O Uber vem passando por um inferno astral, obrigado a lidar com as consequências de se expandir de forma tão rápida e agressiva pelo mundo. Executivos do alto escalão foram demitidos, e até o CEO deixou o cargo.

Na polêmica mais recente, o Wall Street Journal descobriu que o Uber comprou carros para alugar na Singapura, sabia que eles tinham defeito, mas os distribuiu para motoristas mesmo assim.

Dependendo do país, o Uber opera de forma diferente. O custo de possuir um carro na Singapura está entre os mais altos do mundo: o preço de um Volkswagen Golf é o triplo do praticado no Brasil, por exemplo. (O governo local adotou impostos de 100% e taxas adicionais para tentar limitar o trânsito e a poluição.)

Por isso, o Uber resolveu adquirir veículos para alugá-los a motoristas por US$ 50 diários. Eles abriram uma subsidiária chamada Lion City Rentals, e compraram sedãs e SUVs novos através de importadoras, em vez de concessionárias autorizadas da Honda e da Toyota, para economizar dinheiro — cerca de 12%.

Em abril de 2016, a Honda emitiu o recall do modelo Vezel: um componente elétrico, projetado para desligar o motor quando o carro estava ocioso, sofria risco de superaquecimento. Dois dias depois, o Uber comprou 100 Vezels de uma importadora. E, ao longo dos próximos oito meses, a empresa adquiriu mais 1.065 unidades com a parte elétrica defeituosa.

Até janeiro deste ano, todos os Vezels do Uber estavam alugados para os motoristas. Foi quando um dos veículos começou a soltar fumaça, e depois fogo, do painel. A parte interna ficou derretida, e o incêndio criou um buraco no para-brisas. O motorista não ficou ferido.

Após o incidente, alguns gerentes do Uber em San Francisco pediram que os Vezels fossem retirados do serviço. Mas o plano teve oposição de Warren Tseng, gerente-geral da empresa em Singapura, dizendo que isto custaria cerca de US$ 1 milhão por semana. Outro gerente, Chan Park, acreditava que deixar os carros na estrada “parecia um risco baixo”.

A Honda estava sem estoque da peça para substituição. Então, o Uber disparou mensagens pedindo que os motoristas levassem os carros para oficinas de conserto, para desativar a parte defeituosa — algo que não era autorizado pela fabricante.

O Uber diz que aprendeu a lição após o incêndio do Vezel: os gerentes de Singapura passaram a acompanhar melhor o recall de veículos, procuraram especialistas em segurança automotiva, e pararam de comprar carros de importadoras não-autorizadas.

No final de fevereiro, a empresa já queria comemorar o fim da crise com um jantar. No entanto, um gerente informou aos colegas que mais de 65% dos Vezels com defeito ainda não haviam substituído as peças defeituosas. Agora, segundo o Uber, todos os veículos foram corrigidos.

Em comunicado, o Uber diz:

Assim que soubemos que um Honda Vezel da frota da Lion City Rental pegou fogo, tomamos ações rápidas para solucionar o problema, em colaboração com a Autoridade de Transportes Terrestres da Singapura e com especialistas técnicos.

Mas nós reconhecemos que poderíamos ter feito mais – e fizemos. Introduzimos protocolos robustos e contratamos três especialistas da área na LCR, cujo único trabalho é garantir que respondamos plenamente a recalls de segurança. Desde o início do ano, respondemos proativamente a seis recalls de veículos, e continuaremos a fazer isso para proteger a segurança de todos que usam o Uber.

Com informações: Wall Street Journal, CNN.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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