Empresas chinesas usam capacete para ler as emoções dos funcionários

Não está claro se a tecnologia funciona de verdade, mas empresas relatam aumento expressivo no lucro

Jean Prado
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• Atualizado há 1 semana

Na China, Black Mirror se torna realidade: o país tem um sistema de crédito social que avalia os cidadãos com base em seus comportamentos, considerando até quais produtos eles compram pela internet. Chineses com baixa pontuação podem ser impedidos de viajar de avião ou trem e não podem experimentar tecnologias como uma máquina de venda de carros que oferece test drive gratuito.

Agora, a situação do povo chinês parece ficar ainda mais assustadora: segundo o South China Morning Post (SCMP), um jornal de Hong Kong, algumas empresas obrigam seus empregados a usar um capacete que é capaz de ler ondas cerebrais e monitorar suas emoções. Esses dados são usados pelas empresas para ajustar o ritmo da produção e, caso necessário, realocar ou demitir funcionários.

Um dos capacetes é desenvolvido pelo centro de pesquisa em neurologia Neuro Cap, financiado pelo governo chinês na Universidade de Ningbo. Ele é equipado com sensores que fazem uma espécie de eletroencefalograma e os sinais são posteriormente interpretados para detectar depressão, ansiedade, raiva e diversas outras emoções.

De acordo com o SCMP, o capacete é usado em larga escala em empresas do setor elétrico, exército, transporte público e algumas fábricas. Uma delas é a estatal State Grid Zhejiang Electric Power, de Hangzhou, que tem 40 mil funcionários e diz ter aumentado seu lucro em US$ 315 milhões graças a tecnologia.

Outra empresa, a Ningbo Shenyang Logistics, afirma ao SCMP que o capacete ajudou a reduzir significativamente o número de erros pelos funcionários, graças a um entendimento maior dos empregados pela empresa. Ela diz que a tecnologia fez seu lucro aumentar em US$ 22 milhões nos últimos dois anos.

Outro capacete, desenvolvido pela Deayea, empresa de tecnologia de Xangai, é usado em motoristas de trem para detectar fadiga ou perda de atenção; caso o motorista não esteja completamente atento, o capacete dispara um alarme para acordá-lo. A precisão da tecnologia é de mais de 90%, segundo o site da empresa.

Não sei se preciso falar como o uso dessa tecnologia é problemática: ler as emoções de uma pessoa é uma imensa invasão de privacidade e, apesar de supostamente ajudar as empresas a tomar melhores decisões e aumentar o lucro, abre margem para demissões motivadas pelo que os funcionários sentiam em um determinado momento.

Isso se a tecnologia de fato funciona: segundo o MIT Technology Review, um eletroencefalograma feito a partir da pele ainda traz resultados limitados e a relação desses resultados com a emoção humana ainda não é tão clara, de acordo com um estudo feito em conjunto pela Universidade de Tongji (Xangai) e pela Universidade de Brunel (Londres).

Com informações: South China Morning Post, MIT Technology Review.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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