Estudo não encontra conexão forte entre radiação de celulares e câncer

Felipe Ventura
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• Atualizado há 1 semana
Ligação no celular

Em 1999, o órgão americano FDA (equivalente à Anvisa) solicitou estudos sobre os potenciais efeitos da radiação emitida pelos celulares. Na época, ainda sabíamos pouco se esses dispositivos poderiam afetar a saúde humana.

O NTP (Programa Nacional de Toxicologia) divulgou seus resultados preliminares este mês. Celulares causam câncer? “Vimos efeitos positivos e negativos” em ratos e camundongos, diz o pesquisador sênior John Bucher — mas nada definitivo, ou que possa ser aplicado diretamente para humanos.

Em dois estudos, ratos e camundongos foram expostos à radiação de radiofrequência de 10 em 10 minutos, 9 horas por dia, todo dia. Cada um deles passava pelo teste durante até dois anos — seu período normal de vida.

Os ratos foram expostos a radiação entre 1,5 e 6 watts por quilograma de peso corporal. Enquanto isso, os camundongos receberam de 2,5 a 10 W/kg. A quantidade máxima de exposição permitida para humanos é de 1,5 W/kg.

Bucher lembra que os roedores foram expostos a muito mais radiação do que humanos ao celular. “Ou seja, essas descobertas não devem ser diretamente extrapoladas para o uso humano de celulares”, diz ele em comunicado.

Resultados

Ratos machos expostos aos níveis mais altos de radiação tiveram maior incidência de tumores malignos no tecido que cobre os nervos no coração. Isso não se aplica para as fêmeas, nem para os camundongos.

Os ratos machos e fêmeas expostos à radiação tinham maior propensão à cardiomiopatia, doença que causa danos ao tecido cardíaco. No entanto, os camundongos não foram afetados.

Além disso, ratos e camundongos expostos à radiação desenvolveram mais tumores no cérebro, próstata, fígado, pâncreas, glândula pituitária e glândula adrenal. Os pesquisadores não conseguiram concluir se a radiação era responsável.

Os filhotes de ratos nasceram com peso mais baixo quando suas mães eram expostas a altos níveis de radiação durante a gravidez. No entanto, eles cresciam até o tamanho normal.

E curiosamente, os ratos expostos à radiação viviam mais tempo do que os outros no grupo de controle. Talvez a radiação reduza a inflamação, ou talvez seja apenas uma coincidência.

Foto por Daniel Reche/Pixabay

O que isso significa?

Bucher diz que “os estudos não vão muito mais longe do que tínhamos divulgado anteriormente, e eu não alterei a maneira como uso o celular”.

Otis Brawley, diretor médico e científico da American Cancer Society, parece concordar. “A evidência de uma associação entre celulares e câncer é fraca, e até agora, não vimos um risco maior de câncer nas pessoas”, diz ele em comunicado. “Mas se você está preocupado com esses dados sobre animais, use um fone de ouvido.”

Jeffrey Shuren, da FDA, diz em comunicado que “os limites atuais de segurança para a radiação celular permanecem aceitáveis ​​para proteger a saúde pública”. Ele acrescenta: “mesmo com o uso diário frequente pela grande maioria dos adultos, não vimos um aumento em tumores cerebrais”.

O relatório — que custou US$ 25 milhões para ser realizado — será analisado por cientistas de fora do NTP no final de março.

Vale lembrar que três grandes estudos epidemiológicos, envolvendo dezenas de milhares de usuários de celulares em 13 países, não encontraram nenhuma conexão entre o uso do celular e câncer. Eles foram publicados entre 2007 e 2013.

Com informações: LA Times, Washington Post.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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