricante de smartphones da Ásia utiliza o Android em seus aparelhos. “Acho que, no fim, foi uma situação em que, se for para perder alguém do time, que seja para um amigo”, concluiu Barra.

Muy amigos: Hugo Barra com o CEO da Xiaomi durante o lançamento do smartphone Mi3 na semana passada em Beijing
Muy amigos: Hugo Barra com o CEO da Xiaomi durante o lançamento do smartphone Mi3 na semana passada em Beijing

A próxima Apple?

A Xiaomi aparentemente se espelha na Apple no que diz respeito à qualidade de seus smartphones e ao marketing empregado nos lançamentos, tanto que, às vezes, é chamada por aí de “Apple do Oriente”.

No entanto, enquanto a Apple tem (tinha?) o foco em inovação, a Xiaomi prefere dar ao usuário o que ele precisa. Ou seja, são smartphones de ponta, mas sem, digamos, exageros, e com muita atenção ao feedback dos usuários. Barra diz que cada questão levantada por um cliente é respondida e boa parte dos novos recursos nos celulares são sugeridos por eles.

O brasileiro conta que, para descrever a estratégia da Xiaomi, o CEO Lei Jun a comparou ao kung fu: nessa arte marcial, velocidade define tudo. “Então, a equipe foca em obter a maior performance o mais rápido possível”, explica.

A Xiaomi se apoia nos aparelhos de alto desempenho e preço acessível para fazer sucesso na Ásia. Essa fórmula faz sucesso também em outros países emergentes, e são esses os mercados nos quais a empresa está mirando, como Barra revela: Índia, Rússia, Indonésia, Tailândia e América Latina – ou seja, dá para esperar aparelhos da Xiaomi no Brasil num futuro próximo com um tanto de certeza.

E Barra ainda completa a ambição afirmando que, se ele fizer seu trabalho direito (palavras dele, hein?), em alguns anos falaremos da Xiaomi da mesma forma que falamos do Google e da Apple, porque a empresa terá essa importância global.

Steve Jobs e Lei Jun: há uma semelhança, vai?
Steve Jobs e Lei Jun: há uma semelhança, vai?

Só vantagens

E, afinal, por que Hugo Barra optou por sair do Android para ir para uma empresa chinesa? Nós fizemos nossas reflexões no TB Cast #45 e, pelo que ele contou, não passamos muito longe.

Soltamos a ideia de que talvez ele aspire a se tornar CEO de uma grande empresa, e isso será muito mais fácil na chinesa que no Google. Além disso, ele saiu de uma repartição do Google para ser VP da coisa toda na Xiaomi.

Nas palavras de Barra, ir trabalhar na Xiaomi e ajudá-la a crescer é o emprego de seus sonhos e uma oportunidade pela qual esperou a vida toda. Além disso, viver na Ásia por algum tempo também foi algo que lhe atraiu – apesar de não estar tendo muita facilidade para dominar o mandarim.

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Ex-editora

Giovana Penatti é jornalista formada pela Unesp e foi editora no Tecnoblog entre 2013 e 2014. Escreveu sobre inovação, produtos, crowdfunding e cobriu eventos nacionais e internacionais. Em 2009, foi vencedora do prêmio Rumos do Jornalismo Cultural, do Itaú. É especialista em marketing de conteúdo e comunicação corporativa.

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