8 momentos mais importantes de Mark Zuckerberg nos depoimentos ao Congresso americano

Zuckerberg comentou sobre versão paga, monopólio do Facebook e teoria da conspiração de coleta de dados através do microfone

Paulo Higa
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• Atualizado há 1 semana

Mark Zuckerberg foi ao Congresso americano nesta terça-feira (10) para prestar depoimento sobre as atividades do Facebook, especialmente com relação ao uso de dados e respeito à privacidade dos usuários, em meio ao escândalo Cambridge Analytica, que afetou milhões de pessoas no mundo, incluindo 443 mil no Brasil.

No Senado, a sessão durou cinco horas (!) e Zuckerberg respondeu às perguntas sobre uma versão da rede social sem propagandas, os concorrentes inexistentes e até sobre a velha teoria da conspiração de que o Facebook estaria monitorando o microfone do seu celular para direcionar anúncios.

Ele também prestou depoimento à Câmara dos Representantes nesta quarta-feira (11), sendo questionado a respeito dos shadow profiles, da baixa diversidade racial dentro da companhia e de uma possível mudança no modelo de negócios.

Estes foram os 8 momentos mais importantes (e de maior tensão) nos dois dias:

Uma versão paga do Facebook não está descartada

E se o Facebook fosse livre de anúncios? Vários senadores questionaram Zuckerberg sobre a possibilidade de existir uma versão paga da rede social, sem as propagandas direcionadas. O CEO fez questão de ressaltar que “sempre haverá uma versão gratuita” (perceba o meu destaque). Aliás, a frase “é gratuito e sempre será” aparece na página inicial do Facebook.

Mas isso não significa que nunca haverá uma versão paga. A primeira declaração de Zuckerberg, ao republicano Orrin Hatch, deixa em aberto um cenário em que um Facebook grátis coexista com um Facebook pago, mas como uma possibilidade distante. Depois, o tom mudou um pouco: ele disse ao senador Ron Johnson que “certamente considera ideias como essa”.

Você pagaria? Quanto?

Zuckerberg diz que o Facebook não é um monopólio (mas não consegue nomear um concorrente)

Quando perguntado sobre qual era o maior concorrente do Facebook, Zuckerberg não conseguiu responder de forma direta. Ele tentou classificar os competidores em três categorias, sendo que uma delas incluía “Google, Apple, Amazon e Microsoft”, já que essas companhias trabalham como o Facebook em algumas áreas. Mas ele logo foi interrompido (cada senador tinha apenas cinco minutos, afinal).

“Se eu comprar um Ford e ele não funcionar direito, e eu não gostar dele, posso comprar um Chevrolet. Se eu estiver decepcionado com o Facebook, qual é o produto equivalente no qual eu posso me cadastrar?”, perguntou o senador Lindsey Graham. Zuckerberg tentou insistir nas três categorias, mas foi interrompido novamente.

Então, veio a pergunta cabeluda: “você não acha que tem um monopólio?”. Mark negou. O público riu.

O Facebook monitora o microfone do celular para coletar dados sobre você?

Não.

Essa foi a resposta de Mark Zuckerberg para a pergunta do democrata Gary Peters. O CEO negou a teoria da conspiração, dizendo que o Facebook até grava o microfone quando você filma com a câmera do aplicativo, para garantir que haja som no vídeo (o que todos sabemos), mas que não ouve o que você está falando em outros momentos com o objetivo de direcionar anúncios.

Facebook - revenge

Os políticos americanos também não sabem como a internet funciona

Se você fica irritado com algumas decisões judiciais no Brasil, como quando o WhatsApp é bloqueado em território nacional por não fornecer mensagens trocadas entre usuários sob investigação (a criptografia de ponta a ponta, em teoria, impede que terceiros tenham acesso ao histórico de conversas), saiba que os políticos americanos não são nem um pouco melhores quando o assunto é tecnologia.

As primeiras perguntas dos senadores foram muito concentradas em saber como o Facebook (e a internet funciona). Uma das que me lembro claramente veio do republicano Orrin Hatch: “Como você espera manter seu negócio funcionando no longo prazo sem cobrar dos usuários?”. Houve uma pausa meio constrangedora antes de Zuckerberg responder: “nós exibimos anúncios”.

E uma provocação para a Apple

Isso não foi verbalmente discutido com os senadores, mas estava nas anotações de apoio de Zuckerberg, que foram flagradas por um fotógrafo da Associated Press. Na seção “Tim Cook sobre o modelo de negócios”, um dos tópicos era “Há várias histórias sobre apps usando dados da Apple de maneira indevida, mas nunca vi a Apple notificando os usuários”.

Colocando em contexto: logo que o escândalo Cambridge Analytica estourou, Tim Cook comentou que a Apple “poderia fazer toneladas de dinheiro se nossos consumidores fossem monetizados, se nossos consumidores fossem nosso produto”. E, quando o CEO da Apple foi perguntado sobre o que faria se estivesse na situação de Mark Zuckerberg, respondeu que “não estaria nessa situação”.

A resposta de Zuckerberg provavelmente tem a ver com ao menos dois casos: em 2015, hackers roubaram contas de 250 mil usuários que tinham jailbreak em seus iPhones; em 2017, a polícia chinesa prendeu 22 pessoas suspeitas de vender dados de usuários da Apple. E não podemos esquecer do caso do Uber, que quase foi removido da App Store por violar uma regra de privacidade (o assunto só veio a público anos depois).

Mark, seus dados foram coletados pela Cambridge Analytica?

No segundo dia de depoimento, desta vez à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, um dos momentos de tensão de Zuckerberg foi com a democrata Anna Eshoo. Ela não deu espaço para que o CEO elaborasse suas respostas como fez com outros senadores e representantes: exigia um “sim” ou “não”. Uma sequência de perguntas e respostas ocorreu em três minutos:

Eshoo: Você tem a responsabilidade moral de comandar uma plataforma que proteja a democracia? Sim ou não?
Zuckerberg: Sim.
Eshoo: Os usuários do Facebook que foram afetados por terceiros mal intencionados foram notificados?
Zuckerberg: Sim, começamos a notificá-los nesta semana, acho que na segunda-feira.
Eshoo: Os usuários podem optar se compartilharem seus dados com terceiros?
Zuckerberg: Sim, é assim que nossa plataforma funciona. Você precisa autorizar um app antes de usá-lo.
[…]
Eshoo: Os seus dados pessoais foram coletados por terceiros mal intencionados?
Zuckerberg: Sim.
Eshoo: Você está disposto a mudar seu modelo de negócios para proteger a privacidade dos usuários?
Zuckerberg: Fizemos e continuamos fazendo mudanças para reduzir a quantidade de dados… [interrompido]
Eshoo: Você está disposto a mudar seu modelo de negócios para proteger a privacidade dos usuários?
Zuckerberg: Não sei o que isso quer dizer.

A diversidade racial no Facebook

O democrata G.K. Butterfield fugiu do padrão: em vez de concentrar as perguntas no caso Cambridge Analytica, o congressista questionou a baixa diversidade social dentro da companhia. Segundo ele, o Facebook “aumentou a representatividade de negros de 2% para 3%”, o que “não bate com a definição de construir uma comunidade diversa racialmente”. Zuckerberg confirmou o problema, respondendo que o Facebook estava “focado” em resolvê-lo.

O Recode fez um levantamento da representatividade de negros no quadro de funcionários das maiores empresas de tecnologia. A Amazon e a Apple lideram o ranking, com 21% e 9%, respectivamente, mas vale lembrar que as duas empregam muitas pessoas fora da área “tradicional” de tecnologia, como em centros de distribuição e lojas de varejo.

A coleta de dados de pessoas que nem usam Facebook

Mark Zuckerberg negou conhecimento do que está sendo chamado de shadow profiles, um termo para descrever coleções de informações sobre pessoas que nem possuem cadastro na rede social.

O exemplo mais fácil de entender é o seu número de celular. Você pode até não ter fornecido seu telefone ao Facebook, mas, quando seus amigos autorizam o envio de toda a lista de contatos à rede social, o seu número está no meio do bolo. Com isso, o Facebook passa a ter informações de pessoas que nem sequer autorizaram a coleta. Certos dados também podem ser obtidos por meio de qualquer site que possua os botões do Facebook.

A democrata Debbie Dingell criticou duramente Mark por não estar familiarizado com algumas informações. “Como CEO, você não sabe de alguns fatos importantes. Não sabia o que era um shadow profile. Não sabia quantos apps tinha que auditar. Não sabia quantas outras empresas haviam vendido dados. Não sabe nem todos os tipos de informações que o Facebook coleta de seus usuários”.

Ela questionou Zuckerberg: “Eis o que eu sei: vocês rastreiam a internet, com um botão ou pixel em praticamente qualquer site, e as pessoas nem sabem que suas informações estão sendo coletadas. Não importa nem se elas têm conta no Facebook ou não. […] Quantos botões de curtir estão por aí em páginas que não são do Facebook?”. O executivo disse que “não sabia o número de cabeça”.

Com informações: CNBC, Engadget, Recode, TechCrunch (2), The Guardian, The Next Web, The Verge, Wall Street Journal.

Publicado originalmente às 10h37. Atualizado às 18h12 com as informações do segundo dia de depoimento.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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